Espíritas na política
Paulo Roberto Santos
É por demais conhecida a resistência dos espíritas em tratar de questões 
políticas dentro ou fora dos centros. A política, em virtude de Ter se convertido 
em campo fértil para a ação de aproveitadores e espertalhões de todo tipo, passou 
a causar desinteresse por parte daqueles que por uma razão ou outra não concordam 
com tal estado de coisas, embora na prática, nada façam para mudá-lo. 
Há muitos equívocos, ignorância e falso moralismo quando se fala em política. 
Confunde-se politiquice, politicagem e politicalha com a arte da política, a ciência 
política, voltada para a gestão do interesse coletivo dentro das normas e princípios 
éticos extremamente importantes para a vida de relação. 
   É verdade que a política partidária vai de mal a pior. Com o afastamento 
dos grandes estadistas da função pública, por velhice, morte, desinteresse descrença, 
etc., o campo fica livre para os corruptos e corruptores que se valem do poder e 
prestígio dados pela posição para favorecimentos pessoais, de amigos, empresas, 
etc. 
No entanto, existem (ainda bem) bons políticos dirigindo os interesses da nação. 
São poucos e para aumentar seu número deveríamos passar do estágio da indignação 
para o da ação. 
Para isso é preciso rever conceitos, concepções e idéias acerca da função pública 
e retomá-la como atividade saudável para saneá-la em seus procedimentos e objetivos.
Será que o espírita está impedido de exercer alguma função política? 
Não há em lugar algum da codificação alguma referência que descredencie a política 
como atividade humana necessária à vida social ou que a apresente como algo que 
degrade o ser humano, que o rebaixe de alguma forma. Existem, sim, textos vários 
que, se lidos de uma perspectiva política, podem fornecer preciosos subsídios para 
aqueles que desejem atuar formal ou informalmente na vida pública. A terceira parte 
de O Livro dos Espíritos, por exemplo, que trata das Leis Morais, vários textos 
inseridos em Obras Póstumas (como As Aristocracias) e mesmo em O Evangelho Segundo 
o Espiritismo. 
A verdade é que a vida social exige a convivência política, própria da “polis”, 
lugar onde vivem os cidadãos. E o Estado tornou-se uma necessidade, tanto quanto 
a estrutura burocrática e os partidos e respectivos representantes, apesar de todas 
as merecidas críticas. 
Será que o espírita está impedido de exercer alguma função política? Do ponto 
de vista doutrinário, certamente não. 
É uma atividade como outra qualquer, 
com seus tropeços e dificuldades, exigindo habilidades e vocação. A rejeição generalizada 
da política dentro do movimento espírita deve-se à nossa formação basicamente religiosa 
e mística, raiando o pieguismo e, principalmente, a preconceitos totalmente infundados. 
Poucos seriam capazes de justificar racionalmente, razoavelmente e doutrinariamente, 
porque não participar da política partidária, da defesa dos interesses da nação 
e do bem comum. Na verdade, é mais cômodo deixar que outros se ocupem dessas tarefas 
estressantes, comprometedoras e de alto risco. Dentro dessa lógica, como melhorar 
a vida social, se aqueles que poderiam levar conceitos e parâmetros novos para as 
deCisões nas Câmaras de Vereadores ou Assembléias Legislativas, se limitam a fazer 
coro com os críticos de plantão? 
A Doutrina Espírita tem muito a oferecer para a vida pública através de eventuais 
representantes, influenciando na elaboração de novas leis, inibindo a ação de 
aproveitadores através de posturas mais éticas, sem concessões perigosas, com discursos 
moralizadores (e não falso moralismo), que mostrem que - há alternativas, novas 
possibilidades e novos caminhos. 
Quem poderia, afinal, tornar-se um candidato às eleições e assumir um cargo de 
representatividade na esfera partidária? Qualquer espírita, homem ou mulher, com 
boa formação doutrinária, alguma experiência de vida, boa saúde física e emocional, 
bom nível de cultura geral, boas idéias e algum carisma, além de facilidade de expressar-se 
por escrito ou verbalmente. Convém lembrar que a função política tornou-se uma função 
técnica onde só a boa vontade não basta. Uma equipe de apoio, coragem para o exercício 
do mandato e, certamente, a Providência Divina não faltará com o restante. Cuidado 
especial deve ser tomado na escolha do partido político. Uma escolha errada pode 
por tudo a perder já que os partidos representam interesses de parcelas da população, 
de grupos sociais e até de setores empresariais. Deve-se buscar o partido que mais 
se aproxime, em sua plataforma de trabalho, do ideário espírita. Certamente não 
serão os partidos de direita, ligados a setores conservadores e retrógrados das 
oligarquias, urbana ou agrária. 
O assunto é polêmico sem dúvida, mas merece reflexões por parte daqueles de mente 
mais aberta e que já se cansaram de ver as coisas se repetindo. Gente mexendo em 
tudo para não mudar nada e a miséria se alastrando como uma praga. Há uma boa bibliografia 
espírita para subsidiar as reflexões dos interessados como: 
Filosofia Social Espírita (FEB) e O Plano Social de Deus (Edicel), ambos de Ney 
Lobo. Espiritismo e Formação Política, de nossa autoria (EME Ed.), Parapsicologia 
e Materialismo Histórico de Humberto Mariotti (Edicel), e os textos citados da Codificação, 
para mencionar apenas alguns. Espíritas na política sim. Por que não? 
REVISTA ESPÍRITA DE CAMPOS – NO. 51 jul/ago/set 99