Articuladores do movimento pelo "não" no
plebiscito prometem apelar para a "razão"
O pequeno aeroporto
de Redenção, no sudeste do Pará, teve um movimento atípico no dia 9 de junho.
Fazendeiros, comerciantes e empresários do setor imobiliário pousaram em
jatinhos e helicópteros para se reunir na cidade com o marqueteiro Duda
Mendonça. Na pauta do encontro, a conquista de corações e mentes para a causa
da criação do Estado de Carajás.
Proprietário de terras e criador de gado na região, Duda é
um entusiasta do desmembramento do Pará em três, com a criação de Carajás, no
sudeste, e de Tapajós, no oeste. Em dezembro, haverá um plebiscito sobre o
assunto, e o marqueteiro vai comandar a propaganda que os dois comitês
separatistas farão em rede estadual de rádio e televisão nos 40 dias anteriores
à consulta popular.
Duda dará o tom até da campanha no lado contrário à divisão.
É que os defensores da manutenção das atuais fronteiras do Pará falam
abertamente em imitar peças publicitárias que ele elaborou, nos anos 80, contra
a divisão da Bahia - então uma bandeira levantada por grupos do oeste do
Estado.
Na época, as emissoras baianas exibiram um vídeo em que a
cantora Maria Bethânia dizia que dividir a Bahia seria como "separar irmão
de irmão".
- É como separar a corda do pau, calar para sempre o
berimbau. É como separar Castro de Alves, Rui de Barbosa, Dorival de Caymmi,
Caetano de Veloso.
Oposição
Zenaldo Coutinho, secretário da Casa Civil do governo
paraense e um dos articuladores do movimento pelo "não" no
plebiscito, falou sobre as estratégias.
- Vamos mostrar que não se pode separar o tacacá do pato ao
tucupi, o Rio Amazonas do Rio Tocantins.
Os antisseparatistas também buscam se cercar de argumentos
econômicos, como contraponto ao tom emotivo que costuma marcar as campanhas de
Duda.
- Queremos levar o debate para o campo da razão.
Para Coutinho, os adversários se mostram "ora
apaixonados, ora oportunistas".
O secretário, que é deputado federal licenciado pelo PSDB,
faz uma distinção entre os grupos do oeste e do sudeste.
- Em Tapajós existe uma consciência emancipacionista que
remonta há muitos anos. A defesa de Carajás é feita sobretudo pelo grande
capital local e se vincula a um processo recente de ocupação territorial.
De fato, os nascidos no Pará são minoria entre os
articuladores do movimento pró-Carajás. Duda é baiano, e o deputado Giovanni
Queiroz (PDT-PA), principal articulador político da causa, é mineiro.