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Diferente do que prometeu, Obama abraça mais guerras |
Diferente do que prometeu, Obama abraça mais guerras
• 1ª PARTE: Perguntas que é preciso colocar em cada guerra.
27 vezes. Vinte e sete vezes os EUA bombardearam algum país,
desde 1945. E cada vez tem-nos afirmado que estes atos de guerra eram
"justos" e "humanitários". Hoje, dizem-nos que a guerra da
Líbia é diferente das precedentes. O mesmo que foi dito da anterior. E da
anterior. E de cada vez. Não estamos já na hora de pôr a preto e branco as
perguntas que é preciso colocar em cada guerra para não deixar-se manipular?
HÁ SEMPRE DINHEIRO PARA A GUERRA?
No país mais poderosos do globo, 45 milhões de pessoas vivem
na extrema pobreza. Nos EUA, escolas e serviços públicos estão ruindo porque o
Estado "não tem dinheiro". Na Europa, também acontece o mesmo,
"não há dinheiro" para as pensões ou para a promoção do emprego.
Porém, quando a cobiça dos banqueiros desencadeia a crise
financeira, então, em só uns dias, aparecem bilhões para os salvar. Isto
permitiu aos banqueiros dos EUA repartirem no ano passado US$ 140 bilhões de
lucros e bônus a seus acionistas e especuladores.
Também para a guerra parece fácil encontrar bilhões. Ora
bem, são nossos impostos que pagam estas armas e estas destruições. É razoável
converter em fumaça centenas de milhares de euros em cada míssil ou esbanjar
cinquenta mil euros por hora de um porta-aviões? Ou será porque a guerra é um
bom negócio para alguns? Ao mesmo tempo, uma criança morre de fome a cada cinco
segundos e o número de pobres não cessa de aumentar no nosso planeta, apesar de
tantas promessas.
Qual a diferença entre um líbio, um bareinita e um
palestino? Presidentes, ministros, generais, todos juram solenemente que seu
objetivo é unicamente salvar os líbios. Mas, ao mesmo tempo, o sultão do Barein
esmaga os manifestantes desarmados, graças aos dois mil soldados sauditas enviados
pelos EUA! Ao mesmo tempo, no Iêmen, as tropas do ditador Saleh, aliado dos
EUA, matam 52 manifestantes com suas metralhadoras. Estes fatos ninguém os põe
em dúvida, mas o ministro dos EUA para a guerra, Robert Gates, acabou de
declarar: "Não acho que seja o meu papel intervir nos assuntos internos de
Iêmen".(1)
Por que estes dois pesos e duas medidas? Por que Saleh
acolhe docilmente a 5ª Frota dos EUA e diz sim a todo o que Washington ordenar?
Por que o regime bárbaro da Arabia Saudita é cúmplice das multinacionais
petrolíferas? Será que existem "bons ditadores" e "maus
ditadores"? Como os EUA e a França podem pretender ser
"humanitários"? Quando Israel matou dois mil civis nos bombardeios
sobre Gaza, eles declararam uma zona de exclusão aérea? Não. Decretaram alguma
sanção? Nenhuma. Ainda pior, Solana, então responsável pelos Assuntos
Exteriores da UE declarou em Jerusalém: "Israel é um membro da UE sem ser
membro de suas instituições. Israel faz parte ativa de todos os programas de
pesquisa e de tecnologia da Europa dos 27". Acrescentando ainda:
"Nenhum país fora do continente tem o mesmo tipo de relacionamentos que
Israel com a União Européia". Neste ponto, Solana tem razão: A Europa e
seus fabricantes de armas colaboram estreitamente com Israel na fabricação de
'drones', mísseis e outros armamentos que semeiam a morte em Gaza.
Recordemos que Israel, que expulsou 700 mil palestinos das
suas aldeias, em 1948, se recusa a devolver-lhe seus direitos e continua
cometendo inumeráveis crimes de guerra. Sob esta ocupação, 20% da população
palestina atual está ou passou pelas prisões israelenses. Mulheres grávidas
foram obrigadas a darem à luz atadas ao leito e reenviadas imediatamente às
suas celas com os bebês. Esses crimes são cometidos com a cumplicidade dos EUA
e da UE.
A vida de um palestino ou de um barenita vale menos do que a
de um líbio? Há árabes "bons" e árabes "maus"?
PARA OS QUE AINDA ACREDITAM NA GUERRA HUMANITÁRIA...
Em um debate televisionado que tive com Louis Michel,
ex-ministro belga dos Assuntos Exteriores e Comissário Europeu para a
Cooperação e o Desenvolvimento, este me jurou, com a mão no peito, que esta
guerra tinha como objetivo "pôr de acordo as consciências da Europa".
Era apoiado por Isabelle Durant, líder dos Verdes belgas e europeus. Dessa
forma, os ecologistas ("peace and love") viraram belicistas!
O problema é que a cada vez mais nos falam de guerra
humanitária e que gente de esquerda como Durant se deixa enganar. Não fariam
melhor em ler o que pensam os verdadeiros líderes dos EUA em vez de olharem e
assistirem a TV? Escutem, por exemplo, a propósito dos bombardeios contra o
Iraque, o célebre Alan Greenspan, durante muito tempo diretor da Reserva
Federal dos EUA. Greenspan escreve em suas memórias: "Sinto-me triste
quando vejo que é politicamente incorreto reconhecer o que todo mundo sabe: a
guerra no Iraque foi exclusivamente pelo petróleo" (2). E acrescenta:
"Os oficiais da Casa Branca responderam-me: ‘pois, efetivamente,
infelizmente não podemos falar de petróleo’". (3)
A propósito dos bombardeios sobre a Jugoslávia escutem John
Norris, diretor de Comunicações de Strobe Talbot que, nesse então, era
vice-ministro dos EUA dos Assuntos Exteriores encarregado para os Bálcãs.
Norris escreve em suas memórias: "O que melhor explica a guerra da OTAN é
que a Jugoslávia se resistia às grandes tendências de reformas políticas e
econômicas (quer dizer: negava-se a abrir mão do socialismo), e esse não era
nosso compromisso com os albaneses do Kosovo". (4)
Escutem, a propósito dos bombardeios contra o Afeganistão, o
que dizia o antigo ministro de Assuntos Exteriores, Henri Kissinger: "Há
tendências, sustentadas pela China e pelo Japão, de criar uma zona de
livre-câmbio na Ásia. Um bloco asiático hostil, que combine as nações mais povoadas
do mundo com grandes recursos e alguns dos países industrializados mais
importantes, seria incompatível com o interesse nacional americano. Por estas
razões, a América deve manter a sua presença na Ásia..." (5)
O que vinha a confirmar a estratégia avançada por Zbigniew
Brzezinski, que foi responsável pela política exterior com Carter e é o
inspirador de Obama: "Eurasia (Europa+Ásia) é o tabuleiro sobre o qual se
desenvolve o combate pela primacia global. (?) A maneira como os EUA
"manejam" a Eurasia é de uma importância crucial. O maior continente
da superfície da terra é também seu eixo geopolítico. A potência que o
controlar, controlará de fato duas das três grandes regiões mais desenvolvidas
e mais produtivas: 75% da população mundial, a maior parte das riquezas
físicas, sob a forma de empresas ou de jazidas de matérias-primas, 60% do total
mundial". (6)
Nada aprendeu a esquerda das falsidades humanitárias
transmitidas pela mídia nas guerras precedentes? Quando o próprio Obama falou,
tampouco acreditaram nele? Neste mesmo 28 de março, Obama justificava assim a
guerra da Líbia: "Conscientes dos riscos e das despesas da atividade
militar, somos naturalmente reticentes a empregar a força para resolver os
numerosos desafios do mundo. Mas quando os nossos interesses e valores estão em
jogo, temos a responsabilidade de agir. Vistos os custos e riscos da
intervenção, temos que calcular, a cada vez, nossos interesses ante a
necessidade de uma ação. A América tem um grande interesse estratégico em
impedir que Kadafi derrote a oposição".
Não está claro? Então alguns vão e dizem: "Sim, é
verdade, os EUA não reagem se não virem nisso o seu interesse. Mas ao menos, já
que não pode intervir em todos os sítios, salvará àquela gente" Falso.
Vamos demonstrar que são unicamente seus interesses os que procura defender.
Não os valores. Em primeiro lugar, cada guerra dos EUA produz mais vítimas do
que a anterior (um milhão no Iraque, diretas ou indiretas). A intervenção na
Líbia, prepara-se para produzir mais...
QUEM SE NEGA A NEGOCIAR?
Desde o momento em que colocarem uma dúvida sobre a
oportunidade desta guerra contra a Líbia, imediatamente serão culpados:
"então recusam-se a salvar os líbios do massacre? Assunto mal proposto.
Suponhamos que todo o que se nos tem contado fosse verdade. Em primeiro lugar,
pode-se parar um massacre com outro massacre? Já sabemos que nossos exércitos
ao bombardearem vão matar muitos civis inocentes. Inclusive se, como a cada
guerra, os generais nos prometem que vai ser "limpa"; já estamos
habituados a essa propaganda.
Em segundo lugar, há um meio bem mais singelo e eficaz de
salvar vidas. Todos os países da América latina propuseram enviar imediatamente
uma mediação presidida por Lula. A Liga Árabe e a União Africana apoiavam esta
gestão e Kadafi tinha-a aceitado (propondo ele também que fossem enviados
observadores internacionais para verificar o cessar-fogo). Mas os insurgentes
líbios e os ocidentais recusaram esta mediação.
Por quê? "Porque Kadafi não é de fiar", dizem. É
possível. E os insurgentes e os seus protetores ocidentais são sempre de fiar?
A propósito dos EUA, convém recordar como se comportaram em todas as guerras
anteriores, cada vez que um cessar-fogo era possível. Em 1991, quando Bush pai
atacou o Iraque, porque este invadia o Kuweit, Saddam Hussein propôs se retirar
e que Israel se retirasse também dos territórios ilegalmente ocupados na
Palestina. Mas os EUA e os países europeus recusaram seis propostas de
negociação. (7)
Em 1999, quando Clinton bombardeou a Jugoslávia, Milosevic
aceitava as condições impostas em Rambouillet, mas os EUA e a OTAN
acrescentaram uma, intencionadamente inaceitável: a ocupação total da Sérvia.
Em 2001, quando Bush filho atacou o Afeganistão, os talibãs
propunham a entrega de Bin Laden a um tribunal internacional se eram apresentadas
provas do seu envolvimento, mas Bush rejeitou a negociação.
Em 2003, quando Bush filho atacou o Iraque, sob o pretexto
das armas de destruição em massa, Saddam Hussein propôs o envio de inspetores,
mas Bush o recusou porque ele sabia que os inspetores não iam encontrar nada.
Isto está confirmado na divulgação de um memorando de uma reunião entre o
governo britânico e os líderes dos serviços secretos britânicos, em julho de
2002: "os líderes britânicos esperavam que o ultimato fosse redigido em termos
inaceitáveis, de modo que Saddam Hussein o recusasse diretamente. Mas não
estavam certos de que isso iria funcionar.
Então tinham um plano B: que os aviões que patrulhavam a
"zona de exclusão aérea" lançassem muitíssimas mais bombas à espera
de uma reação que desse a desculpa para uma ampla campanha de bombardeios. (9)
Então, antes de afirmar que "nós" dizemos sempre a verdade e que
"eles" sempre mentem, asssim como que "nós" procuramos
sempre uma solução pacífica e "eles" não querem se comprometer, teria
que ser mais prudentes... Mais cedo ou mais tarde, a gente saberá o que se
passou com as negociações nos bastidores e constatará, mais uma vez, que foi
manipulada. Mas será muito tarde e os mortos já não os ressuscitaremos.
A LÍBIA É IGUAL QUE A TUNÍSIA OU O EGITO?
Em sua excelente entrevista publicada há alguns dias por
Investi'Action, Mohamed Hassan, professor de doutrina islâmica e especialista
do Oriente Médio, colocava a verdadeira questão: "Líbia: levante popular,
guerra civil ou agressão militar?" À luz de recentes investigações é
possível responder: as três coisas. Uma revolta espontânea rapidamente
recuperada e transformada em guerra civil (que já estava preparada), tudo
servindo de pretexto para uma agressão militar. A qual, também, estava preparada.
Nada em política cai do céu. Consigo explicar-me?
Na Tunísia e no Egito a revolta popular cresceu
progressivamente em umas semanas, organizando-se pouco a pouco e unificando-se
em reivindicações claras, o que permitiu derrotar os tiranos. Mas, quando
analisamos a sucessão ultrarrápida dos acontecimentos em Benghazi, a gente fica
intrigada. Em 15 de fevereiro houve manifestações de parentes de presos
políticos da revolta de 2006.
Manifestação duramente reprimida como foi sempre na Líbia e
nos demais países árabes. Dois dias escassos mais tarde, outra manifestação,
desta vez os manifestantes saem armados e passam diretamente a uma escalada
contra o regime de Kadafi. Em dois dias, incrivelmente, uma revolta popular se
converte em guerra civil. Totalmente espontânea?
Para saber isso, é preciso examinar o que se oculta abaixo
do impreciso vocábulo "oposição líbia". Em minha opinião, quatro
componentes com interesses muito diferentes : 1º Uma oposição democrática. 2º
Dirigentes de Kadafi "regressados" do oeste. 3º Clãs líbios
descontentes da partilha das riquezas. 4º Combatentes de tendência islãmica.
Quem compõe esta "oposição líbia"?
Em toda esta rede é importante sabermos de que estamos a
falar. E sobretudo, que fação é a aceite pelas grandes potências...
1º Oposição democrática. É legítimo ter reivindicações ante
o regime de Kadafi, tão ditatorial e corrupto como os outros regimes árabes. Um
povo tem o direito de querer substituir um regime autoritário por um sistema
mais democrático. No entanto, estas reivindicações estão até hoje pouco
organizadas e sem programa concreto. Temos, ainda, no estrangeiro, movimentos
revolucionários líbios, igualmente dispersos, mas todos opostos à ingerência
estrangeira. Por diversas razões que expomos mais adiante, não são estes
elementos democráticos os que têm muito que dizer hoje, sob a bandeira dos EUA
nem da França.
2º Dignatários "regressados". Em Bengazhi, um
"governo provisório" foi instaurado e está dirigido por Mustafá Abud
Jalil. Este homem era, até 21 de fevereiro, ministro da Justiça de Kadafi. Dois
meses antes, a Anistia Internacional tinha-o posto na lista dos mais horríveis
responsáveis por violações de direitos humanos do norte da África. É este
indivíduo o que, segundo as autoridades búlgaras, organizava as torturas de
enfermeiras búlgaras e do médico palestino detidos durante longo tempo pelo
regime.
Outro "homem forte" desta oposição é o general
Abdul Faah Yunis, ex-ministro do Interior de Kadafi e antes chefe da polícia
política. Compreende-se que Massimo Introvigne, representante da OSCE
(Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa) para a luta contra o
racismo, a xenofobia e a discriminação, estime que estes personagens "não
são os 'sinceros democratas' dos discursos de Obama, mas foram dos piores
instrumentos do regime de Kadafi, que aspiram a tirar o coronel para tomar seu
lugar".
3º Clãs descontentes. Como sublinhava Mohamed Hassan, a
estrutura da Líbia continua sendo tribal. Durante o período colonial, sob o
regime do rei Idriss, os clãs do Leste dominavam e aproveitavam-se das riquezas
petrolíferas. Após a revolução de 1969, Kadafi apoiou-se nas tribos do oeste e
o Leste viu-se desfavorecido. É lamentável; um poder democrático e justo deve
zelar por eliminar as discriminações entre as regiões. Pode-se perguntar se as
antigas potências coloniais não incitaram as tribos rebeldes para enfraquecer a
unidade do país. Não seria a primeira vez. Hoje, França e os EUA apostam nos
clãs do Leste para tomar o controle do país. Dividir para reinar, um velho dito
clássico do colonialismo.
4° Elementos da Al-Qaeda. Cabogramas difundidos pelo
Wikileaks advertem que o Leste da Líbia era, proporcionalmente, o primeiro
exportador no mundo de "combatentes mártires" no Iraque. Relatórios
do Pentágono descrevem um cenário "alarmante" acerca dos rebeldes
líbios de Bengazhi e Derna. Derna, uma cidade de escassos 80.000 habitantes,
seria a fonte principal de yihaidistas no Iraque. Da mesma forma, Vincent
Cannistrar, antigo chefe da CIA na Líbia, assinala entre os rebeldes muitos
"extremistas islâmicos capazes de criar problemas" e que "as
possibilidades [são] muito altas de que os indivíduos mais perigosos possam ter
uma influência, caso Kadafi cair".
Evidentemente tudo isto se escrevia quando Kadafi era ainda
um "amigo". Mas isto mostra a ausência total de princípios no chefe
dos EUA e dos seus aliados. Quando Kadafi reprimiu a revolta islamista de
Bengazhi, em 2006, fez isso com as armas e o apoio de Ocidente. Uma vez, somos
contra os combatentes do tipo Bin Laden, outra vez, utilizamo-los. Vamos lá ver
como.
Entre estas diversas "oposições" qual prevalecerá?
Pode ser este também um objetivo da intervenção militar de Washington, Paris e
Londres: tentar que "os bons" ganhem? Os bons do ponto de vista
deles, é claro. Mais tarde, vai utilizar-se a "ameaça islâmica" como
pretexto para se instalarem de forma permanente. Em qualquer caso uma coisa é
segura: o cenário libio é diferente dos cenários tunisino ou egípcio. Ali era
"um povo unido contra um tirano". Aqui estamos em uma guerra civil,
com um Kadafi que conta com o apoio de uma parte da população. E nesta guerra
civil o papel que jogaram os serviços secretos americanos e franceses já não é
tão secreto...
Qual foi o papel dos serviços secretos?
Na realidade, o assunto líbio não começou em fevereiro em
Benghazi, mas sim em Paris, em 21 de outubro de 2010. Segundo revelações do
jornalista Franco Bechis (Libero, 24 de março), nesse dia, os serviços secretos
franceses prepararam a revolta de Benghazi. Fizeram "voltar" (ou
talvez já anteriormente) Nuri Mesmari, chefe do protocolo de Kadafi,
praticamente seu braço direito. O único que entrava sem chamar na residência do
líder líbio. Em uma viagem a Paris com toda sua família para uma cirurgia,
Mesmari não se encontrou com nenhum médico, pelo conttrário, teve encontros com
vários servidores públicos dos serviços secretos franceses e com próximos
colaboradores de Sarkozy, segundo o boletim digital Magreb Confidential.
Em 16 de novembro, no hotel Concorde Lafayette, prepararia
uma imponente delegação que devia viajar dois dias mais tarde a Benghazi.
Oficialmente, tratava-se de responsáveis pelo ministério da Agricultura e de
líderes das firmas France Export Céréales, France Agrimer, Louis Dreyfus,
Glencore, Cargill e Conagra. Mas, segundo os serviços italianos, a delegação
incluía também vários militares franceses camuflados como homens de negócios.
Em Benghazi, encontraram-se com Abdallah Gehani, um coronel líbio ao que
Mesmari lhes tinha apresentado como disposto a desertar.
Em meados de dezembro, Kadafi, desconfiando, enviou um
emissário a Paris para tentar contactar com Mesmari. Mas este foi preso na
França. Outros líbios vão de visita a Paris no dia 23 de dezembro e são eles
que vão dirigir a revolta de Benghazi com as milícias do coronel Gehani. Ainda,
Mesmari revelou inúmeros segredos da defesa líbia. De tudo isto resulta que a
revolta no Leste não foi tão espontânea como nos foi dito. Mas isto não é tudo.
Não só foram os franceses?
Quem dirige atualmente as operações militares do
"Conselho Nacional Líbio" anti-Kadafi? Um homem justamente chegado
dos EUA, em 14 de março, segundo Al-Jazzira. Apresentado como uma das duas
"estrelas" da insurreição líbia, pelo jornal britânico de direita,
Dail Mail, Khalifa Hifter é um antigo coronel do exército líbio exilado nos
EUA. Foi um dos principais comandantes da Líbia até a desastrosa expedição ao
Chade, no final dos 80; emigrou imediatamente para os EUA e viveu os últimos
vinte anos na Virgínia. Sem nenhuma fonte de rendimentos conhecida, mas a muito
pouca distância dos escritórios... da CIA (10). O mundo é um muito pequeno.
Como é que um militar líbio de alta patente pode entrar com
toda a tranquilidade nos EUA, uns anos após o atentado terrorista de Lockerbie,
pelo qual a Líbia foi condenada, e viver durante vinte anos, tranquilamente, ao
lado da CIA? Por força teve que oferecer algo em troca.
Publicado em 2001, o livro Manipulations africaines
(Manipulações africanas) de Pierre Péan, traça as conexões de Hifter com a CIA
e a criação, com o apoio da mesma, da Frente Nacional de Libertação Líbia. A
única façanha da tal frente será a organização, em 2007, nos EUA, de um
"congresso nacional" financiado pelo National Endowment for
Democracy(11), tradicionalmente o mediador da CIA para manter lubrificadas as
organizações a serviço dos EUA.
Em março deste ano, em data não comunicada, o presidente
Obama assinou uma ordem secreta que autoriza a CIA a empreender operações na
Líbia, para derrocar Kadafi. O The Wall Street Journal, que informa disso, em
31 de março, acrescenta: "Os responsáveis pela CIA reconhecem ter estado
ativos na Líbia desde fazia várias semanas, tal como outros serviços secretos
ocidentais".
Tudo isto já não é muito secreto, circula pela Internet faz
algum tempo; o que é estranho é que a grande mídia não diga nem uma palavra. No
entanto, conhecem-se muitos exemplos de "combatentes da liberdade"
armados deste modo e financiados pela CIA. Por exemplo, nos anos 80, as
milícias terroristas da ‘contra’, organizadas por Reagan para desestabilizarem
a Nicarágua e derrocarem seu governo progressista. Nada se aprendeu da
História? Esta "Esquerda" européia que aplaude os bombardeios não
utiliza a Internet?
Terá que se estranhar de que os serviços secretos italianos
"delatem" assim as façanhas dos seus colegas franceses e que estes
"delatem" seus colegas americanos? Isso só é possível se acreditarmos
em histórias bonitas sobre a amizade entre "aliados ocidentais" Já
falaremos...