Apesar da reconhecida força da TV, a internet vai
impulsionar a discussão de temas locais nas eleições municipais de 2012,
avaliam políticos e marqueteiros que já começaram a estudar estratégias de
comunicação para as disputas das prefeituras. Sobretudo, nas grandes cidades, a
rede mundial de computadores terá relevância maior no pleito municipal do que
teve no nacional, realizado em 2010.
A nova classe média, que a cada dia acessa mais a
internet, é o principal público-alvo a ser conquistado.
Na última semana, a reportagem do iG conversou com políticos
e marqueteiros que começaram a rascunhar como pretendem conquistar o
eleitorado. Apesar da indefinição de nomes e coligações, especialistas em
comunicação política já avaliam cenários.
O carioca Felipe Soutello integrou a coordenação da equipe
comunicação da campanha de José Serra (PSDB) ao Palácio do Planalto no ano
passado. Era ele quem acompanhava o tucano em debates, por exemplo.
Segundo Soutello, a internet terá um papel mais importante
em 2012 do que teve em 2010. Ele avalia a rede mundial de computadores vai
servir como caixa de ressonância para discussão dos problemas cotidianos, como
trânsito e segurança. “Os norte-americanos começaram a estudar técnicas dos
anos 30, 40, quando a comunicação política era feita boca a boca”, disse
Soutello. “A internet tem um pouco disso. Tudo é direto. A mobilização é
maior”, completou.
Soutello citou, como exemplo recente, o episódio da estação
do metrô no bairro paulistano de Higienópolis. Em maio deste ano, moradores do
bairro fizeram lobby contra a obra. Alegaram que, com o metrô, “gente
diferenciada” – um eufemismo para pessoas de classes C e D – frequentaria a
região.
A resposta foi quase imediata. Centenas de pessoas de outras
regiões da cidade de São Paulo começaram a discutir o assunto pela internet e
resolveram organizar um protesto bem humorado, o chamado “churrasco da gente
diferenciada”.
Temas locais
Segundo deputado federal mais votado no Estado de São Paulo,
Gabriel Chalita é um dos políticos que saíram na frente para tentar se
viabilizar como candidato a prefeito da capital. Ele migrou do PSB para o PMDB,
partido que sozinho terá o segundo maior tempo de TV no horário eleitoral
gratuito.
Há cerca de dois meses, Chalita procurou o jornalista baiano
Marcelo Simões para contratá-lo como marqueteiro. Integrante da vitoriosa
campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, Simões não fechou contrato com o
deputado, mas trocou impressões sobre como Chalita poderia se posicionar melhor
nesta pré-campanha.
A dica principal foi para Chalita discutir mais os temas
diretamente ligados à vida do paulistano. No Twitter, o deputado começou a
publicar com mais frequência textos sobre o trânsito e segurança pública. Na
sexta-feira (22), Chalita escreveu: “Mais de 300 pessoas morreram em acidentes
de carro na madrugada de São Paulo em 2010”.
No mês passado, Chalita passou a integrar a Frente
Parlamentar Mista de Combate ao Bullying e Outras Formas de Violência. Apesar
das novas recomendações, Chalita não abandonou o uso de frases e citações.
“Incontinente é aquele que não planeja fazer o erro mas que não pensa nas
consequências”, escreveu no Twitter no mesmo dia 22 de julho.
Nova classe média
Um dos alvos das campanhas de 2012 também será a nova classe
média. A avaliação é do José Fernandes, que foi contratado pelo DEM para
redefinir uma estratégia de comunicação para o partido. “O partido precisa
lembrar a população que a nova classe média veio graças à estabilização da
moeda, que o DEM, quando era PFL, ajudou a promover”, disse. “Precisamos
resgatar bandeiras antigas do partido.”
Em 2010, Fernandes comandou a campanha de José Agripino
(DEM) para o Senado. Apesar de ter sido um líder de oposição ao governo Lula
nos últimos oito anos, ele conseguiu se reeleger. Hoje Agripino é presidente do
DEM. “No Rio Grande do Norte, Agripino é popular, resolveu muitos problemas
quando foi prefeito e governador nos anos 80 e 90”, disse. “Conseguimos
convencer o eleitor que, em Brasília, ele é importante para defender o Estado”,
completou.
Efeito Lula, Aécio…
Seja no governo ou na oposição não há quem negue a
importância de Lula na eleição da presidenta Dilma Rousseff em 2010. No
entanto, já se sabe que, apesar da disposição do ex-presidente, na eleição
municipal seu peso político como cabo eleitoral de luxo tende a ser menor do
que numa disputa nacional.
A maior prova disso foi a eleição de 2008, quando diversos
candidatos apostaram na força de Lula para vencer. Os casos clássicos são os da
Prefeitura de São Paulo, quando Gilberto Kassab (DEM) bateu a petista Marta
Suplicy (PT), e de Natal, quando Micarla Sousa (do PV, mas apoiada pelo DEM)
superou a também petista Fátima Bezerra.
Em
Belo Horizonte, por pouco não ocorreu algo parecido. O então
governador mineiro Aécio Neves (PSDB) e o então prefeito da capital Fernando
Pimentel (PT) se uniram para eleger Márcio Lacerda (PSB).
No início da campanha, o tucano e o petista apareciam mais
no programa eleitoral do que o socialista. Mesmo bem avaliados, Pimentel e
Aécio não conseguiram transferir todo seu prestígio a Lacerda para fazer com
que ele ganhasse no primeiro turno. Pior. O socialista quase foi derrotado por
Leonardo Quintão (PMDB).
No segundo turno, foi preciso uma alteração na estratégia de
campanha para que Lacerda conseguisse derrotar Quintão. O foco deixou de ser em
cima do apoio de Pimentel e Aécio. Investiu-se mais sobre quem era Lacerda e
nas deficiências de Quintão.
“Eu era a favor das mudanças ainda no primeiro turno, mas
fui voto vencido”, contou o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), que era um dos
coordenadores da campanha. “Não tem jeito. Toda campanha municipal precisa
mostrar quem tem mais condições de resolver os problemas da cidade.”