Demóstenes admite derrotas, mas vê fim da lua de mel da sigla com o governo
Renan Ramalho, do R7, em Brasília
Agência Brasil
Demóstenes: Nós vamos perder, enquanto o PMDB estiver aliado com o PT
Ciente
de que a oposição não tem força numérica para derrotar o Planalto no
Congresso, o senador Demóstenes Torres (GO), líder do DEM no Senado,
admite que a esperança de alguma vitória está no PMDB, o principal
aliado do governo.
Na Câmara, o partido votou unânime na aprovação do salário mínimo
de R$ 545, como queria o governo. Mas no Senado, cinco peemedebistas
“independentes”, ainda que poucos, já acenaram com a oposição, votando
a favor de R$ 560 ou com abstenções.
O senador diz não se importar se eventuais adesões do PMDB se darão
por causa das ideias ou por insatisfação de deputados e senadores,
quando não tiverem pedidos atendidos pelo Executivo. Prevê que a lua de
mel não passa do meio do ano.
Leia trechos da conversa do senador com o
R7.
R7 – Em número menor, a oposição caminha para derrotas consecutivas?
Demóstenes Torres - Já está claro que nós vamos
perder as votações, enquanto o PMDB estiver aliado com o PT. É uma
coisa que a gente não sabe se vai indefinidamente. O PMDB às vezes é
governo, às vezes não é. Enquanto isso não acontece, vamos perder.
Agora, temos que nos preparar para que as discussões sejam vigorosas.
Para mostrar ao eleitor que nós tínhamos razão. Perdemos não na
discussão, mas no voto.
R7 – Mas hoje o PMDB está na vice-presidência. Isso não diminui a chance de traições?
Demóstenes - Daqui a quatro, cinco, seis meses,
isso [traições] pode ser plenamente factível. Vamos ver como a
carruagem anda. É o fisiologismo. No dia em que o PMDB quiser derrotar
o governo, ele se aliará a nós, como aconteceu no passado. Isso é esse
jogo brutal entre eles.
R7 – Mas isso não seria ruim para a oposição, conseguir apoio só por causa de traição?
Demóstenes - Isso é ótimo para a oposição. Isso é
ótimo para o Brasil. Qualquer situação em que você derrotar o governo
numa matéria vexatória como essa [do salário mínimo]. Se o PMDB tivesse
aliado conosco para derrubar esse artigo do decreto, não seria ótimo
para o Brasil? Então, em muitas situações, poderemos talvez contar com
o PMDB. Evita que o rumo único definido pelo governo seja sempre
acatado pelo Parlamento.
R7 – Mesmo quando a definição não se dar por ideias, mas sim em troca de cargos e verbas?
Demóstenes - O que eu tenho com isso? O PMDB do
jeito que vai decidir, não interessa. Esse jogo não muito programático
acontece o tempo inteiro. Agora o que interessa para mim é o resultado.
Se for bom para o Brasil e o PMDB votar conosco numa ou outra matéria,
ótimo.
R7 - A caminho da oposição no Congresso é obstruir?
Demóstenes - Quando for possível, a obstrução pode
ser uma das estratégias. Eu acho que nós não devemos ter isso como
única arma. Tem que ser o preparo, a qualidade, o debate, o
enfrentamento sadio, a discussão e mesmo para mostrar que podemos ter
alternativa para o Brasil, ainda que não agora.