Lucas Figueiredo, em seu Blog
Numa eleição presidencial apertada, o colégio eleitoral
mineiro (10,7% do total nacional) pode muito bem definir a parada. O PT parece
não se importar com isso
Se algum dia Aécio Neves alcançar a tão almejada Presidência
da República, poderá dizer: “apesar de José Serra, mas com o apoio do PT,
cheguei até aqui”.
Não há quem não reconheça que Aécio é hoje o principal nome
da oposição para 2014, e não só para 2014. Talvez também para 2018, 2022, 2026…
Aécio tem cacife (domina o segundo colégio eleitoral do país), tem carisma, tem
habilidade política, tem apoio do empresariado, tem apoio da mídia, tem apoio
da Força Sindical e tem alianças consistentes fora do eixo PT-PSDB.
Aécio, portanto, é um forte adversário do projeto político
do PT, certo? Sim… Quer dizer, não… Quer dizer, talvez.
Nos últimos dez anos, a fim de alimentar a oposição interna
a José Serra no PSDB, o PT, de forma geral, salvo uma ou outra exceção em
Minas, evitou chatear Aécio Neves. Fez mais: abriu espaço para que o tucano
crescesse.
Faça um teste. Tente achar no Google uma crítica mais pesada
a Aécio Neves feita por um petista de projeção nacional. Não há. Lula? Dilma?
José Dirceu? Nenhum deles se lançou ao sagrado exercício político de
desconstruir o adversário (a recíproca, contudo, como também mostra o Google,
não é verdadeira).
O ápice da relação de boa vizinhança do PT com Aécio se deu
em 2008. Naquele ano, o Partido dos Trabalhadores, que administrava Belo Horizonte
havia 16 anos, decidiu quebrar a risca e não lançar candidato próprio à
prefeitura, uma das mais importantes e estratégicas do país. De bom grado, o PT
desceu da cadeira e passou a apoiar a chapa encabeçada por Márcio Lacerda
(PSB), secretário do governo Aécio e afilhado político do tucano. A aliança
ficaria conhecida como parceria Caracu (Aécio, é óbvio, entrou com a cara…).
Eleito, Márcio Lacerda fez o previsível. Nos últimos três
anos, trabalhou pelo projeto de Aécio e pelo enfraquecimento do PT mineiro. O
último ato dessa comédia se deu no início do mês, quando Lacerda, numa briga
pessoal, demitiu todos os funcionários do gabinete de seu vice, o petista
Roberto Carvalho.
Ano que vem, como todos sabem, tem eleição para prefeito.
Há, por certo, muitos petistas mineiros que desejam romper a exótica aliança
PSDB-PT em Belo Horizonte. A estratégia tem coerência, não se pode negar, já
que na prática a aliança só favoreceu Aécio e o PSDB, enquanto o PT diminuiu.
Além disso, em 2014, se o script político se confirmar, Aécio estará do outro
lado do ringue contra Dilma Rousseff.
Por que então, catzzo!, o PT deveria fazer o jogo de Aécio?
A vida tem seus mistérios.
Aqueles que, dentro do PT de Minas, trabalham pelo fim da
aliança esbarram na objeção daquele que, no PT, é o padrinho da parceria
Caracu, Fernando Pimentel.
Atual ministro do Desenvolvimento, Pimentel foi o último
prefeito petista de Belo Horizonte. Se depender dele, talvez seja também o
derradeiro. Pimentel joga pela reeleição de Márcio Lacerda. Se eleito, Lacerda
quiçá venha a preencher, daqui a três anos, o (ainda vago) posto de candidato
de Aécio ao governo de Minas. Seria certamente uma candidatura forte, talvez
forte o suficiente para mais uma vez barrar o sonho do PT, nunca realizado, de
conquistar o Palácio da Liberdade.
Ocurioso nessa história é que, ao patrocinar a reedição da
parceria Caracu, Pimentel joga contra si próprio, já que também é nome forte
para a eleição ao Governo de Minas em 2014.
Ontem, a contradição petista em Minas explodiu. Motivo:
enquanto as exceções de sempre no raquítico PT mineiro lutam para explorar as
fragilidades da herança deixada por Aécio no Estado (piso salarial mais baixo
do país para o professorado, dependência excessiva das commodities num momento
de crise mundial na economia, dívidas imensas que engessam a capacidade de
investimento, mordaça na imprensa…), a ala de Fernando Pimentel apostou mais
uma vez na parceria Caracu.
Aliado de Pimentel e presidente do PT de Minas, o deputado
federal Reginaldo Lopes se reuniu ontem publicamente com Antonio Anastasia
(PSDB), governador de Minas nascido de uma costela de Aécio, para discutir o
que Lopes apelidou de “agenda positiva” e “convergência programática”. O
resultado das confabulações deveria ter sido levado ainda hoje para Brasília.
Adivinhem para quem? Fernando Pimentel.
Dirão os envolvidos que a “convergência programática” e a
“agenda positiva” atende aos interesses de Minas. Na Calábria brasileira, desde
a Inconfidência, é sempre assim. À luz do dia, evoca-se aos brados o nome de
Minas. De madrugada, aos sussurros, costuram-se conspirações que atendem
unicamente a interesses privados.
A busca do presidente do PT de Minas por uma “convergência
programática” com o PSDB despertou a ira de petistas autênticos – chamemo-los
assim para efeito de diferenciação. Via Twitter, o deputado Rogério Correia,
autêntico que lidera o bloco anti-Aécio na Assembléia Legislativa do Estado,
batizado de Minas Sem Censura, chamou Reginaldo Lopes de “traidor” e de aliado
do PSDB e pediu que ele fosse afastado da presidência do PT mineiro. O protesto,
seguido por outros autênticos, dificilmente terá efeito prático, já que a ala
não tem força nas instâncias do PT nacional para peitar o ministro Fernando
Pimentel.
Por que Pimentel fortalece os adversários de seu partido na
capital mineira? Por que o PT nacional infla Aécio? Não há explicação lógica.
Lá no fundo, lá no fundo, bem lá no fundo… Não há nada lá no fundo. A parceria
Caracu é o que parece ser.
Minas tem 14,5 milhões de eleitores (10,7% do total
nacional). Numa eleição presidencial apertada, o colégio eleitoral mineiro pode
muito bem definir a parada. O PT parece não se importar com isso. Que assim
seja. Mas não custa lembrar o ditado espanhol: cría cuervos y te sacarán los
ojos.
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