segunda-feira, 14 de março de 2011

Kassab antecipa discussão da reforma política ao planejar criação de novo partido para sair do DEM

Prefeito de São Paulo aproveita brecha na lei da fidelidade partidária para criar o PDB

Daia Oliver/R7
Para especialista, qualquer político terá de deixar DEM para ter futuro
Enquanto as discussões sobre a reforma do sistema político não começam no Congresso, o comportamento de um peso-pesado da política nacional colocou em pauta um dos principais temas que serão debatidos quando esse dia chegar: o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, vai aproveitar uma brecha na lei da fidelidade partidária para criar um novo partido político com a intenção de evitar naufragar junto com sua atual legenda, o DEM, que minguou nas últimas eleições. Kassab começou suas negociações políticas já no ano passado. Primeiro, disseram que ele iria para o PMDB, depois para o PSB. O prefeito negou os boatos. O problema de sua transferência para um desses partidos é que ele poderia perder o mandato de prefeito porque a lei pune os infiéis e entrega o cargo ao partido.
O jeito encontrado foi aproveitar a janela na lei que permite que o político troque de sigla desde que ele saia para uma nova legenda. Nos bastidores, está tudo pronto para a fundação do PDB até agosto deste ano. Especula-se que a criação do partido seria uma estratégia para que, em seguida, ele se junte ao PSB do governador Eduardo Campos (PE).
Com a tática de fundar um partido dormitório de esquerda, Kassab evitaria os comentários causados por sua transferência do DEM (um partido de direita) para o PSB, sigla com um “S” de “socialista” no meio.
Quando as negociações de Kassab vazaram para a imprensa e o DEM percebeu que seria inútil segurá-lo, alguns caciques do partido começaram a dizer o que pensam sobre o colega. O deputado federal Onyx Lorenzoni (RS) foi a plenário no começo de março para chamar a nova sigla de Kassab de “Partido da Boquinha”. Em seguida, ACM Neto (BA) disse que criar um partido “para, logo depois, promover atos de fusão” com o PSB é um “liberou geral, um adesismo oportunista”.

A polêmica envolvendo Kassab é só uma amostra do que acontece nos bastidores do Congresso. Desde que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) publicou a tal resolução para diminuir a infidelidade partidária, em 2007, 53 parlamentares trocaram de sigla, mas só dois perderam o mandato. O exemplo que mais chama a atenção é o do PR, criado em 2007 pela fusão do PL com o Prona. O negócio deu tão certo que 31 parlamentares de 17 partidos migraram para o PR e só cinco saíram dele. E qual a legenda mais prejudicada? O DEM, que no mesmo período perdeu 18 cadeiras (14 na Câmara e quatro no Senado) e não ganhou nenhuma.
O diretor acadêmico da Fesp (Fundação Escola de Sociologia e Política), Aldo Fornazieri, diz que, fiel ao DEM ou não, Kassab está fazendo o que a legislação permite para sair de um partido que está afundando.
- O projeto original do DEM, que era representar uma direita mais ideológica, se inviabilizou. Há muitas divergências dentro do partido. É legítimo que as pessoas que queiram ter um futuro político queiram deixar o DEM.
A cientista política da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), Maria do Socorro, concorda e lembra que não há tanta incoerência no fato de Kassab acabar no PSB, esse sim, um partido que mudou.
- O PSB mudou seu conceito como partido. Ele está muito próximo do DEM. Como o Paulo Skaf [presidente da Fiesp - Federação das Industrias do Estado de São Paulo] um “representante do capital”, para usar um termo marxista, pode ter sido o candidato a governador do PSB no ano passado? Não é nada estranho a ida do grupo do Kassab para o PSB. Os políticos do PSB eleitos nos últimos anos representam cada vez menos os trabalhadores e cada vez mais o agronegócio, a indústria e o setor de serviços.

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