O governador Ricardo
Coutinho determinou à sua assessoria jurídica a realização de um estudo para
verificar a possibilidade legal de o Estado desapropriar a área em que está
localizada a casa onde morou o líder camponês João Pedro Teixeira, no povoado
Barra das Antas (região do município de Sapé/PB). O objetivo é viabilizar a
instalação do Memorial João Pedro Teixeira, órgão de grande importância para o
fortalecimento da luta pela reforma agrária no Estado da Paraíba.
“Se o Estado, legalmente, puder desapropriar esses quatro
hectares aqui, o Estado vai desapropriar, porque é muito importante para a
história da luta dos trabalhadores a constituição e fortalecimento desse
memorial, não só em função do passado, mas também em função do futuro”,
ressaltou Ricardo no final da tarde de sábado (2) no terraço da própria casa
onde o memorial deverá ser instalado. Ele informou também que no próximo dia 30
de abril, e atendendo um pedido seu, o Conselho do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (Iphaep) vai se reunir para discutir
exatamente o processo de tombamento da casa.
“Não se constrói o futuro esquecendo o passado. Há muitas
pessoas de gerações mais jovens que desconhecem todo o esforço de uma geração
anterior para poder construir as liberdades da democracia. Tem muita gente que
talvez não dê o devido respeito ao campo porque não perceba ou não saiba a
história que envolve tantas pessoas; a saga de tantas famílias, dentre as quais
a família de Elizabeth e João Pedro Teixeira, que sofreram, e muito, ao longo
desses anos todos, dentro do nosso país, o impacto de uma ditadura que as
forças repressivas do latifúndio fizeram”, ressaltou.
Falando para uma média de 300 camponeses que participaram
das homenagens à memória de João Pedro Teixeira, iniciada com uma caminhada
pelos três quilômetros que separam o local do assassinato do líder camponês, em
frente à Escola Municipal Cândida Emília (localizada no município de Sobrado,
às margens da rodovia PB-073 – “Rodovia João Pedro Teixeira”) e o povoado
“Barra de Antas”, em Sapé, o governador observou que pela primeira vez na sua
história contemporânea a Paraíba vive um momento em que a gestão estadual é
puxada por alguém que saiu das bases e da militância populares.
“É importante que essa gestão possa realmente, não só
lembrar, como também construir caminhos para que essa grande parte da população
faça um outro tipo de movimento; tenha um outro tipo de avanço. É por isso que
eu estou aqui, não só por ser militante, mas também por isso”, afirmou,
salientando que “o Estado tem interesse de estar presente no centro dos
impasses, das discussões da democracia real, porque é importante que ele
esteja”. Dentre essas discussões, o governador citou a questão do acesso à
terra, e comentou: “Os resultados da política de democratização do acesso à
terra não avançaram tanto quanto os movimentos avançaram ao longo dos últimos
20, 30 anos”.
Para Ricardo Coutinho, a democratização da terra não pode
existir simplesmente por si só, porque não é apenas a terra que vai fazer com
que as pessoas possam ter uma qualidade de vida melhor. É fundamental que essa
terra produza, e que haja escoamento da produção, e também que haja mercado
para consumir essa produção.
Homenagens – A presença do governador Ricardo Coutinho no
povoado Barra das Antas foi motivada pelas atividades de homenagem à memória do
líder camponês João Pedro Teixeira, que há 49 anos (no dia 2 de abril de 1962)
foi assassinado quando retornava para sua casa. O evento foi organizado pela
Ong Memorial das Ligas Camponesas, com o apoio de representantes de movimentos
sociais e da Prefeitura Municipal de Sapé, com o objetivo de resgatar a
história das Ligas Camponesas e instituir em Sapé o Memorial João Pedro
Teixeira.
“No momento da emboscada, ele conduzia nas mãos uma arma muito
especial: cadernos para o estudo dos seus filhos”, conforme lembrou o escritor,
advogado e ex-deputado Agassiz de Almeida (deputado constituinte de 1988),
responsável, à época do assassinato de João Pedro, quando exercia o mandato de
deputado estadual, pelo pedido de instalação de uma Comissão Parlamentar de
Inquérito para investigar, identificar e apontar os responsáveis pelo crime.
“No dia 2 de abril de 1962 um tiro ecoou nos canaviais e um
homem caiu morto. João Pedro Teixeira morreu, mas o seu sonho ficou e se
perpetuou pela história, não somente da Paraíba, mas de todo o País”, lembrou o
ex-deputado, que também teve seu mandato parlamentar cassado pela ditadura
militar, acrescentando que “o latifúndio venenoso e cruel arrancou vidas, mas
não matou o sonho e a coragem dos homens que lutaram e continuam lutando por
justiça social”.
Memória viva – Ao lado de Ricardo Coutinho e Agassiz de
Almeida, a viúva de João Pedro Teixeira, Elizabeth Teixeira (hoje aos 86 anos
de idade), falou para os presentes da história do seu companheiro e das
dificuldades que enfrentou após a sua morte. “João Pedro Teixeira foi
assassinado no dia 02 de abril de 1962, há 49 anos. Fiquei com 11 filhos, e
dois deles também foram assassinados. Quando aconteceu o golpe militar, passei
oito meses presa no quartel do Exército. Sofri muita pressão com policiais
dando muitos tiros em volta da minha casa, bem perto do meu ouvido; era um
sofrimento meu e de meus filhos”, observou, lembrando que a sua filha mais
velha, Marluce Teixeira, chegou a se suicidar no momento em que os policiais
chegaram para prender a sua mãe.
Lutando todos os dias no campo por uma reforma agrária; para
que o homem do campo tivesse condições de sobreviver, João Pedro Teixeira,
segundo Elizabeth, falava que iam tirar a vida dele, e que ela assumiria o seu
lugar na Liga Camponesa.
“Eu nunca tive resposta para dar a João Pedro. A vida do
homem do campo era uma vida sacrificada, triste. Muitos pais viam até seus
filhinhos morrerem de fome, por falta de salário para comprar a alimentação.
Era muito difícil a vida do homem do campo nas terras, nos engenhos. E quando
mataram João Pedro, eu assumi o comando da luta; mas fui presa e depois tive
que fugir para São Rafael, no Rio Grande do Norte, onde passei todo o período
da ditadura militar sem notícias dos meus filhos, que ficaram abandonados na
Fazenda Anta”, disse.
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