Um em cada quatro senadores responde a algum tipo de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF). Dos atuais 81 senadores, 22 aparecem como réus ou investigados em ações penais ou inquéritos em tramitação na mais alta corte do país. A maioria desses parlamentares com pendências na Justiça ocupa cargos de comando no Senado. Catorze deles presidem comissões permanentes, lideram bancadas ou têm assento no Conselho de Ética ou na Mesa Diretora da Casa. Alguns, até, conciliam essas funções. No total, os senadores acumulam 50 pendências judiciais: 36 inquéritos (investigações preliminares) e 14 ações penais (processos que podem resultar na condenação do acusado).
No momento, nove
senadores são réus no Supremo. Desses, oito ocupam cargos de destaque na Casa.
São eles: Cícero Lucena (PSDB-PB), Fernando Collor (PTB-AL), Jayme Campos
(DEM-MT), João Ribeiro (PR-TO), Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC), Roberto
Requião (PMDB-PR), Sérgio Petecão (PMN-AC) e Valdir Raupp (PMDB-RO). O nono
senador a figurar como réu é o ex-governador de Rondônia Ivo Cassol (PP), que
não exerce função de liderança nem comanda comissão. Diferentemente do que
ocorre com os inquéritos, fase preliminar da investigação, no caso das ações
penais a Justiça aceitou a denúncia feita pelo Ministério Público Federal por
considerar que há fortes indícios de que os acusados cometeram os crimes dos
quais são acusados.
São atribuídos aos
senadores cerca de 20 tipos de crimes. As acusações mais comuns são pelos
chamados crimes de opinião, como calúnia, injúria e difamação, que se repetem
dez vezes. As acusações mais graves estão presentes nas outras 40
investigações. Há seis denúncias por crimes contra a Lei de Licitações, cinco
por crime de responsabilidade e outras cinco por peculato (desvio de recursos
públicos). Quatro por crimes eleitorais, três por crime contra o sistema
financeiro, contra o meio ambiente, falsidade ideológica e improbidade
administrativa. Também existem acusações de trabalho escravo, formação de
quadrilha, lavagem de dinheiro, crime contra as finanças públicas, corrupção e
estelionato.
O partido com mais
senadores com pendências judiciais é o PMDB. Dos 19 peemedebistas, seis devem
algum tipo de explicação ao Supremo. Depois, vem o PSDB, que tem quatro de seus
12 representantes respondendo ao STF. Na sequência, aparece o Partido da
República, com três de seus cinco nomes sob investigação. PTB e PT têm dois
cada, enquanto DEM, PDT, PP, PSC e PMN, um.
A relação dos
parlamentares processados inclui representantes de 15 estados e do Distrito
Federal. O único estado com todos os seus senadores investigados no Supremo é a
de Rondônia. Além dos réus Cassol e Raupp, Acir Gurgacz (PDT-RO) também aguarda
decisão dos ministros. A situação do pedetista, porém, é a mais confortável entre
todos os seus colegas. Um parecer da Procuradoria Geral da República pede o
arquivamento do único inquérito a que ele responde. Há um ano, porém, o pedido
repousa nas gavetas do Supremo, impedindo o desfecho do caso, que precisa ser
analisado pelo plenário.
Líderes
Na relação dos
investigados pelo Supremo há três integrantes da Mesa Diretora: o
primeiro-secretário, Cícero Lucena, o segundo-secretário, João Ribeiro,
atualmente licenciado, e o primeiro suplente, Gilvam Borges (PMDB-AP). Sete são
líderes de bancada: o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR); o líder da
minoria (oposição), Mário Couto (PSDB-PA); o líder do PMDB, Renan Calheiros
(AL); o líder do PTB, Gim Argello (DF); o líder do PMN, Sérgio Petecão; o líder
do PSC, Eduardo Amorim (SE), e o líder do PDT, Acir Gurgacz.
Renan, Jucá, Gim,
Couto, Acir e Raupp (como suplente), assim como Jayme Campos, que tem dois
processos no STF, também fazem parte da nova composição do Conselho de Ética.
Cabe ao órgão apurar e julgar a conduta dos senadores e votar eventuais pedidos
de cassação de mandato por quebra de decoro parlamentar. Em 2007, o próprio
Renan enfrentou cinco processos no Conselho de Ética. O senador renunciou à
presidência da Casa, mas escapou da cassação. Uma das denúncias, a de que ele
teria tido despesas pessoais pagas por um lobista, resultou no Inquérito 2539,
ainda em tramitação no Supremo. O peemedebista também é investigado por
improbidade administrativa e tráfico de influência em outro procedimento, cujo
teor é mantido em sigilo.
Cinco senadores sob
investigação no Supremo presidem alguma comissão permanente no Senado. Jayme
Campos comanda a Comissão de Assuntos Sociais; Roberto Requião, a de Educação,
Cultura e Esporte; Fernando Collor responde pela Comissão de Relações
Exteriores e Defesa Nacional, Acir Gurgacz, pela de Agricultura e Reforma
Agrária, enquanto a Comissão de Serviços de Infraestrutura está a cargo da
senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO). Todos têm pelo menos uma pendência judicial no
Supremo.
Dos 22 senadores sob investigação, 14 passaram com sucesso
pelas urnas no ano passado: oito foram eleitos e seis, reeleitos, para oito
anos de mandato. Até o início de 2019, qualquer investigação contra eles só
poderá ocorrer com o aval do Supremo Tribunal Federal, ao qual cabe julgar os
processos contra parlamentares e outras autoridades federais por conta do
chamado foro privilegiado.
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