Segundo a denúncia, os médicos deixaram de solicitar,
durante consultas ginecológicas, o exame que pode ajudar a prevenir o câncer de
colo de útero porque elas não mantêm relações sexuais com homens.
Mulheres lésbicas são duplamente oprimidas e exploradas
A ONG Grupo Arco-Íris informou que constatou o problema na
rede de saúde pública e privada da capital fluminense. Na pesquisa qualitativa
Atendimento Ginecológico Diante de Práticas Lésbicas e Bissexuais, todas as 20
mulheres entrevistadas em 2010 relataram que depois de revelada sua orientação
sexual, os médicos não pediram o exame.
-Os profissionais não reconhecem vida sexual entre duas
mulheres, afirmou a coordenadora da pesquisa e uma das diretora da ONG,
Marcelle Esteves. “É assustador porque só se pode fazer a prevenção do vírus de
HPV – sexualmente transmissível – a partir do exame “, destacou a diretora,
lembrando que mesmo sem se relacionar com homens, as lésbicas fazem sexo.
O levantamento constatou também que entre as lésbicas, as
que têm identidade mais masculinizada são menos submetidas ao preventivo que as
demais. “Eles [os médicos] não pedem [o exame] e não sabem nos aconselhar sobre
o risco de transmissão de doenças sexualmente transmissíveis, como o HPV. É
sempre a mesma coisa”, reclamou a estudante Fabiana Ormonde.
Diante do problema, o Fórum de Mulheres Lésbicas e
Bissexuais do Estado do Rio quer que o foco das campanhas sobre DST e aids não
seja apenas os travestis e homossexuais. Para as ativistas, é preciso divulgar
mais informação sobre a transmissão de DST entre mulheres que fazem sexo com
mulheres e aprofundar projetos de sensibilização com as secretarias de Saúde.
O fórum também defende a distribuição de preservativos
específicos para sexo entre mulheres, mas que ainda não são produzidos em
escala no Brasil. “Em uma fábrica de São José de Campos (SP) desenvolvemos com
dinheiro de uma fundação internacional um protótipo com base em modelos dos
Estados Unidos e da Malásia. Vem sendo aprovado”, disse Marcelle.
Com a capacitação de servidores em clínicas de Saúde da
Família, a Coordenadoria da Diversidade Sexual da capital fluminense disse que
precisa primeiro assegurar o atendimento à população de gays, lésbicas e
travestis (LGBT) nos postos de saúde. “Nesse primeiro momento, não pensamos
nisso por uma questão de atribuições”, disse o
coordenador do programa, Sérgio Camargo.
A Secretaria Municipal de Saúde reafirma que não existe
motivo para os médicos não pedirem o preventivo às lésbicas. Gisele Israel, da
Gerência do Programa de Aids, atribui o problema ao preconceito e ao
desconhecimento. “Como os profissionais não passam por uma proposta de qualificação
com um olhar para o diferente, os serviços se constituem sem um olhar apurado”.
O superintendente de Vigilância Ambiental e Epidemiológica
da Secretaria estadual de Saúde, Alexandre Chieppe, confirma que mesmo com
capacitação não é fácil mudar a rotina do atendimento. “Capacitamos os gestores
municipais, a questão das lésbicas está inserida nos programas de saúde da
mulher, mas precisamos romper
paradigmas”.
Segundo os gestores ouvidos pela Agência Brasil, a produção
de preservativos para o sexo entre mulheres ainda é inviável porque o produto
não tem as certificações necessárias.
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