"Os palestinos têm direito de ter o Estado deles
exatamente como os israelenses têm direito a seu Estado", afirma líder
político israelense
Daniel Cohn-Bendit, líder do mov. estudantil francês |
Daniel Cohn-Bendit, líder do mov. estudantil francês
Dezenas de intelectuais de Israel participaram nesta
quinta-feira, em Tel Aviv, de uma manifestação pedindo o reconhecimento do
Estado Palestino e advertindo de que o
governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu "está levando os cidadãos
do país a uma catástrofe".
O grupo - composto por escritores, cientistas e
artistas - se reuniu em frente ao prédio
onde foi assinada, em 1948, a declaração da independência de Israel, na Avenida
Rotschild, no centro de Tel Aviv.
A escolha do local foi feita para salientar o fato de que o
Estado de Israel foi fundado, porém o Estado Palestino - que devia ser criado
após a decisão da ONU, de 1947, sobre a partilha da Palestina - não existe até
hoje.
O protesto ocorreu um dia antes do discurso do presidente
palestino, Mahmoud Abbas, na ONU, no qual deverá pedir o reconhecimento do
Estado Palestino nas fronteiras anteriores à guerra de 1967.
Os manifestantes divulgaram um abaixo-assinado apoiando o reconhecimento da Palestina e
criticaram Netanyahu. “Diante de nossos olhos estarrecidos ocorre uma cena
inacreditável – o premiê de Israel conduz os cidadãos para Massada",
afirmaram, em referência ao suicido coletivo cometido no ano de 73 por
guerreiros judeus que lutavam contra o Império Romano.
Maio de 68
Um dos participantes mais famosos no protesto era o líder do
movimento estudantil na França em 1968, Daniel Cohn-Bendit.
Em entrevista, ele elogiou a decisão de Abbas de recorrer à
ONU, pois com essa medida o presidente palestino "está obrigando a
comunidade internacional a se mexer".
"Depois do pedido de Abbas algo terá que acontecer e
tudo é possível, tanto o mal como para o bem. Pode haver violência, mas também
pode haver uma retomada das negociações", disse.
Cohn-Bendit disse ainda que "os palestinos têm direito
de ter o Estado deles exatamente como os israelenses têm direito a seu
Estado".
Na opinião do político, que hoje é membro do Parlamento
Europeu, não são os palestinos que apresentam um entrave às negociações de paz,
e sim o governo de Netanyahu.
Salvar vidas
Durante o protesto, o astrofisico da Universidade de Tel
Aviv, Elia Leibowitz, disse que resolveu participar "para poupar
vidas".
"Se você colocar uma pluma na nascente de um rio ela
vai acabar chegando até o mar. Não é mais simples colocar a pluma diretamente
no mar?", questionou Leibowitz, acrescentando que "o Estado Palestino
vai ser fundado, a única questão é quantos mortos ainda haverá até que isso
aconteça".
"Quando são seres humanos e não plumas que fluem no
rio, muitos morrem no caminho", disse.
Já o artista gráfico David Tartakover - ganhador do Prêmio
Israel, a láurea mais importante outorgada pelo Estado - se mostrou mais
pessimista.
"Estes deveriam ser dias de festa para nós os
israelenses, com a declaração do Estado Palestino, mas infelizmente, por causa
dos interesses eleitorais de Obama, estamos em uma situação sombria",
afirmou o artista, em referência ao discurso proferido pelo presidente
americano na ONU, em que se opôs à aceitação do pedido de reconhecimento ao
Estado Palestino.
O fotógrafo Alex Levac, também ganhador do Premio Israel, se
mostrou ainda mais pessimista.
"Este governo está nos levando para um desastre. Nasci
na Palestina, na época do Mandato Britânico, mas a sede territorial e
messiânica que vigora aqui mudou completamente a realidade. Acredito na
igualdade entre os seres humanos e fico indignado com o fato de que nosso
governo ignora a necessidade dos palestinos de ter um Estado
independente".
Tensões
Em seu discurso, o ex-diretor geral do ministério das
Relações Exteriores, Alon Liel, se dirigiu ao presidente Abbas.
"Vá em frente, Abu Mazen (apelido do presidente
palestino), não perca a esperança por causa do discurso eleitoreiro de Obama,
vá direto à Assembleia Geral da ONU e vocês, os palestinos, poderão obter 150
votos em seu favor".
"Não desista, Abu Mazen, a História vai julgar os
países que votarem contra o reconhecimento do Estado Palestino, inclusive
Israel", acrescentou Liel.
O governo israelense afirma que o reconhecimento do Estado
Palestino aumentaria as tensões regionais e não resolveria as questões
bilaterais pendentes.
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