Central realiza evento que discutirá os novos rumos da
estrutura sindical no País
Começa nesta semana a 13ª Plenária Nacional da CUT que
ocorrerá no município de Guarulhos, em São Paulo. O tema central o debate será
sobre Liberdade e Autonomia Sindical, princípios que nortearam a história de
fundação da CUT.
Em entrevista, o presidente nacional da CUT, Artur Henrique,
fala a respeito dos objetivos e o funcionamento da Plenária e também aborda os
novos desafios da luta sindical no Brasil atual.
Confira a íntegra:
Na próxima terça-feira tem início a 13ª Plenária Nacional da
CUT. Qual o objetivo do encontro?
Artur: A Plenária Nacional é um momento muito importante
para a CUT. Se não tivéssemos feito outras 12 Plenárias ao longo dos últimos
trinta anos, nossa Central não seria democrática como é. Numa
Plenária,reúnem-se dirigentes sindicais e militantes do Brasil inteiro, de
todas as categorias e de todos os ramos de atividade em que atuamos – comércio
e serviços, indústria, trabalhadores rurais, agricultura familiar,
trabalhadores do serviço público, trabalhadores do setor financeiro,
terceirizados, enfim, todos os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.
Nesse encontro, todas essas pessoas trazem informações e
experiências do seu dia-a-dia, e propõem formas de agir para mudar a realidade
do País, para fazer com que, através do trabalho de nossos sindicatos de base,
nas cidades e nos Estados, a gente consiga interferir nos destinos e nas
decisões com o objetivo de combater as injustiças e diminuir a pobreza no Brasil.
Os meios para conseguir isso são a geração de empregos formais, com carteira
assinada e os direitos todos, e forçar os capitalistas, os donos do dinheiro, a
ceder e repartir os ganhos que na verdade somos nós, os assalariados e todos
aqueles que vivem apenas de sua força de trabalho, que conseguem para o Brasil.
E como esses debates que vão acontecer na Plenária podem
ajudar os trabalhadores e trabalhadoras que estão na correria diária, e muitas
vezes nem têm tempo de saber o que a Plenária decidiu?
Num encontro como a Plenária, todos os participantes estão
na correria diária, quer dizer, são pessoas que foram eleitas por seus pares,
nos sindicatos de base, e conhecem a realidade de suas categorias porque
trabalham ou trabalharam nos mesmos lugares de quem os elegeu. Esses
brasileiros que foram escolhidos por suas categorias são eleitos como delegados
para defender as reivindicações do chão de fábrica, das repartições públicas,
dos hospitais, dos cartórios, das agências bancárias, das universidades, dos
jornais, enfim, de todos os locais de trabalho onde o movimento sindical
CUTista atua.
Mas não é só isso. Nossos sindicatos também conhecem a
realidade das pessoas que dependem do serviço que cada um de nós faz. Um
paciente num hospital, um cliente numa fila de banco, uma dona de casa que
precisa comprar verduras e legumes, uma passageira que precisa do transporte
público, uma jornalista que precisa trabalhar à vezes mais de 12 horas por dia
para conseguir fechar sua matéria, um cidadão que tem medo por falta de
segurança pública e precisa colocar um cadeado em seu portão, ou uma criança
que vai à escola para se alfabetizar e se formar como cidadão.
O que quero dizer é que a CUT e seus sindicatos não pensam
apenas no salário e nos direitos de seus representados, mas também na melhoria
dos serviços que todo mundo precisa. Aliás, todos são trabalhadores. Na
condição de consumidores, usuários do serviço público ou alunos, todos fazem
parte de uma mesma classe social. A CUT atua para melhorar a vida de todos.
Por causa disso a CUT também formula propostas amplas para
mudar as políticas públicas.
Ok, mas como isso chega até a realidade das pessoas?
Antes de mais nada, quero lembrar que muitas pessoas vão
saber, sim, o que acontece em nossa Plenária, porque os meios de comunicação de
nossos sindicatos vão transmitir as principais resoluções que vamos tomar, e
nossos militantes vão debatê-las com seus companheiros e companheiras nos
locais de trabalho.
Outra coisa importante: quando a Plenária reúne todas essas
experiências trazidas por quem está na base, a CUT formula formas de ação que
vão ter influência nas grandes decisões políticas e econômicas do Brasil.
Cite alguns exemplos.
Vamos falar de acontecimentos mais recentes. Em 2008, quando
a crise econômica internacional bateu às portas do Brasil, houve uma central
sindical que, em conjunto com uma das maiores entidades patronais do Brasil,
decidiu propor a redução dos salários dos brasileiros para, segundo essa
central, evitar o que previam como 15 milhões de demissões. Uma bobagem, um
peleguismo sem par. Por que aquela central tomou uma iniciativa desse tipo?
Porque não existe democracia por lá, não existe um debate como esse que vamos
fazer em nossa 13ª Plenária. A realidade do cotidiano de quem está na base não
é levada em conta lá como é aqui. Na CUT é diferente, aqui temos coerência. A
importância desse debate de nossas Plenárias é essa: tomamos decisões
conjuntas, bem fundamentadas, e isso orienta nossas ações, tanto na Direção
Nacional da CUT quanto nos sindicatos de base. Assim, temos firmeza de
princípios e não vacilamos na hora de irmos às ruas para defender o direito dos
trabalhadores e trabalhadoras.
Ainda sobre 2008: fomos coerentes, respeitamos o debate
interno e fomos contra o acordão proposto pelos pelegos e pelos empresários.
Com isso, ajudamos, e muito, o Brasil a escapar da crise e aumentar o número de
empregos, sem redução de salários.
Como agora, em 2011, quando denunciamos a manobra dos
empresários e de parte do governo que tentaram dizer que aumento de salário ia
fazer a inflação explodir. Se a CUT não está atenta, coesa, a mentira ia se
propagar.
Daqui pra frente, quais os maiores desafios da CUT?
O Brasil está muito bem economicamente, se comparado à
letargia dos países da Europa e os Estados Unidos. Precisamos dizer para a
sociedade que isso não é milagre, mas resultado da ação dos trabalhadores
organizados pelo movimento sindical, e sem dúvida nenhuma pela CUT,
principalmente.
Porém, a distribuição de renda não vai bem. Ainda temos
muitos pobres no Brasil – 17 milhões estão abaixo da linha da miséria. Muitos
que têm trabalho estão na informalidade. Os jovens, as mulheres, os negros, as
minorias, ainda são discriminados.
Nossa luta é para mudar isso.
Por isso, estamos priorizando a luta por reformas
estrutrantes.
Quais?
A reforma política, para acabar com essa história de
empresas e bancos financiarem campanhas eleitorais. Precisamos aprovar, entre
outros pontos, o financiamento público exclusivo, para deter a corrupção e
impedir que só aqueles que têm poder econômico sejam eleitos, e abrir mais
espaço para candidatos do povo.
A reforma tributária é outra. Queremos a mudança para que
quem ganha menos, os trabalhadores, passem a pagar menos impostos, e os ricos,
que hoje pagam menos que os assalariados, passem a pagar mais.
A CUT costuma dizer que é preciso também mudar a estrutura
sindical.
Sim, precisamos acabar com o imposto sindical, e
substituí-lo pela contribuição sobre a negociação coletiva, que só será cobrada
se os trabalhadores a aprovarem em assembleia democrática. Se fizermos isso,
vão desaparecer os sindicatos que não fazem nada, e vamos fortalecer aqueles
que de fato ajudam os trabalhadores e trabalhadoras a conquistar mais direitos
e a manter os direitos já existentes.
A CUT inclusive vai lançar nessa Plenária uma campanha em
defesa da liberdade e autonomia sindicais. Como será?
Essa campanha já existe desde 1983, quando a CUT foi criada.
Meu sindicato, o Sinergia-SP, foi o primeiro do Brasil a abrir mão do imposto,
a despeito da legislação vigente. Graças a isso, o sindicato cresceu e ficou
muito mais representativo.
Só que agora a CUT vai fazer uma campanha que vai incluir
comerciais de TV, anúncios de revista e jornal e novas ações na base. Eu espero
que isso saia logo das intenções e vire realidade, ou seja, que se apresentem
peças publicitárias e ações práticas na base de representação da CUT.
Para conhecer mais sobre as 12 Plenárias que a CUT já
realizou, clique aqui.
Site da CUT Nacional
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