sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Vereador do PT é assassinado após denunciar roubo de verba pública em gestões do DEM/PSD


José Roberto Paludo

Ato público em defesa da vida, da justiça e da democracia protesta contra brutal assassinato de Marcelino Chiarello, do PT, responsável por denunciar casos de desvio de recursos públicos. Ele recebia ameaças e temia por sua família


Quem matou Marcelino Chiarello?
Quem matou Marcelino Chiarello?
A região oeste de Santa Catarina é conhecida pelas lutas dos movimentos sociais, principalmente aqueles ligados as questões do campo. Esta região se inclui como um dos berços dos sem-terra, da organização das mulheres camponesas, do movimento dos pequenos agricultores e da agricultura familiar, dos indígenas e dos atingidos por barragens, dentre outros. Como se diz na academia é uma região com um capital social elevado.

Essa trajetória de lutas teve como principal articuladora a igreja católica, com base nas propostas da teologia da libertação desde a década de 1970 e como principal protagonista e animador o bispo Dom José Gomes, que chegou a ser ameaçado de morte, nos anos 80, pela sua coragem e determinação em defesa dos pobres.


Muitas lideranças de esquerda de Santa Catarina, e atuantes nacionalmente, se formaram nesse contexto, tanto no PT como nos movimentos sociais. A cidade de Chapecó é o principal centro da região, de onde se articulam essas lutas e lideranças.


O PT venceu as eleições para prefeito de Chapecó em 1996, com José Fritsch, que se reelegeu e depois foi candidato a governador do estado de Santa Catarina, em 2002, com a maior votação que o partido já atingiu para esse cargo. Depois ele foi ministro e agora é o presidente estadual do PT.

Claudio Vignatti foi vereador em Chapecó, se elegeu e reelegeu para deputado federal, foi presidente da Comissão de Finanças da Câmara em 2009 e no último pleito foi candidato ao senado, obtendo a maior votação que o PT já atingiu para o cargo no estado.

O atual presidente do PT de Chapecó, Pedro Uczai, é deputado federal, já foi vice-prefeito, prefeito, deputado estadual e presidente estadual do PT de Santa Catarina.

É nesse contexto que militava o jovem Marcelino Chiarello, atualmente com 42 anos de idade. Igual a tantas outras lideranças, Marcelino foi seminarista da diocese de Chapecó, portanto, bebeu do espírito de Dom José Gomes, depois passou a atuar como professor de filosofia na rede pública estadual e ocupou alguns cargos no governo petista do município, chegando a ser o coordenador do Orçamento Participativo do município no último período de governo.

Marcelino Chiarello foi candidato a vereador pela primeira vez em 2004, quando se elegeu como representante da base eleitoral de Claudio Vignatti, que havia sido eleito deputado federal e que naquele ano fora também candidato a prefeito da cidade.

O PT, que governara o município de Chapecó por oito anos, perdeu as eleições em 2004 para o candidato do PFL, que espalhou o ódio contra o PT na cidade.

Chiarello elegeu-se vereador pelo PT, que passou a ser oposição, juntamente com outro colega que mudou de partido em seguida, assim, ele manteve-se o único vereador do PT na cidade até 2008.

Nas eleições de 2008, Marcelino Chiarello se reelegeu vereador, juntamente com Luciane Carminatti. Esta concorreu para deputada estadual em 2010, se elegeu e foi substituída pela vereadora Dra. Angela Vitória, que junto com Marcelino formava a dupla de oposição ao prefeito de Chapecó, agora no PSD.

Em sete anos de mandato, como vereador de oposição, Marcelino Chiarello foi reconhecidamente o líder político de oposição que mais fez enfrentamentos e denúncias de corrupção e desvios de finalidades das ações públicas do governo municipal de Chapecó, primeiramente contra o Prefeito João Rodrigues (PFL-DEM), depois seu vice e atual Prefeito José Claudio Caramori (PSD).

Recentemente, com base nas denúncias de Chiarello, o Ministério Público afastou, pela segunda vez, do cargo de secretário regional da Prefeitura de Chapecó, o vereador do PSD Dalmir Pelicioli, comprovando desvio de recursos de subvenções sociais do governo do estado para entidades comunitárias do município; determinou a abertura de licitação para o transporte coletivo urbano (impedindo uma renovação automática da concessão por mais 20 anos); e denunciou irregularidades na construção de uma barragem na foz do Rio Chapecó.

No último dia 28 de novembro, segunda-feira, por volta de meio dia, sua esposa, ao chegar do trabalho encontrou-o enforcado na sua própria casa. Duas horas depois um dos delegados de polícia declarou que se tratava de assassinato.

A colega vereadora e o presidente do PT declararam que o companheiro Marcelino havia comentado que estava com medo, que queria renunciar ao mandato e que temia pela segurança de sua família, mas não deu tempo de acionar o pedido de proteção policial, pois, no primeiro dia da semana, por volta de 10h da manhã, enquanto trabalhava em sua sala de aula, lecionando a disciplina de filosofia, recebeu algumas chamadas no seu celular, saiu da escola e foi para casa, pediu ao filho de 10 anos sair do quarto e correr para a casa da avó. Uma hora mais tarde sua esposa e sogra o encontraram morto, espancado e pendurado pelo lado interno da janela do quarto do filho. A causa morte foi traumatismo crânio-encefálico e asfixia mecânica, segundo o médio legista Antonio Moraes, que assinou o laudo.

Um crime bárbaro, frio e premeditado, muito estranho nos tempo de democracia que se gostaria de viver, mas infelizmente o professor, vereador e companheiro Marcelino Chiarello deu sua vida pela defesa da ética na política, combatendo a corrupção, denunciando falcatruas e desvios de conduta pública. Marcelino foi um exemplo de ética e coragem.

O PT, o sindicato dos professores, a igreja católica, os estudantes e a comunidade regional e do estado de Santa Catarina, continuam muito chocados com mais essa afronta a vida humana, essa barbaridade e esse que se trata de um dos mais covardes e dos piores crimes políticos da história deste estado.

Agora, o que nos resta é exigir justiça, rápida e exemplar, porque a vida de Marcelino Chiarello não poderá ter sido em vão, sua voz não será calada, mas multiplicada em milhões de outras vozes e gritos por justiça, pela ética na política, pela honestidade e em defesa da vida. Pede-se a todas as pessoas que defendem a vida e os direitos humanos que ajude a denunciar, gritar e pressionar por justiça, aqui, neste estado, neste Brasil e no mundo inteiro.


No último dia 5 de dezembro aconteceu um ato público com milhares de pessoas de toda a região e do estado de Santa Catarina, em defesa da vida, da democracia e da justiça.

(Carta Maior)

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