José Roberto Paludo
Ato público em defesa da vida, da justiça e da democracia
protesta contra brutal assassinato de Marcelino Chiarello, do PT, responsável
por denunciar casos de desvio de recursos públicos. Ele recebia ameaças e temia
por sua família
Quem matou Marcelino Chiarello? |
Quem matou Marcelino Chiarello?
A região oeste de Santa Catarina é conhecida pelas lutas dos
movimentos sociais, principalmente aqueles ligados as questões do campo. Esta
região se inclui como um dos berços dos sem-terra, da organização das mulheres
camponesas, do movimento dos pequenos agricultores e da agricultura familiar,
dos indígenas e dos atingidos por barragens, dentre outros. Como se diz na
academia é uma região com um capital social elevado.
Essa trajetória de lutas teve como principal articuladora a
igreja católica, com base nas propostas da teologia da libertação desde a
década de 1970 e como principal protagonista e animador o bispo Dom José Gomes,
que chegou a ser ameaçado de morte, nos anos 80, pela sua coragem e
determinação em defesa dos pobres.
Muitas lideranças de esquerda de Santa Catarina, e atuantes
nacionalmente, se formaram nesse contexto, tanto no PT como nos movimentos
sociais. A cidade de Chapecó é o principal centro da região, de onde se
articulam essas lutas e lideranças.
O PT venceu as eleições para prefeito de Chapecó em 1996,
com José Fritsch, que se reelegeu e depois foi candidato a governador do estado
de Santa Catarina, em 2002, com a maior votação que o partido já atingiu para
esse cargo. Depois ele foi ministro e agora é o presidente estadual do PT.
Claudio Vignatti foi vereador em Chapecó, se elegeu e
reelegeu para deputado federal, foi presidente da Comissão de Finanças da
Câmara em 2009 e no último pleito foi candidato ao senado, obtendo a maior
votação que o PT já atingiu para o cargo no estado.
O atual presidente do PT de Chapecó, Pedro Uczai, é deputado
federal, já foi vice-prefeito, prefeito, deputado estadual e presidente
estadual do PT de Santa Catarina.
É nesse contexto que militava o jovem Marcelino Chiarello,
atualmente com 42 anos de idade. Igual a tantas outras lideranças, Marcelino
foi seminarista da diocese de Chapecó, portanto, bebeu do espírito de Dom José
Gomes, depois passou a atuar como professor de filosofia na rede pública
estadual e ocupou alguns cargos no governo petista do município, chegando a ser
o coordenador do Orçamento Participativo do município no último período de
governo.
Marcelino Chiarello foi candidato a vereador pela primeira
vez em 2004, quando se elegeu como representante da base eleitoral de Claudio
Vignatti, que havia sido eleito deputado federal e que naquele ano fora também
candidato a prefeito da cidade.
O PT, que governara o município de Chapecó por oito anos,
perdeu as eleições em 2004 para o candidato do PFL, que espalhou o ódio contra
o PT na cidade.
Chiarello elegeu-se vereador pelo PT, que passou a ser
oposição, juntamente com outro colega que mudou de partido em seguida, assim,
ele manteve-se o único vereador do PT na cidade até 2008.
Nas eleições de 2008, Marcelino Chiarello se reelegeu
vereador, juntamente com Luciane Carminatti. Esta concorreu para deputada
estadual em 2010, se elegeu e foi substituída pela vereadora Dra. Angela
Vitória, que junto com Marcelino formava a dupla de oposição ao prefeito de
Chapecó, agora no PSD.
Em sete anos de mandato, como vereador de oposição,
Marcelino Chiarello foi reconhecidamente o líder político de oposição que mais
fez enfrentamentos e denúncias de corrupção e desvios de finalidades das ações
públicas do governo municipal de Chapecó, primeiramente contra o Prefeito João
Rodrigues (PFL-DEM), depois seu vice e atual Prefeito José Claudio Caramori
(PSD).
Recentemente, com base nas denúncias de Chiarello, o
Ministério Público afastou, pela segunda vez, do cargo de secretário regional
da Prefeitura de Chapecó, o vereador do PSD Dalmir Pelicioli, comprovando
desvio de recursos de subvenções sociais do governo do estado para entidades
comunitárias do município; determinou a abertura de licitação para o transporte
coletivo urbano (impedindo uma renovação automática da concessão por mais 20
anos); e denunciou irregularidades na construção de uma barragem na foz do Rio
Chapecó.
No último dia 28 de novembro, segunda-feira, por volta de
meio dia, sua esposa, ao chegar do trabalho encontrou-o enforcado na sua
própria casa. Duas horas depois um dos delegados de polícia declarou que se
tratava de assassinato.
A colega vereadora e o presidente do PT declararam que o
companheiro Marcelino havia comentado que estava com medo, que queria renunciar
ao mandato e que temia pela segurança de sua família, mas não deu tempo de
acionar o pedido de proteção policial, pois, no primeiro dia da semana, por
volta de 10h da manhã, enquanto trabalhava em sua sala de aula, lecionando a
disciplina de filosofia, recebeu algumas chamadas no seu celular, saiu da
escola e foi para casa, pediu ao filho de 10 anos sair do quarto e correr para
a casa da avó. Uma hora mais tarde sua esposa e sogra o encontraram morto,
espancado e pendurado pelo lado interno da janela do quarto do filho. A causa
morte foi traumatismo crânio-encefálico e asfixia mecânica, segundo o médio
legista Antonio Moraes, que assinou o laudo.
Um crime bárbaro, frio e premeditado, muito estranho nos
tempo de democracia que se gostaria de viver, mas infelizmente o professor,
vereador e companheiro Marcelino Chiarello deu sua vida pela defesa da ética na
política, combatendo a corrupção, denunciando falcatruas e desvios de conduta
pública. Marcelino foi um exemplo de ética e coragem.
O PT, o sindicato dos professores, a igreja católica, os
estudantes e a comunidade regional e do estado de Santa Catarina, continuam
muito chocados com mais essa afronta a vida humana, essa barbaridade e esse que
se trata de um dos mais covardes e dos piores crimes políticos da história
deste estado.
Agora, o que nos resta é exigir justiça, rápida e exemplar,
porque a vida de Marcelino Chiarello não poderá ter sido em vão, sua voz não
será calada, mas multiplicada em milhões de outras vozes e gritos por justiça,
pela ética na política, pela honestidade e em defesa da vida. Pede-se a todas
as pessoas que defendem a vida e os direitos humanos que ajude a denunciar,
gritar e pressionar por justiça, aqui, neste estado, neste Brasil e no mundo
inteiro.
No último dia 5 de dezembro aconteceu um ato público com
milhares de pessoas de toda a região e do estado de Santa Catarina, em defesa
da vida, da democracia e da justiça.
(Carta Maior)
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