Um
emaranhado de disputas judiciais coloca em xeque a realização das
Marchas da Maconha pelo Brasil neste fim de semana e aprofunda a
polêmica em torno da legalização da droga. Ontem, a um dia do evento, a
Justiça de São Paulo proibiu a realização da manifestação na avenida
Paulista. As batalhas nos tribunais são travadas entre os Ministérios
Públicos (MPs) estaduais - que alegam apologia ao uso da droga - e os
organizadores dos eventos, que dizem ter o direito de se expressar. A
questão deve ser definida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que deve
julgar na próxima semana a constitucionalidade das proibições impostas
por esferas inferiores do judiciário. Estão programadas para sábado e
domingo cinco mobilizações nas cidades de Curitiba (PR), Jundiaí (SP),
Porto Alegre (RS) e Recife (PE).
Desde
junho de 2009, tramitam no STF duas ações contra a proibição das
marchas, ambas apresentadas pela ex-procuradora-geral da República
Deborah Duprat, no seu último dia no cargo. Deborah alegou que as
decisões estariam empregando equivocadamente o argumento de apologia de
crime. A assessoria do STF informou que as ações aguardam julgamento, e
que não há previsão para que isso aconteça. No entanto, os organizadores
da Marcha dizem que uma das ações deve ser votada na próxima semana.
Nas
capitais paulista e gaúcha, os manifestantes entraram com pedidos
prévios de habeas corpus para evitar que sejam presos durante os
eventos, a exemplo do que ocorreu no Rio de Janeiro e Minas Gerais. No
meio da semana, os MPs de São Paulo e do Paraná, pressionados por
parlamentares contrários à legalização, anunciavam que tomariam medidas
para proibindo as marchas.
Em
Porto Alegre, o promotor David Medina disse que não haveria restrição
desde que não fossem consumidas substâncias que contenham o principio
ativo da maconha. "Assim como existem passeatas a favor do aborto, as
pessoas podem se manifestar em favor da legalização da maconha".
Assim
como alguns defendem a legalização, outra vertente da sociedade também
se manifesta contra a legalização. Existem casos no Espírito Santo, onde
manifestantes contrários e favoráveis à legalização se encontraram, e
ao invés de entrar em conflito, discutiram ideias. No Recife, está
programada para ocorrer neste domingo, uma marcha pela família, em
resposta à marcha pró-descriminalização que ocorre no mesmo dia.
Em
São Paulo, os organizadores estimavam um público superior a 1 mil
pessoas. Com a decisão judicial, a marcha deve ser transformada em uma
manifestação em defesa de liberdade de expressão. De acordo com Julio
Delmanto, integrante do coletivo Desentorpecendo a Razão (Dar), as ações
judiciais contrárias à marcha são apresentadas na véspera do evento,
para evitar recursos.
"No
ano passado, ao invés de contestar a decisão da Justiça, que havia
autorizado a marcha, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime
Organizado (Gaeco) entrou com pedido em outra vara, sempre na véspera,
então já esperamos que eles venham com essa medida", afirmou Delmanto,
antes de saber da decisão judicial de sexta-feira.
Debate
Os
organizadores da marcha nacional consideram o senador Magno Malta
(PR-ES) como um dos mais ferrenhos adversários da legalização e
descriminalização da maconha. Nessa semana, o parlamentar entregou um
pedido de providências jurídicas ao presidente do Conselho Nacional de
Procuradores Gerais do Ministério Público dos Estados e da União,
Fernando Grella Vieira, para que proíba a marcha em todo o País.
A
Marcha é organizada por diversos grupos que defendem diferentes ideias
sobre a legalização, descriminalização, e uso medicinal da maconha,
segundo explica o integrante do coletivo Princípio Ativo, grupo que faz
parte da organização da Marcha de Porto Alegre, Rafael Gil Medeiros.
"O
debate sobre a legalização não é só ser contra ou a favor, temos que
discutir qual a legalização nos queremos, porque nem todas as políticas
de legalização nos interessam... a sociedade tem que se preocupar, não é
só quem usa, porque também devem ser debatidas questões sobe a saúde
publica, não precisa participar da marcha, mas as pessoas tem que
participar da discussão", diz Medeiros.
O
organizador da marcha paulista Julio Delmanto diz que o conceito de
apologia ao crime é deturpado pelas autoridades. "No ano passado, uma
pessoa foi presa com um cartaz que dizia: 'não compre, plante', e outra
quase foi detida porque trazia um cartaz com os dizeres: 'não uso, não
planto e não condeno', ou seja, não condenar um procedimento já é
considerado apologia", afirma Delmato.
O
Terra tentou conversar com o senador Magno Malta, mas sua assessoria de
imprensa informou que ele estava internado em Brasília, onde se
recuperava de um quadro de pneumonia. De acordo com a assessoria, a
posição do parlamentar contra a maconha está relacionada com ideias mais
amplas de combate ao crime organizado e reestruturação familiar. O
senador seria a favor do uso e de pesquisas do principio ativo da
maconha para fins medicinais, desde que o estudo seja feito por
instituições reconhecidas.
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sábado, 21 de maio de 2011
STF deve decidir futuro das Marchas da Maconha no Brasil
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