domingo, 19 de junho de 2011

Sem carta branca de Dilma, Ideli faz figuração


Nova articuladora do governo se limita, por enquanto, a um trabalho de relações públicas
Ideli Salvatti se elegeu senadora pela primeira vez em 2002 e agora assumiu a coordenação política do governo Dilma



Como ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti é ótima figurante. Pelo menos na sua primeira semana de trabalho na nova função, a ministra frustra a expectativa de quem esperava dela mais agilidade, diligência e alguma carta branca no processo de articulação política. Até aqui, Ideli se limitou ao trabalho de relações públicas de alto nível, e assim mesmo, de forma quase protocolar.

Se de um lado o governo ganhou com acachapante maioria duas votações importantes de medidas provisórias polêmicas no Congresso, por outro lado permaneceu no centro de intenso bombardeio político, motivado por novas dúvidas éticas: as preocupantes regras para contratações de obras da Copa, e a defesa do sigilo eterno sobre documentos oficiais. Nos dois casos, a defesa do governo não teve efeito, nem quando feita pela ministra nomeada para isso. Ideli deu declarações que não calaram as críticas nem à presidente nem ao governo. E sequer contiveram os próprios petistas, que, do Senado, entraram em nova rota de colisão com o Planalto ao defenderem a abertura de todos os papéis.

O resultado é que a própria Dilma, na sexta-feira (17), teve de sair em campo para, indiretamente, responder, por exemplo, ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que chamou de “absurda” a medida provisória que estabeleceu o sigilo para o orçamento das obras da Copa. Irritada, na mesma entrevista, a presidente também abordou a segunda polêmica. Lançou mão da proposta enviada por Lula ao Congresso para explicar que o sigilo sobre documentos de Estado dizia respeito apenas a certos papéis, cuja publicidade pode significar ameaça à soberania nacional, por exemplo, e não a registros de violação aos Direitos Humanos.

Diante das câmeras, Dilma leu parte do texto enviado pela Casa Civil, que ela comandava no governo de Lula. O gesto soou como uma espécie de resposta ao ex-presidente, que praticamente desautorizou o próprio texto ao se declarar, agora, favorável à abertura de todos os papéis.

A presidente tenta nova afirmação da própria autoridade, mas presta esclarecimentos outra vez tardios, depois de o estrago já feito, exatamente como no caso Palocci [ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci]. Sinal de que Dilma ou reluta em ouvir seus auxiliares mais tarimbados na política e na comunicação de governo, ou esses auxiliares, incluindo a nova ministra Ideli, não ousam dizer-lhe que é preciso reagir mais rapidamente.

Um auxiliar de Dilma, visivelmente agastado com as cobranças, diz que a presidente não vai comentar.

- A presidente não vai sair comentando tudo, alimentando esse tipo de noticiário, senão vira comentarista de telenovela.

É para isso que existe a ministra Ideli, para ir além da telenovela das verbas e dos cargos, sob os quais, aliás, já ficou claro que não tem carta branca para agir. Corre o risco de ganhar apelido pior que o do antecessor, Luiz Sérgio, batizado de “garçom”, por só anotar pedidos que eram levados a Palocci. Ao que tudo indica, na lanchonete do Planalto a vaga de garçom foi ocupada. Só mudou o destinatário dos pedidos.

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