Nova articuladora do governo se limita, por enquanto, a um
trabalho de relações públicas
Ideli Salvatti se elegeu senadora pela primeira vez em 2002
e agora assumiu a coordenação política do governo Dilma
Como ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti é
ótima figurante. Pelo menos na sua primeira semana de trabalho na nova função,
a ministra frustra a expectativa de quem esperava dela mais agilidade,
diligência e alguma carta branca no processo de articulação política. Até aqui,
Ideli se limitou ao trabalho de relações públicas de alto nível, e assim mesmo,
de forma quase protocolar.
Se de um lado o governo ganhou com acachapante maioria duas
votações importantes de medidas provisórias polêmicas no Congresso, por outro
lado permaneceu no centro de intenso bombardeio político, motivado por novas
dúvidas éticas: as preocupantes regras para contratações de obras da Copa, e a
defesa do sigilo eterno sobre documentos oficiais. Nos dois casos, a defesa do
governo não teve efeito, nem quando feita pela ministra nomeada para isso.
Ideli deu declarações que não calaram as críticas nem à presidente nem ao
governo. E sequer contiveram os próprios petistas, que, do Senado, entraram em
nova rota de colisão com o Planalto ao defenderem a abertura de todos os
papéis.
O resultado é que a própria Dilma, na sexta-feira (17), teve
de sair em campo para, indiretamente, responder, por exemplo, ao
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que chamou de “absurda” a medida
provisória que estabeleceu o sigilo para o orçamento das obras da Copa.
Irritada, na mesma entrevista, a presidente também abordou a segunda polêmica.
Lançou mão da proposta enviada por Lula ao Congresso para explicar que o sigilo
sobre documentos de Estado dizia respeito apenas a certos papéis, cuja
publicidade pode significar ameaça à soberania nacional, por exemplo, e não a
registros de violação aos Direitos Humanos.
Diante das câmeras, Dilma leu parte do texto enviado pela
Casa Civil, que ela comandava no governo de Lula. O gesto soou como uma espécie
de resposta ao ex-presidente, que praticamente desautorizou o próprio texto ao
se declarar, agora, favorável à abertura de todos os papéis.
A presidente tenta nova afirmação da própria autoridade, mas
presta esclarecimentos outra vez tardios, depois de o estrago já feito,
exatamente como no caso Palocci [ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci].
Sinal de que Dilma ou reluta em ouvir seus auxiliares mais tarimbados na
política e na comunicação de governo, ou esses auxiliares, incluindo a nova
ministra Ideli, não ousam dizer-lhe que é preciso reagir mais rapidamente.
Um auxiliar de Dilma, visivelmente agastado com as cobranças,
diz que a presidente não vai comentar.
- A presidente não vai sair comentando tudo, alimentando
esse tipo de noticiário, senão vira comentarista de telenovela.
É para isso que existe a ministra Ideli, para ir além da
telenovela das verbas e dos cargos, sob os quais, aliás, já ficou claro que não
tem carta branca para agir. Corre o risco de ganhar apelido pior que o do
antecessor, Luiz Sérgio, batizado de “garçom”, por só anotar pedidos que eram
levados a Palocci. Ao que tudo indica, na lanchonete do Planalto a vaga de
garçom foi ocupada. Só mudou o destinatário dos pedidos.
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