O maior compositor vivo do Brasil, em uma conversa franca,
como há anos não se via com o artista
Chico Buarque não gosta muito do assédio em torno de sua
vida pessoal. Ele estampa a capa da edição de cinco anos da revista Rolling
Stone Brasil, que chega às bancas na terça-feira (11). O cantor revela na
entrevista que acha “chata” a especulação sobre a vida alheia e ainda diz que
não é fácil ser “Chico Buarque”.
O cantor diz que deixou de fazer algumas coisas para fugir
da "fiscalização moralista da vida dos outros", mas que alguns
prazeres ele não vai abandonar. "Vou deixar de ir à praia, mas outras
coisas não vou deixar de fazer. O meu vinho vou tomar, o meu cigarro vou
fumar", garantiu Chico.
Constantemente alvo de assédio, principalmente pelo público
feminino, Chico Buarque contou que não é fácil ser ele mesmo. "É difícil
ser o Chico quando as pessoas pensam que você é o Chico. Você não anda pela rua
e pensa: 'Ah, eu sou o Chico Buarque'. Isso não passa pela cabeça do
artista", completou.
Além disso, Chico Buarque ainda falou sobre política. Na
entrevista, o artista afirma que "não me interessa repetir o que está nos
jornais nem dar entrevista falando mal do governo. Eu gostava de falar mal do
governo quando os jornais não o faziam". E completa: "Não vou a Brasília,
não vou ao palácio, não tenho atração alguma pelo poder".
Confira trechos da entrevista de Chico Buarque em primeira
mão:
-
Você é conhecido por ser metódico no trabalho. E na vida
cotidiana, também? Você se permite decisões espontâneas ou mantém o controle?
Eu não sabia que tinha fama de metódico. Na verdade, minha
vida e meu trabalho se confundem, nem eu mesmo sei direito quando estou
trabalhando ou não. Às vezes digo que estou muito atarefado, porque as pessoas
pensam que um artista está sempre disponível para ir à festa. Como o artista em
geral não tem horário, não dá expediente, costumam pensar que é vagabundo. Mas,
assim como a criança se concentra num brinquedo, tem dias em que preciso me
concentrar no trabalho, nem que seja compor um palíndromo ou inventar times de
futebol.
A expectativa a respeito de suas músicas é sempre alta. Essa
pressão chega até você?
Eu não posso me deixar levar por isso. E não adianta você
querer matar um leão por dia, porque as pessoas sempre vão dizer que o leão antigo
era melhor e mais forte do que o de hoje [risos]. Mas não é isso que vai me
estimular. Existe uma pressão interna, sim, uma necessidade e um prazer grande
em fazer uma música. Essa possibilidade de alternância é saudável, porque
ninguém está esperando um disco novo meu daqui a um ano: nem eu, nem ninguém.
Tem esse tempo todo agora, lento e de maturação. Escrever um livro
provavelmente – e isso não precisa ser tão mecânico – vai tomar um longo tempo.
Então, não acho que a gente deva se levar por esse tipo de pressão. Não tenho
contrato com gravadora, não tenho obrigação nenhuma e já é suficiente a pressão
que a gente exerce sobre si próprio.
A Ana de Hollanda foi criticada por ter uma postura em
relação aos direitos autorais que foi considerada um retrocesso em relação aos
ministros anteriores. Você tem opinião sobre isso?
Não tenho e me mantive alheio a esse assunto. Exatamente
porque desde o início tentou-se passar a impressão de que eu teria alguma
ingerência na nomeação da minha irmã como ministra. Para mim, o mais
confortável era que o Juca Ferreira continuasse sendo ministro. Até mesmo para
que as pessoas xingassem o Juca Ferreira e não a minha irmã nos jornais
[risos]. Quando entra esse assunto de direitos autorais, volta e meia sou
procurado, recebo e-mails e tal. Digo: “Prefiro não me interessar por isso”.
São tantos assuntos pelos quais a gente tem de se interessar, tantos jornais
que a gente tem de ler, tantas notícias que a gente tem que ficar por dentro,
que eu prefiro deixar esse de lado. E há colegas meus que estão brigando,
discutindo isso com muito mais conhecimento de causa do que eu. Prefiro não
opinar. Nem sei direito o que é o Creative Commons, o que isso deixa de ser. Eu
sei que o selo foi tirado do [site do] Ministério. O que isso representa, eu
não sei.
O amor está presente no novo disco. Mas teve uma frase, de
“Querido Diário”, que foi muito comentada: “amar uma mulher sem orifício”. Teve
muito debate, a crítica a usou contra você.
No “Querido Diário” está lá: um dia, segundo dia, terceiro
dia, quarto dia. Evidentemente que há algo de nonsense no sujeito que resolve,
num belo dia, ter uma religião e, andando na rua, imagina que vai sacrificar
uma ovelha. Já entrou nesse campo [risos]. Aí ele resolve ter uma adoração por
uma estátua, ou seja, amar uma mulher sem orifício.
Eu li em algum lugar que “amar uma mulher sem orifício”
seria amar uma mulher casta, uma mulher difícil. Aí, se não é burrice, já é
vontade de encher um pouquinho o saco do compositor.
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