Confira como a realidade de Cuba é bem diferente da que
desejam seus críticos, que se guiam pela ideologia, e não pelos fatos
Ignorando fatos concretos, os críticos de Cuba alardeiam que
a ilha vive na miséria. Mas o país tem elevado Índice de Desenvolvimento Humano
e excelentes indicadores sociais.
Cuba é um país inviável, no qual a população vive na miséria
e passa fome. As cidades cubanas estão caindo aos pedaços, está tudo sucateado.
Enfim, tudo em Cuba é ruim e o país é o mais claro exemplo do fracasso do
socialismo.
Essa é a imagem de Cuba passada aos brasileiros por jornalistas,
articulistas e curiosos que se baseiam em suas convicções ideológicas –
principalmente --, em fontes internas e externas contrárias ao governo cubano e
ao sistema socialista (sempre ouvidas) e em rápidas e superficiais viagens ao
país.
Mas então é preciso que esses analistas, que gostam tanto de
números, expliquem como é que Cuba está em 51º lugar, entre 187 países, no
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU. E como pode ser considerada pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) uma nação de
“desenvolvimento humano elevado”.
Não é muito coerente que os cubanos vivam na miséria e
esfomeados, como se diz, e o país tenha elevado Índice de Desenvolvimento
Humano, obtido a partir de indicadores nas áreas de saúde, educação e renda. E
esteja entre os 51 países com o maior índice, dos 187.
O mais alto IDH é o da Noruega (0,943), seguido de
Austrália, Holanda, Estados Unidos e Nova Zelândia. O primeiro grupo, de 47
países com “desenvolvimento humano muito elevado” termina com Argentina,
Croácia e Barbados, esse com índice 0,793. O da Argentina é 0,797. Nesse grupo,
só tem outro país latino-americano, o Chile, em 44º lugar com 0,805.
Entre os primeiros países de “desenvolvimento elevado”,
estão o Uruguai (em 48º com 0,783) e Cuba, em 51º e índice de 0,776. Nesse
grupo de 46 nações estão mais os seguintes latino-americanos: México (57º),
Panamá (58º), Costa Rica (69º), Venezuela (73º), Peru (80º), Equador (83º),
Brasil (84º) e Colômbia (87º). Os demais estão entre os que têm médio
desenvolvimento humano, com exceção do Haiti, que tem baixo IDH.
O que coloca Cuba em 51º lugar e no segundo grupo é o baixo
rendimento bruto per capita de sua população, que, ao contrário do que pensam
ou querem que pensemos os analistas neoliberais, não significa necessariamente
uma qualidade de vida muito menor. Em Cuba a renda é mesmo muito baixa, quase a
metade da brasileira, mas com pouca diferença entre o mais baixo e o mais alto
rendimento. Há um sistema de subsídios -- que está sendo revisto, mas com
compensações -- à alimentação, ao transporte e à cultura, e a saúde e a
educação são gratuitas em todos os níveis, do curativo à quimioterapia, da
creche ao doutorado.
O “IDH de não rendimento” de Cuba (ou seja, o IDH sem o
indicador de renda) é de 0,904, o que coloca o país em 25º lugar, ultrapassando
26 países que tem o IDH maior por causa da renda. O maior IDH de não rendimento
é o da Austrália (0,975), seguido de Nova Zelândia, Noruega, Coreia do Sul,
Holanda e Canadá. Os Estados Unidos estão em 13º lugar (0,931). Cuba está na
frente, dentre outros, do Reino Unido, da Grécia, de Portugal, de Israel e dos
riquíssimos Emirados Árabes Unidos, Brunei e Qatar, sendo que esse último que
tem rendimento bruto per capita 20 vezes maior do que a de Cuba.
Os números do PNUD mostram que não há muita diferença entre
os indicadores sociais dos países com mais alto IDH e os de Cuba. Ou seja, o
baixo rendimento per capita tem baixa influência sobre a educação e a saúde dos
cubanos.
Basta comparar alguns índices:
País
Esperança de vida Anos de
escolaridade Escolaridade
esperada
Noruega
81,1
12,6
17,3
Austrália
81,9 12,0
18,0
Holanda
80,7
11,6
16,8
EUA
78,5
12,4
16,0
N.Zelândia
80,7
12,5
18,0
Canadá
81,2 12,1
16,0
Cuba
79,1
9,9
17,5
A título de curiosidade, uma comparação entre Argentina,
Uruguai, Venezuela e Brasil:
Argentina
75,9
9,3
15,8
Uruguai
77,0
8,5
15,5
Venezuela
74,4
7,6
14,2
Brasil 73,5 7,2 13,8
Um indicador bem revelador é o índice de mortalidade
infantil da Organização Mundial de Saúde, com base em crianças de menos de um
ano de idade mortas entre mil. Dos países citados -- os de melhor IDH, de alta
renda e alguns sul-americanos --, a classificação é a seguinte:
Noruega: 2,8
Holanda: 3,6
Austrália: 4,1
Coreia do Sul: 4,2
Cuba: 4,6
Nova Zelândia: 4,8
Canadá: 5,2
Brunei: 5,8
Emirados Árabes Unidos: 6,1
Estados Unidos: 6,5
Qatar: 6,7
Chile: 7,7
Uruguai: 9,2
Argentina: 12,3
Venezuela: 13,7
Brasil: 17,3.
Pode-se gostar ou não gostar do sistema social que vigora em
Cuba há 52 anos, pode-se considerar que Raúl e Fidel Castro fazem as coisas
certas ou as coisas erradas. Cuba tem enormes problemas econômicos, sociais e
políticos e há muita coisa que precisa e pode ser mudada. A população tem
enormes carências, reconhecidas pelo governo cubano. Mas não há o caos que se
pinta e a fome que se alardeia, nem é o país à falência que desejam seus
críticos que se guiam pela ideologia, e não pelos fatos.
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