Em pesquisa realizada, maioria dos homofóbicos sentiram-se
excitados quando confrontados com cenas homossexuais. O mesmo não ocorreu com
os não-homofóbicos
Reação do deputado Jair Bolsonaro quandou soube da divulgação da pesquisa? |
Desde o fim do ano passado, em São Paulo, assistimos a uma
série de ataques brutais contra homossexuais ou homens que seriam homossexuais
aos olhos de seus agressores.
No fim de 2010, por decreto da Presidência da República, foi
estabelecida a finalidade do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e
Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais
(parte da Secretaria de Direitos Humanos).
Mais recentemente, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a
união entre pessoas do mesmo sexo como unidade familiar. Não me surpreende que
uma explosão de homofobia aconteça logo agora, pois, em geral, o ódio
discriminatório aumenta de maneira diretamente proporcional aos avanços da
tolerância.
Funciona assim: quanto mais sou forçado a aceitar o outro
como igual a mim, tanto mais, num âmago que mal reprimo, eu o odeio e quero
acabar com ele. Mas por que eu preferiria que o outro se mantivesse diferente
de mim? Por que não quero reconhecê-lo como igual? O termo de homofobia,
inventado no fim dos 1960, designa, mais que um preconceito, uma reação
emocional à presença de homossexuais (ou presumidos homossexuais), num leque
que vai do desconforto à ansiedade, ao medo e, por fim, à raiva e à agressão.
Numa entrevista na "Trip" de outubro
(http://migre.me/6563w), apresentei a explicação clássica da homofobia do ponto
de vista da psicanálise: "Quando as minhas reações são excessivas,
deslocadas e difíceis de serem justificadas é porque emanam de um conflito
interno. Por que afinal me incomodaria meu vizinho ser homossexual e beijar
outro homem na boca? De forma simples, o que acontece é: 'Estou com
dificuldades de conter a minha própria homossexualidade, então acho mais fácil
tentar reprimir a homossexualidade dos outros, ou seja, condená-la, persegui-la
e reprimi-la, se possível até fisicamente, porque isso me ajuda a conter a
minha'".
Exemplo: se eu sinto (e não quero sentir) atração por um
colega de classe do mesmo sexo, o jeito, para me convencer que não sinto
atração alguma, é chamar esse colega de veado, juntar um grupo que, como eu,
odeie homossexuais e esperar o colega na saída da escola para enchê-lo de
porradas.
Um amigo me perguntou se essa interpretação da homofobia não
era sobretudo uma forma de vingança: você gosta de agredir homossexuais pelas
ruas da cidade? Olhe o que isso significa: você mesmo é homossexual. Gostou? O
amigo continuou: "Isso não é bonito demais para ser verdade?".
Pois bem, anos atrás, pesquisadores da Universidade da
Georgia selecionaram 64 homens que (na escala Kinsey) se apresentavam como
sendo exclusivamente heterossexuais. Todos foram testados por uma entrevista
(clássica, o IHP) que estabelece o índice de homofobia, de 0 a 100. Com isso,
foram compostos dois grupos: os não homofóbicos (IHP de 0 a 50) e os
homofóbicos (IHP de 50 a 100).
Nota: chama-se pletismógrafo um instrumento com o qual se
registram as modificações de tamanho de uma parte do corpo. Pois bem, todos
vestiram um pletismógrafo peniano, graças ao qual qualquer ereção, até
incipiente e mínima, seria medida e registrada. Depois disso, todos os 64 foram
expostos a vídeos pornográficos de quatro minutos mostrando atividade sexual
consensual entre adultos heterossexuais, homossexuais masculinos e homossexuais
femininos.
À diferença do que aconteceu com o grupo de controle (ou
seja, com os não homofóbicos), a maioria dos homofóbicos teve tumescência e
ereção significativas diante dos vídeos de sexo entre homossexuais masculinos.
Confirmando a interpretação da psicologia dinâmica: indivíduos homofóbicos
demonstram excitação sexual diante de estímulos homossexuais.
Existe a possibilidade de que a excitação manifestada pelos
homofóbicos seja efeito, por exemplo, de sua vontade de quebrar a cabeça dos
protagonistas dos vídeos -existe, mas é remota (porque os 64 indivíduos da
amostra passaram todos por um questionário que mede a agressividade, e ninguém
se mostrou especialmente agressivo).
Para quem quiser conferir, a pesquisa, de Henry E. Adams e
outros, foi publicada no "Journal of Abnormal Psychology" (1996, vol.
105, n.3), com o título "Is Homophobia Associated with Homosexual
Arousal?" (a homofobia é associada à excitação homossexual?) e é acessível
na http://migre.me/656Z4
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