Deputado Protógenes Queiroz tenta criar CPI com foco nas
privatizações. Diante de fatos gravíssimos, líderes na Câmara e Senado mostram
disposição para guerra com PSDB. Serrista, Roberto Freire (PPS) exalta-se ao
ser questionado
Roberto Freire defende tucanos com unhas e dentes |
A Privataria Tucana, livro recém lançado com denúncia de
corrupção na venda de estatais de telefonia no governo Fernando Henrique e de
lavagem de dinheiro pela família do ex-ministro José Serra, motivou um pedido
de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados.
E, no Congresso, opôs os dois principais partidos envolvidos
e interessados, PT e PSDB. Enquanto líderes petistas defenderam investigar o
conteúdo do livro - embora com cautela, já que a cúpula do partido ainda busca
uma forma de lidar com o assunto -, tucanos classificaram-no como “requentado”
e de autor sem credibilidade.
A abertura de uma CPI foi solicitada pelo deputado
Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), delegado da Polícia Federal (PF). Às 18 horas
desta terça-feira (13), ele disse à reportagem que já havia coletado 27
assinaturas – precisa de ao menos 177. Por volta das 20h, em discurso na
tribuna da Câmara, afirmou que já teria mais de 100.
"Qual o foco do requerimento da CPI, deputado?" “O
foco são as privatizações. Elas prejudicaram o país e proporcionaram desvio de
dinheiro público”, afirmou.
Um dos signatários da CPI foi um deputado que também é
delegado da PF como Protógenes, mas filiado ao PSDB. “É um livro tão importante
quanto todos os outros, independentemente do partido, se é PSDB ou PT”, disse
Fernando Francischini.
O tucano elegeu-se pelo Paraná, estado por meio do qual
saíram para o exterior, de forma ilegal, bilhões em recursos que, segundo o
livro, teriam origem ilícita na “privataria”. O duto era o banco do estado do
Paraná, o Banestado. “Ali foi um descontrole total de um banco usado para
roubar dinheiro público. Foi o maior roubo de dinheiro público que eu já vi”,
afirmou Francischini que, como delegado da PF, acompanhou o caso.
O duto do Banestado foi objeto de uma CPI logo no início do
governo Lula, em 2003. A comissão revelou-se uma das fontes de informação mais
importantes para o autor do livro, o jornalista Amaury Ribeiro Jr.
Acusado no livro de ter participado de uma CPI de
faz-de-conta, resultante de um “acordão” entre tucanos e petistas para aliviar
nas investigações que afetariam os dois lados, o relator, deputado José Mentor
(PT-SP), disse que assinaria o pedido de CPI da Privataria. “Não houve acordão.
O que houve foi uma ação do PSDB para acabar logo com a CPI”, afirmou Mentor.
“O relatório final fala no Ricardo Sérgio, inclusive.”
Ricardo Sérgio de Oliveira foi arrecadador de fundos para
campanhas de FHC e José Serra e é um personagens mais importantes do livro.
PT e aliados
Nesta terça-feira (13), membros da executiva nacional do PT
reuniram-se para discutir como o partido vai lidar com o caso, mas os líderes
na Câmara e no Senado mostraram-se, ainda que com cautela, dispostos a partir
para a guerra contra o PSDB.
A reunião e a cautela se explicam porque o livro traz pelo
menos duas indigestões para os petistas. O presidente do PT, Rui Falcão,
processa Amaury Ribeiro Jr., por conta de revelações do jornalista sobre uma
briga interna na campanha presidencial de Dilma Rousseff no ano passado. Outra
indigestão seria o “acordão” na CPI do Banestado.
“É um livro muito interessante que recebeu um silêncio
sepulcral da mídia”, disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). “São
fatos gravíssimos, e já há um movimento no Ministério Público para reabrir
investigações.”
"E há condições de o PT ajudar a criar clima para que
as investigações sejam reabertas, senador?"
“Há.”
O posicionamento do líder na Câmara, Paulo Teixeira (SP),
foi parecido. “O livro traz informações consistentes sobre fatos gravíssimos,
que exigem investigação das instituições, do parlamento, do Ministério
Público.”
"Como o partido vai agir agora?"
“Vai analisar o livro para ver o que cabe. Mas o foco é a
roubalheira nas privatizações.”
Aliado do governo e um dos vice-presidentes do PDT, o deputado
Brizola Neto (RJ) contou que iria procurar o PT para saber qual é o limite de
atuação dos petistas. Ele defende a instalação de uma comissão parlamentar. “A
história começa lá atrás, mas a triangulação continua até hoje. É necessária
uma CPI”, afirmou.
Adversário do governo, mas à esquerda, o PSOL acha que no
mínimo o autor do livro, Amaury Ribeiro Jr., deveria ser chamado ao Congresso
para falar sobre o assunto, até para ajudar a formar convicção em torno de uma
CPI.
Em discurso na tribuna da Câmara, o líder do partido, Chico
Alencar (RJ), disse que o Brasil precisa “analisar profundamente o passado”. “O
livro comprova com farta documentação que [a privatização] foi um processo que
escondeu enriquecimento ilícito e financiamento de campanhas milionárias”,
disse.
Serristas
Já os tucanos e seus aliados optaram por minimizar a
denúncia e desqualificar o autor do livro.
“É café requentado da campanha”, disse o líder do bloco de
oposição ao governo na Câmara, Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG).
“Mas autor do livro diz que os elementos que ele traz agora
não eram conhecidos ainda, e inclusive há um pedido de CPI por causa disso.”
“Nós apoiamos investigar tudo. O que não dá é para ficar só
nesse assunto depois de tantos escândalos no governo.”
Para o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), “o
livro é material requentado de um indivíduo investigado por uma tramóia contra
nosso candidato [na eleição de 2010]”.
“Mas o ministro do Esporte não caiu por uma acusação de uma
pessoa que é ré num processo criminal?”
“Não, o ministro caiu por um conjunto de situações, a
denúncia do policial foi só a gota d'água”, disse Nogueira.
Um dos aliados mais próximos de Serra, mesmo sem ser do
PSDB, o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), cujo partido
apoiou o tucano na eleição do ano passado, exaltou-se quando perguntado sobre o
livro.
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