Passados 14 meses da derrota na eleição presidencial,
soube-se que o partido contou naquela campanha com uma generosidade milionária
de uma socialite brasiliense
Na expectativa de ser alvo de uma CPI na volta das férias
dos deputados, por causa do livro-denúncia A Privataria Tucana, o PSDB começa
2012 com outra notícia embaraçosa. Depois de 14 meses da derrota na eleição
presidencial, soube-se que o partido contou naquela campanha com uma
generosidade milionária de uma socialite brasiliense cujo marido foi flagrado em
vídeo pagando propina num esquema que derrubaria um governador do Distrito
Federal.
Ana Maria Baeta Valadares Gontijo fez sete doações entre
agosto e novembro de 2010 à direção nacional do PSDB, num total de R$ 8,250
milhões. Foi a maior contribuição de uma pessoa física naquela campanha, sendo
que a última, de R$ 350 mil, foi informada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
com data de 26 de novembro, quando a eleição já tinha terminado. A direção
tucana declarou ao TSE ter arrecadado R$ 100 milhões em 2010.
Em tese, os recursos – os R$ 8,2 milhões de Ana Maria e os
R$ 100 milhões no geral - podem ter sido distribuídos a todos os candidatos
tucanos e a aliados do PSDB pelo país. Na prestação de contas do candidato do
PSDB à Presidência, José Serra, entregue ao TSE, não há registro de
contribuições da socialite. A maior parte foi carimbada como sendo contribuição
do comitê nacional tucano.
O que há de potencial para aproximar Serra e Ana Maria é o
governador que acabou defenestrado do comando do Distrito Federal por causa do
“mensalão do DEM”. José Roberto Arruda, que era do DEM, perdeu o cargo depois
de um auxiliar, Durval Barbosa, ter passado à imprensa gravações em áudio e
vídeo que mostravam políticos recebendo e empresários entregando dinheiro. Um
desses empresários era José Roberto Gontijo, sócio de empreiteiras que fazem
negócios em Brasília.
A uma CPI que em 2010 investigou parte do esquema, Barbosa
disse que a gravação com Gontijo mostrava o empresário pagando propina para
políticos brasilienses em retribuição a uma empresa dele chamada Call
Tecnologia e Serviços ter ganho licitações.
A propina recebida pelos políticos servia para comprar apoio
ao então governador Arruda entre deputados do Distrito Federal, para custear a
boa vida deles e para financiar campanhas futuras.
A denúncia sobre o mensalão do DEM veio à tona em dezembro
de 2009. Naquele mesmo ano, Serra, que já era pré-candidato a suceder o
ex-presidente Lula, mantinha boas relações com Arruda, o único governador do
DEM na época e potencial candidato a vice.
Em um compromisso público em Brasília ao lado de Arruda
pouco antes do escândalo, Serra chegou a brincar: “Se eu definisse algo no
plano nacional e ele viesse junto, o lema seria 'vote num careca e leve dois'”.
O tucano acabou tendo mesmo um vice do DEM na disputa
presidencial, o então deputado federal Índio da Costa (RJ). Não há doações para
Índio ou o DEM em nome de Ana Maria na prestação de contas que ambos entregaram
ao TSE.
Nenhum tucano se manifestou sobre o assunto nesta semana.
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