O jornal de circulação nacional Valor Econômico publicou na
edição desta quinta, 09, falando sobre a possibilidade do Partido dos
Trabalhadores abrir mão de candidatura própria em capitais de vários estados,
entre elas, João Pessoa.
Leia a matéria:
"Os petistas poderão ceder a cabeça de chapa nas
capitais neste ano como jamais fizeram. Nas últimas quatro eleições, o PT
lançou entre 19 e 23 candidaturas próprias (média de 20,2). No momento, em
quase metade das 26 capitais o partido discute a possibilidade de coligação. Em
12 cidades, a legenda realizará o chamado encontro de tática eleitoral, passo
que antecede o apoio a candidatos de outras siglas.
Os motivos para a concessão são os mais variados: desde a
tendência ao governismo (como em Teresina), passando pela prioridade à eleição
em 2014 para governador (Curitiba), pelo cuidado para não abalar a aliança com
o PMDB (Rio de Janeiro) até a falta de musculatura do partido na região
(Manaus).
Secretário nacional de organização do PT, Paulo Frateschi
afirma que pelo menos nos dois primeiros casos a legenda tem condições de
lançar nome competitivo, mas está pendendo para a aliança.
Em Teresina, há a deputada estadual Rejane Dias, mulher do
senador e ex-governador Wellington Dias, mas a maioria do partido, que tem
cargos na prefeitura, prefere apoiar a reeleição de Elmano Férrer (PTB).
Em Curitiba, a situação chama mais atenção, pois o
beneficiado em questão é o ex-tucano e ex-deputado federal Gustavo Fruet (PDT),
que foi um dos algozes do PT no Congresso durante o escândalo do mensalão, em
2005. O apoio não agrada parte da direção nacional, mas a legenda no Estado é
controlada por dois ministros fortes do governo Dilma Rousseff: o casal Gleisi
Hoffmann (Casa Civil) e Paulo Bernardo (Comunicações). O PT paranaense tem como
opções os deputados federais Angelo Vanhoni e Dr. Rosinha para concorrer à
prefeitura de Curitiba. Porém, está preferindo ceder em troca de apoio à
candidatura de Gleisi ao governo estadual, em 2014. Se confirmado, será a
primeira vez, em oito eleições municipais desde 1985, que os petistas não
disputarão a capital com nome próprio.
O mesmo ineditismo ocorre no Rio de Janeiro. Neste caso, há
uma situação inversa. A seção regional do partido debate intensamente romper o
pacto, ao reclamar da falta de reciprocidade em cidades do interior, mas a
direção nacional é que faz questão da aliança, pois um conflito poderia
comprometer a relação do PMDB com o governo Dilma.
O cenário de muitas alianças nas quais não estará na cabeça
de chapa tem um efeito imediato: o PT dará prioridade absoluta para as vitórias
em São Paulo e Porto Alegre, únicas capitais de peso das regiões Sudeste e Sul
onde a legenda tende a concorrer.
Os petistas jogarão toda sua força para eleger o ex-ministro
da Educação, Fernando Haddad, em São Paulo. Capital mais cobiçada por ser a
maior cidade do país, a prefeitura paulistana receberá atenção máxima porque
também é estratégico para o PT conquistar ao menos uma capital na região
Sudeste.
É grande a probabilidade de o partido não ter candidatos no
Rio e em Belo Horizonte, onde faz parte do governo de Márcio Lacerda (PSB), que
tenta a reeleição. Em Vitória, a ex-ministra Iriny Lopes saiu da Secretaria de
Políticas para as Mulheres, mas pode perder sustentação e ter sua candidatura
"cristianizada", caso o ex-governador Paulo Hartung (PMDB) dispute. O
prefeito João Coser (PT), embora tenha dito que seguirá o partido, já deu
declarações favoráveis a Hartung, seu aliado.
No Sul, além do apoio a Fruet, em Curitiba, o partido tende
a sustentar a candidatura da deputada estadual Angela Albino (PCdoB) em
Florianópolis - nas sete eleições na capital, desde 1985, o PT só se coligou em
1992, única vez em que se saiu vitorioso.
Com isso, Porto Alegre concentrará as forças do partido na
região. O escolhido para concorrer na capital gaúcha é o deputado estadual Adão
Villaverde.
Em Manaus, o principal motivo para abdicar de candidatura
própria é a pouca força do partido no Estado. Isso tem levado o apoio a nomes
mais competitivos. Embora haja pré-candidatos da sigla, como o deputado federal
Francisco Praciano, o PT divide-se entre uma coligação com o senador Eduardo
Braga (PMDB), com o prefeito Amazonino Mendes (PDT) - com ambos, caso Braga
apoie Amazonino - ou ainda com um nome do governador, já que petistas fazem
parte da administração de Omar Aziz (PSD).
Semelhante situação de dependência ocorre em Estados onde o
PT tem o papel de coadjuvante, como a Paraíba.
"Se você tem duas ou três secretarias [no governo], é
muito difícil dizer: "Quero ter candidato". A resposta vai ser:
"Então teria que ter saído antes..."", diz Paulo Frateschi.
O secretário nacional de organização do PT afirma que a
largada para a eleição deste ano foi marcada por declarações de partidos da
base - como PSB, PMDB e PCdoB - nas quais eles anunciaram a intenção de lançar
o máximo de candidatos. Foi um recado ou pedido, considera Frateschi, como se
dissessem para o PT "pegar leve".
O aviso teria dado resultado e se reflete na maior
flexibilidade do partido em se ceder na composição das alianças. Ajuda a não
haver tanta pressão das siglas aliadas sobre a direção nacional para que haja
trocas, embora a previsão é que esses pedidos de mudança tendam a ocorrer.
"Queremos continuar a aliança, mas não podemos nos
enfraquecer. Nesta eleição, ele [o aliado] não está em condições de me cobrar
muito", diz Frateschi, referindo-se à baixa probabilidade de um atrito nas
capitais abalar a relação entre o governo federal e as legendas que lhe dão
sustentação.
"É mais fácil o Dnocs mexer [na relação com a base] do
que [a candidatura] do Chalita em São Paulo. O PMDB foi o primeiro a lançar,
tem direito", diz Frateschi.
No fim de janeiro, a exoneração do diretor-geral do
Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Elias Fernandes Neto,
causou reação exacerbada de seu padrinho, o líder do PMDB na Câmara, Henrique
Eduardo Alves (RN). Já o deputado federal Gabriel Chalita deve ser o candidato
dos pemedebistas na capital paulista, apesar da sondagem do PT e do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que ele desista em favor de uma
coligação na chapa de Fernando Haddad.
O PT evita divulgar a meta de quantos prefeitos pretende
eleger em outubro. Em 2008, foram 560, um aumento de 200% em relação aos 187
conquistados em 2000. A legenda tem crescido nas cidades pequenas e médias, mas
acompanha com maior atenção o grupo de 118 municípios com mais de 150 mil
eleitores (à exceção de Palmas, com 140.245), considerados centros formadores
de opinião, por terem emissoras de TV, campi universitários e serem origem de
grandes lideranças.
Nestes municípios, Frateschi afirma que a situação
(candidatura própria ou apoio) já está definida em 70. Em 24 haverá prévias ou
encontro de delegados (mecanismo de decisão com colegiado menor, para evitar a
prévia) e em outros 24 os diretórios realizarão os encontros de tática.
As capitais que estão com maior dificuldade em decidir são
Belo Horizonte (onde o vice-prefeito do PT, Roberto Carvalho, rompeu e quer
concorrer contra a reeleição de Márcio Lacerda), Recife (há um racha interno
entre criador e criatura, o ex-prefeito João Paulo e o atual, João da Costa) e
Fortaleza (que tem seis pré-candidatos e reflete a falta de um nome forte que
fosse preparado em oito anos pela prefeita Luizianne Lins)."
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