A ex-ministra Marina Silva tem discutido abertamente com
interlocutores a possibilidade de sair do PV (Partido Verde) em breve. A
ex-presidenciável estuda deixar a legenda para ter liberdade de apoiar
candidatos de agremiações diversas em 2012 e, mais para frente, montar um novo
partido, batizado temporariamente de Partido da Causa Ecológica.
O ex-deputado Fábio Feldman, ligado a Marina e candidato ao
governo paulista em 2010 pelo PV, será um dos primeiros a deixar a legenda,
antes mesmo da ex-ministra, segundo informa a coluna da jornalista Mônica
Bergamo, publicada na edição deste sábado do diário conservador paulistano
Folha de S.Paulo.
Em março, um expressivo grupo de parlamentares e líderes do
PV, entre eles Marina Silva, decidiu pôr na rua um movimento destinado a
mobilizar as bases verdes para cobrar a democratização do partido. Eles
cobravam a realização de uma convenção nacional, no prazo de seis meses, e a
convocação de eleições diretas para a escolha de novos diretores.
A médio prazo, se a ação não funcionasse, o grupo não
descartava a hipótese de o movimento, denominado Transição Democrática,
desaguar no surgimento de um novo partido. Sete deputados federais – o
equivalente à metade da bancada verde – estão entre os descontentes.
Na Transição Democrática, Marina, terceira colocada na
eleição presidencial do ano passado, com quase 20 milhões de votos, tem como
missão, sobretudo, a organização de debates políticos com militantes verdes e
simpatizantes por todo o país. Quando Marina se desligou do PT e desembarcou
com seu grupo no PV, em 2009, ficou combinado que seriam realizadas no primeiro
semestre deste ano a convenção nacional e a eleição interna, precedidas de
debates sobre democracia.
Em março, porém, a direção nacional se reuniu na sede do
partido, na região do Lago Sul, em Brasília, e votou pelo adiamento da
convenção até 2012. Com isso, o atual presidente, deputado José Luiz Penna
(SP), ganhou mais um ano de mandato – o 13º. Como ninguém acredita que se
promovam convenções e eleições partidárias no ano que vem, por causa das
eleições municipais, é provável que Penna atravesse o 14º aniversário no poder.
O adiamento irritou Marina Silva. Segundo ela, os 19,6
milhões de votos dados em 2010 à sua candidatura devem ser vistos como um
legado político, tanto no plano nacional quanto no plano interno, provocando a
democratização na estrutura do PV. No mesmo diapasão, a deputada Aspasia
Camargo (RJ) diz que seu partido vive um momento crítico, no qual deve fazer a
transição democrática e incorporar “o legado da campanha”.
O adiamento também deu origem a uma crise que expõe as
fissuras internas do PV e a resistência de alguns setores à presença de Marina
no partido. Para esses grupos, mais próximos do presidente Penna, considerado
um dirigente pragmático, a candidatura de Marina não trouxe tantos benefícios
ao PV como se imaginava. Citam o fato de a bancada federal continuar com as
mesmas 14 cadeiras que tinha antes.
“Quem diz isso não vê como a base do partido foi ampliada na
eleição passada”, observou Brusadin. “O que há por trás desses comentários é o
medo de que a renovação dos quadros leve o PV a um papel de protagonista, em
vez de se resignar ao papel de coadjuvante, servindo aos partidos maiores.”
Na própria Transição Democrática existem diferenças. Enquanto
o deputado Alfredo Sirkis (RJ), do núcleo de assessores mais próximos de
Marina, eleva o tom e fala abertamente na possibilidade de novo partido, o
amigo e ex-deputado Fernando Gabeira baixa o volume. Ele acredita que o debate
produzirá um acordo interno.
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