Crise na pasta ameaça a aliança entre PT e PC do B, partido
do ministro. Para acalmar o aliado, o Planalto já prometeu: comunistas seguirão
com a pasta
O ministro compareceu na tarde desta terça-feira à audiência
conjunta na Câmara dos Deputados das comissões de Fiscalização Financeira e
Controle e de Turismo e Desporto (Sérgio Lima/Folhapress)
A crise deflagrada no Ministério do Esporte já ameaça a
histórica aliança entre o PT e o PC do B, partido do titular da pasta, Orlando
Silva. Os comunistas, furiosos com a crescente possibilidade de demissão do
ministro, se mobilizam para não perder o comando do Esporte - ainda que Orlando
Silva seja, de fato, retirado do cargo. O partido partiu para a ofensiva:
deixou claro que abrirá guerra contra o governador petista do Distrito Federal,
Agnelo Queiroz, caso seja abandonado à própria sorte. Na quinta-feira, antes da
chegada da presidente Dilma Rousseff ao Brasil, porém, o governo agiu para
apagar o incêndio e os comunistas receberam a garantia de que o Esporte
continuará sob direção do PC do B, mesmo sem Orlando Silva.
Nesta sexta-feira, a presidente tem uma reunião marcada com
Orlando Silva para definir o destino do ministro. A saída dele é considerada uma
questão de tempo pelo Palácio do Planalto. A situação do comunista ficou
praticamente insustentável depois que a edição de VEJA desta semana publicou a
declaração de um militante do PC do B apontando Orlando Silva como mentor e
beneficiário de um esquema de desvio de dinheiro. Conforme o policial João Dias
Ferreira, a verba pública era desviada usando ONGs como fachada. Agora, o ministro enfrenta forte desgaste político e
deve deixar o governo em breve. O PC do B, porém, exige que o PT dê a ele a
oportunidade de se defender, já que não admite sair da Esplanada com a pecha de
corrupto.
Dilma convocou para a noite de quinta-feira uma reunião de
emergência com os ministros Gleisi Hoffmann (Casa Civil), José Eduardo Cardozo
(Justiça), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gilberto Carvalho
(Secretaria-geral da Presidência) para discutir a situação de Orlando Silva. O
encontro ocorreu no Palácio da Alvorada e durou cerca de duas horas. No
encontro, de acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, apesar de não ter
convicção do envolvimento do ministro Orlando Silva em fraudes nos convênios da
pasta, Dilma deixou claro que o desgaste político é irreversível. Ela decidiu
substituir Orlando Silva.
Os ministros deixaram o local sem falar com a imprensa. O
chefe de gabinete de Dilma, Giles Azevedo, também esteve presente. Embora tenha
se esforçado para apresentar sua versão à imprensa e aos parlamentares, Orlando
Silva foi atingido seriamente pela acusação de João Dias, integrante do PCdoB e
responsável por duas Organizações Não-Governamentais (ONGs) que mantinham
contrato com o ministério. Uma das dificuldades de sustituir Orlando Silva é a
ausência de nomes, dentro do Partido Comunista, considerados adequados para o
posto.
"Eu estou vivendo um verdadeiro linchamento moral e vou
até o fim para lavar a minha honra", disse Orlando, que se reuniu na
quinta-feira por cinco horas com a cúpula do PC do B, em Brasília. Até agora, o
nome mais cotado para substituí-lo é o da ex-prefeita de Olinda (PE) Luciana
Santos, hoje deputada federal. Ela era o nome que Dilma gostaria de ter chamado
quando montou a equipe, mas o PC do B cerrou fileiras em torno de Orlando.
Na reunião do comando comunista, dirigentes do partido não
pouparam críticas ao PT, acusado de estar por trás do inferno astral de
Orlando, de olho no milionário orçamento da Copa de 2014, e decidiram partir
para o enfrentamento contra petistas e a imprensa. A portas fechadas e sob
pressão, lembraram, ainda, que o suposto esquema de irregularidades nos
convênios começou quando Agnelo - então filiado ao PC do B - era o ministro.
Revanche - As denúncias contra Agnelo, alvo de inquérito no
Superior Tribunal de Justiça (STJ), preocupam muito o Planalto. A irritação do
PC do B é vista como rastilho de pólvora, com potencial para estragos ainda
maiores. Foi por isso que ontem, antes de voltar de Angola, Dilma defendeu
Orlando e o PC do B, definido por ela como um aliado histórico.
"Não vamos fazer apedrejamento moral de ninguém",
afirmou a presidente. No Planalto, os ministros Gilberto Carvalho
(Secretaria-Geral da Presidência), Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Ideli
Salvatti (Relações Institucionais) se reuniram à tarde com o presidente do PC
do B, Renato Rabelo, e fizeram de tudo para pôr panos quentes na crise.
"Ninguém vai tirar o Esporte do PC do B", assegurou Carvalho.
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