Certa vez, Demétrio Valentini foi certeiro ao dizer que
cercas e muros não conseguem deter a vida, porque a vida não se limita a
fronteiras abertas para o comércio e para a circulação de pessoas. Muitos
estadunidenses ainda não aprenderam isso.
O homem da foto pode ser o próximo presidente dos Estados
Unidos. Ele é Herman Cain, que passou de desconhecido azarão a scandidato
sensação dos republicanos nesse período de debates entre os que postulam o
direito à indicação do partido para enfrentar Barack Obama no pleito de
novembro do ano que vem.
É verdade que os muitos pretendentes republicanos estão em
processo de autofagia, cada um que cresce nas pesquisas vira alvo dos demais. E
assim já tivemos pelo menos uns três que chegaram ao topo, tornaram-se
favoritos, mas foram abatidos pela
artilharia dos seus pares.
Mas o nosso personagem de hoje, Herman Cain, afro-americano
como Obama, estava no grupo dos figurantes, praticamente zero chance.
Eis que, de repente, o homem
inventou um plano de governo baseado nos números 9-9-9, que nem ele sabe
explicar direito, e isso provocou a curiosidade da mídia que lhe abriu
generosos espaços.
Dai em diante, Cain subiu feito um foguete nas pesquisas e
agora disputa cabeça com cabeça a preferência dos eleitores republicanos e é o
único que vence Obama, por 43 a 41%, em simulações do presidente com os demais
postulantes republicanos.
Mas há um detalhe a ser levado em conta. Essas pesquisas foram feitas nos dias 14 e 15
de outubro. De lá para cá, Cain andou
metendo os pés pelas mãos e agora corre o risco de despencar. Há candidatos que, quanto mais aparecem na
mídia, maior o risco de mostrar sua
incapacidade para ocupar o cargo de presidente dos Estados Unidos.
Foi o que aconteceu no último domingo, durante entrevista na
TV. Perguntado sobre a questão
migatória, Herman Cain disse que seu plano era aumentar a altura do muro que
separa a fronteira EUA-México e equipá-lo com uma cerca eletrificada mortal,
para acabar com a imigração ilegal naquela área.
Uma declaração no mínimo grosseira e ofensiva à imensa
comunidade latina, sobretudo mexicana, que vive e vota nos EUA. Pode ser que
pelo teor racista e nazistóide de seu projeto, Cain consiga arrebanhar votos
entre os mais conservadores, mas com
certeza perdeu os votos dos hispânicos, cerca de 15% do eleitorado.
Indocumentados não votam, sabe-se, mas seus parentes e amigos, sim.
Certamente admoestado por seus assesores, Cain rapidamente
saiu em campo para tentar apagar o incêndio causado pela declaração de péssimo
gosto. E numa entrevista à CNN, garantiu que a história da cerca letal não
passou de uma brincadeira e prometeu que vai ser mais cuidadoso ao escolher
suas palavras daqui por diante.
“Não aprendi a ser politicamente correto”, disse ele a John
King, da CNN.
Enquanto os republicanos se desgastam em debates e
declarações que visam a derrubada do adversário que está dentro da mesmo casa,
Obama assiste de camarote. E apesar da recessão e do desemprego, ele está nas
ruas disputando a simpatia do eleitor.
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