A 2.ª Vara do Júri de SP decidiu mandar Madia a julgamento
pelas mortes e pelo espancamento de centenas presos
Réu no processo do massacre da Casa de Detenção de São
Paulo, o tenente-coronel Salvador Modesto Madia foi nomeado ontem o novo
comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Madia não é qualquer
réu no processo. Depois do coronel Ubiratan Guimarães - absolvido da acusação
de ser responsável por 102 das 111 mortes -, Madia e outros 28 policiais são
acusados de matar 76 presos no Pavilhão 9 do presídio, que ficava no Carandiru,
zona norte de São Paulo.
O massacre de 111 presos aconteceu no dia 2 de outubro de
1992 e é considerado um divisor de águas dentro da PM. Na época, uma briga
entre detentos do pavilhão provocou uma rebelião. A Tropa de Choque foi chamada
para abafar a revolta e retomar o controle. De acordo com a denúncia, os 80
policiais invadiram o pavilhão e mataram os presos - nenhum oficial morreu.
Depois do massacre, dezenas de PMs foram afastados da Rota, o então secretário
da Segurança Pública, Pedro Franco de Campos, pediu demissão e a PM criou
programas de controle da violência letal.
O anúncio de Madia para assumir a Rota foi feito ontem pelo
comando da Polícia Militar e pela Secretaria da Segurança Pública. É uma aposta
por ele ser um integrante da corporação respeitado pela tropa.
A escolha recebeu críticas de entidades de defesa dos
direitos humanos. “Alguém que participou do massacre do Carandiru não pode
receber nem promoção, quanto mais chegar a um cargo tão sensível quanto o
comando da Rota”, afirmou o presidente do Conselho Estadual de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana (Condepe), Ivan Seixas.
Em nota divulgada ontem, o coronel prometeu combater “o
crime com inteligência” e disse estar orgulhoso. Ele substituirá o
tenente-coronel Paulo Adriano Telhada, que se aposentou na semana passada.
Madia, segundo a denúncia do Ministério Público Estadual, era o quarto homem na
linha de comando da tropa que retomou o 2.º andar do Pavilhão 9. Sob o comando
do então capitão Valter Alves Mendonça, a tropa que ali atuou matou 76 dos 111
presos. Em média, cada um deles recebeu 4,5 tiros - a maioria na cabeça e no
tórax. Muitos dos detentos foram atingidos nas costas. Os PMs alegam legítima
defesa.
O nome do novo comandante da Rota está na folha 32 da
denúncia. A 2.ª Vara do Júri de São Paulo decidiu mandar Madia e os demais réus
a julgamento pelas mortes - até agora, só o coronel Ubiratan foi julgado - e
pelo espancamento de presos depois de controlado o motim. Os réus recorreram da
decisão e aguardam decisão do Tribunal de Justiça para saber se vão ou não a
júri.
Confronto
Madia já havia trabalhado de 1986 a 1988 e de 1991 a 1993 na
Rota e era o chefe operacional do Comando de Policiamento de Choque (BPChoq).
Desde 2009, a Rota se transformou em um dos principais instrumentos de combate
ao crime organizado no Estado. Madia negou que seu grupo tenha assassinado 76
pessoas, disse que tudo o que tinha para falar está relatado nos autos e que
tem “total tranquilidade quanto ao que ocorreu”.
Ele nega as execuções. “Foi confronto. Tenho certeza, tanto
que deponho assim”, disse. Ele não vê problema em ser um dos acusados pelo
massacre e assumir a Rota. “São atos inerentes à função do PM.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário