Rachel McCleary - pesquisadora de religião e economia da
Universidade de Harvard.
Religiões baseadas na crença no inferno são mais eficientes
para o comportamento econômico pois motivam os fiéis através do medo
A religião é uma instituição financeira tanto quanto
espiritual. Sem doações dos fiéis, as religiões como organizações sociais não
sobreviveriam
Não é surpreendente que as maiores religiões do mundo -
Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Budismo e Hinduísmo - promovam a acumulação
de riquezas através de seus sistemas de crenças, o que contribui para a
prosperidade econômica.
Incentivos espirituais como a danação e a salvação são
motivadores eficientes. Por isso, religiões que dão ênfase à crença no inferno
são mais propensas a contribuírem para a prosperidade econômica do que as que
enfatizam a crença no paraíso.
As religiões que têm foco na crença no paraíso dão mais
importância a atividades redistributivas (caridade) para diminuir o tempo das
pessoas no inferno e chegar mais perto do paraíso.
Já o incentivo que se baseia na crença no inferno parece
mais eficiente para o comportamento econômico, porque motiva os fiéis a
trabalhar mais duro para evitar a danação.
A estrutura organizacional, assim como o sistema de crenças
de uma religião, afeta diretamente sua habilidade de arrecadar fundos dos
fiéis.
A riqueza das religiões, de maneira muito semelhante à
riqueza das nações, depende da estrutura de sua organização. Mas,
diferentemente das corporações, as finanças das religiões não são transparentes
para o público nem são monitoradas.
Religiões monoteístas usam experiência coletiva como
forma de pressionar seus fiéis para a doação
Algumas estruturas religiosas são hierárquicas como a da
Igreja Católica Romana, com a concentração de riqueza no clero e no Papado. Por
contraste, as igrejas evangélicas e pentecostais favorecem um acúmulo de
riqueza de pai para filho.
O famoso evangelista americano Billy Graham e seu filho
William Franklin Graham 3º, que assumiu a presidência da associação evangelista
do pai, são um exemplo de como o poder espiritual e a riqueza de uma religião
são mantidos pelos laços familiares.
Outras organizações tendem a ser descentralizadas e
comunitárias por natureza, como o judaísmo, com as sinagogas locais mantendo a
autonomia sobre as finanças.
Mas as religiões coletivas, como as monoteístas, requerem a
crença exclusiva em um só Deus e contam financeiramente com tributos e doações
voluntárias de seus membros.
Como consequência, um templo, igreja ou mesquita exerce
pressão coletiva e outros tipos de sanções grupais para garantir a ajuda
financeira contínua dos fiéis à religião.
No entanto, uma dificuldade constante enfrentada pelas
religiões é que muitos membros decidem agir de acordo com sua própria vontade e
não dar apoio financeiro.
Outro tipo de estrutura religiosa é a privada ou difusa.
Hinduísmo e budismo são religiões privadas, em que os fiéis realizam atos
religiosos sozinhos e pagam uma taxa para um monge pelo serviço.
Nestes casos, as atividades religiosas são partes da vida
diária e podem ser feitas a qualquer momento do dia. Elas não requerem nem um
grupo de fiéis nem a presença dos monges.
Estas religiões privadas tendem a ser politeístas e
sustentadas financeiramente pelo pagamento de uma taxa de serviço.
Religiões com muitos recursos, como por exemplo o
catolicismo romano e o islamismo, historicamente foram - algumas vezes -
monopólios financiados pelo Estado.
A regulação da religião pelo Estado pode reduzir a qualidade
das vantagens espirituais na medida em que aumenta a capacidade da religião de
acumular riqueza. Mas uma religião subsidiada pelo Estado pode ter um efeito
positivo na participação religiosa.
Por exemplo, os governos da Dinamarca, Suécia, Alemanha e
Áustria subsidiam muitas religiões para a manutenção de suas propriedades, a
educação do clero e os serviços sociais.
Mesmo que isso não necessariamente aumente o número de
pessoas que frequentam a igreja, o investimento financeiro do Estado nas
instituições religiosas aumentou as oportunidades das pessoas de participarem
de atividades patrocinadas pela religião.
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