Médicos pesquisadores do governo dos Estados Unidos
infectaram intencionalmente um grupo de 1.300 cidadãos da Guatemala com
gonorréia e sífilis. Mais de 80 morreram, diz estudo
Os experimentos médicos realizados por cientistas
norte-americanos que contaminaram guatemaltecos com sífilis e gonorréia entre
1946 e 1948 teriam sido responsáveis por um saldo de 83 mortos, informou nesta
segunda-feira (29/08) uma comissão que investiga o assunto.
"Acreditamos que houve 83 mortes, mas não sabemos até
que ponto estas mortes estiveram direta ou indiretamente relacionadas com estes
experimentos", disse o cientista Stephen Hauser, durante a sexta reunião
da Comissão Presidencial para o Estudo de Assuntos de Bioética americana em
Washington.
"Houve um esforço claro e deliberado de enganar tanto
os indivíduos dos experimentos como também a comunidade, tanto a comunidade
científica como a comunidade em geral que foram contra aos experimentos",
disse Hauser, um cientista da Universidade da Califórnia em San Francisco.
Segundo Hauser, aproximadamente 5,5 mil indivíduos
participaram dos experimentos, divididos em dois grupos: os que foram
submetidos a estudos de diagnóstico e os que receberam inoculação intencional
com os patogênicos.
Hauser explicou que o objetivo principal do experimento de
inoculação da gonorréia era "provar a eficácia de uma variedade de medidas
profiláticas, incluindo várias loções químicas, assim como a penicilina via
oral".
Também se pretendia entender as mudanças no sangue e no
corpo após a o indivíduo contrair sífilis e determinar se variavam dependendo
do contágio.
A exposição proposital, que incluiu um total de 50
experimentos diferentes com gonorréia e sífilis, foi realizada tanto mediante
prostitutas infectadas como através de injeções diretas com estes organismos.
Os experimentos, financiados então pelos Institutos
Nacionais de Saúde (NIH, em inglês), representam um "capítulo
obscuro" da história dos EUA e "o melhor que podemos fazer como americanos
é desvendá-los", disse a presidente da Comissão, Amy Gutmann.
A comissão, criada pelo presidente Barack Obama, tem a
missão de investigar a fundo a razão dos experimentos na Guatemala e determinar
se as autoridades têm agora suficientes vias para proteger humanos em estudos
científicos financiados pelo governo federal.
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