Na avaliação de Nouriel Roubini, professor de economia na
Universidade de Nova York, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo
fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a
experimentar uma crise, dado o seu defeito sistêmico identificado primeiramente
por Karl Marx há mais de um século. Roubini, que há quatro anos previu a crise
financeira global diz que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está
se provando verdadeira na atual crise financeira global.
Há um velho axioma que diz que “sábia é a pessoa que aprecia
a sinceridade quase tanto como as boas notícias”, e com ele como guia, situa
decididamente o futuro na categoria da sinceridade.
O professor de economia da Universidade de Nova York, doutor
Nouriel “Dr. Catástrofe” Roubini disse que, a não ser que haja outra etapa de
massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o
capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistêmico
identificado primeiramente pelo economista Karl Marx há mais de um século.
Roubini, que há quatro anos previu acuradamente a crise
financeira global disse que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx
está se provando verdadeira na atual crise financeira global.
A crítica de Marx em vigor, agora
Dentre outras teorias, Marx argumentou que o capitalismo
tinha uma contradição interna que, ciclicamente, levaria a crises e isso, no
mínimo, faria pressão sobre o sistema econômico. As corporações, disse Roubini,
motivam-se pelos custos mínimos, para economizar e fazer caixa, mas isso
implica menos dinheiro nas mãos dos empregados, o que significa que eles terão
menos dinheiro para gastar, o que repercute na diminuição da receita das
companhias.
Agora, na atual crise financeira, os consumidores, além de
terem menos dinheiro para gastar devido ao que foi dito acima, também estão
motivados a diminuírem os custos, a economizarem e a fazerem caixa, ampliando o
efeito de menos dinheiro em circulação, que assim não retornam às companhias.
“Karl Marx tinha clareza disso”, disse Roubini numa
entrevista ao The Wall Street Journal: "Em certa altura o capitalismo pode
destruir a si mesmo. Isso porque não se pode perseverar desviando a renda do
trabalho para o capital sem haver um excesso de capacidade [de trabalho] e uma
falta de demanda agregada. Nós pensamos que o mercado funciona. Ele não está
funcionando. O que é racional individualmente ... é um processo
autodestrutivo”.
Roubini acrescentou que uma ausência forte, orgânica, de
crescimento do PIB – coisa que pode aumentar salários e o gasto dos
consumidores – requer um estímulo fiscal amplo, concordando com outro
economista de primeira linha, o prêmio Nobel de economia Paul Krugman, em que,
no caso dos Estados Unidos, o estímulo fiscal de 786 bilhões de dólares
aprovado pelo Congresso em 2009 era pequeno demais para criar uma demanda
agregada necessária para alavancar a recuperação da economia ao nível de uma
auto expansão sustentável.
Na falta de um estímulo fiscal adicional, ou sem esperar um
forte crescimento do PIB, a única solução é uma reestruturação universal da
dívida dos bancos, das famílias (essencialmente das economias familiares), e
dos governos, disse Roubini. No entanto, não ocorreu tal reestruturação,
comentou.
Sem estímulo fiscal adicional, essa falta de reestruturação
levou a “economias domésticas zumbis, bancos zumbis e governos zumbis”, disse
ele.
Fora o estímulo fiscal ou a reestruturação da dívida, não há
boas escolhas
Os Estados Unidos, disse Roubini, pode, em tese: a) crescer
ele mesmo por fora do atual problema (mas a economia está crescendo devagar
demais, daí a necessidade de mais estímulo fiscal); ou b) retrair-se
economicamente, a despeito do mundo (mas se muitas companhias e cidadãos o
fizerem junto, o problema identificado por Marx é ampliado); ou c)
inflacionar-se (mas isso gera um extenso dano colateral, disse ele).
No entanto, Roubini disse que não pensa que os EUA ou o
mundo estão atualmente num ponto em que o capitalismo esteja em autodestruição.
“Ainda não chegamos lá”, disse Roubini, mas ele acrescentou que a tendência
atual, caso continue, “corre o risco de repetir a segunda etapa da Grande
Depressão”—o erro de ‘1937’.
Em 1937, o presidente Franklin D. Roosevelt, apesar do fato
de os primeiros quatro anos de massivo incentivo fiscal do New Deal ter
reduzido o desemprego nos EUA, de um cambaleante 20,6% na administração Hoover
no começo da Grande Depressão, a 9,1%, foi pressionado pelos republicanos
congressistas – como o atual presidente Barack Obama fez com o Tea Party, que
pautou a bancada republicana no congresso em 2011 – , rendeu-se aos
conservadores e cortou gastos do governo em 1937. O resultado? O desemprego
estadunidense começou o ano de 1938 subindo de novo, e bateu a casa dos 12,5%.
Cortar os gastos do governo prematuramente feriu a economia
dos EUA em 1937, ao reduzir a demanda, e Roubini vê o mesmo padrão ocorrendo
hoje, ao se seguir as medidas de austeridade implementadas pelo acordo da
dívida implemented by the U.S. debt deal act.
Roubini também argumenta que os levantes sociais no Egito e
em outros países árabes, na Grécia e agora no Reino Unido têm origem econômica
(principalmente no desemprego, mas também, no caso do Egito, no aumento do
custo de vida). Em seguida, argumenta que, ao passo que não se deve esperar um
colapso iminente do capitalismo, ou mesmo um colapso da sua versão
estadunidense, o capitalismo corporativo – capitalismo e mercados livres são
rápidos demais e capazes de se adaptarem - dizer que a ordem econômica atual não
está experimentando uma crise não é correto.
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