Por Agnaldo Almeida
Quando lá na frente se for escrever a história do PT na
Paraíba, um longo e inacreditável capítulo haverá de ser dedicado à estranha
capacidade de autofagia política inerente a alguns de seus integrantes.
Desde 1980 até hoje, os exemplos são incontáveis. Ricardo
Coutinho, Cozete Barbosa, Avenzoar Arruda, Luciano Cartaxo e, por último, Luiz
Couto, estão aí para não nos deixar mentir.
Ricardo talvez tenha sido a vítima mais notável desta
autofagia petista. Tão logo consolidou o seu prestígio eleitoral junto às
camadas mais progressistas de João Pessoa, o hoje candidato a governador passou
a enfrentar um processo de patrulhamento interno do PT. Quanto mais fortalecia
a sua relação com o eleitorado, mais dificuldades encontrava, internamente,
para confirmar-se como líder emergente.
O resto da história se sabe: Ricardo teve de se abrigar sob
outra legenda, o PSB de hoje. Suas relações com os petistas locais só
melhoraram quando se elegeu, folgadamente, prefeito de João Pessoa em 2004.
O caso de Cozete Barbosa também é emblemático. Alçada à
condição de prefeita de Campina Grande, a segunda maior cidade do estado, ela
nunca contou, efetivamente, com o apoio integral do PT. Até na Câmara Municipal
daquela cidade, o único vereador petista cuidou logo de se distanciar da sua
administração.
Na sequência, Cozete cometeu erros e mais erros, mas isso
não vem ao caso. Ocupando na época o cargo político mais importante para o
partido em todo o estado, ela só contou com o apoio de uma pequena ala da
legenda. Por todos os outros, foi desprezada, abandonada e entregue à sua
própria sorte.
Avenzoar Arruda foi eleito deputado federal, o primeiro do
PT paraibano. Mas isso não significou muita coisa para impedir que também se
visse às voltas com esta autofagia partidária. Disputou até o governo do
estado, mas nunca teve o apoio de todas as tendências do PT. Lutou como pôde e
teve um desempenho eleitoral pra lá de razoável. Era uma liderança que ainda
hoje poderia estar prestando relevantes serviços ao partido, mas, no limite de
sua paciência, resolveu partir para outra.
O atual vice-governador do estado Luciano Cartaxo tinha
todos os predicados para figurar na chapa que hoje disputa o governo do Estado.
Tinha sido líder de Ricardo Coutinho na Câmara Municipal, mas aceitara, em
2006, a indicação para a vice. Seu nome foi aos poucos sendo queimado, relegado
a segundo plano e, finalmente, afastado do páreo. Percebeu em tempo a trama de
que estava sendo vítima e cuidou logo de se garantir como candidato a deputado
estadual.
O caso agora é com o deputado federal Luiz Couto.
Parlamentar de atuação brilhante na Câmara dos Deputados, reconhecido até
internacionalmente pelo trabalho que faz contra o crime organizado e contra os
assassinatos na zona rural do Nordeste, Couto não está merecendo do partido
sequer o direito de participar do Guia Eleitoral.
O argumento é ridículo: Couto não pôde fazer sua propaganda
porque não aceita pedir votos para o candidato José Maranhão. E como poderia?
Maranhão trabalhou o tempo todo, com todas as forças da máquina, para retirá-lo
da presidência do PT. E conseguiu. Poderia ele agora apresentar-se ao eleitor
pedindo votos para o seu algoz na luta partidária?
Nada disso, porém, há de retirar do parlamentar o
reconhecimento que ele ostenta junto a entidades locais, nacionais e
internacionais, como um dos mais atuantes congressistas do Brasil.
Se o PT da Paraíba não entende isso, é porque,
lamentavelmente, ainda não conseguiu se livrar desta freudiana autofagia que,
de tempos em tempos, se encarrega de afastar da legenda aqueles que, ao longo
da história, mais trabalharam por ela.
(*) Agnaldo Almeida ingressou no jornalismo em 1970, como
repórter do Diário da Borborema. Ele atuou ainda nos jornais Correio da
Paraíba, A União, O Norte e O Momento, como redator e colunista, do semanário A
Carta como chefe de redação e editor. Hoje ele faz comentários políticos na Tv
Tambaú.
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