Triste realidade de um Brasil racista e ainda desigual:
pesquisa indica que cor da pele é o fator que mais pesa na hora de conseguir
emprego
Irresponsáveis são os que ainda vendem a ideia de democracia
racial no Brasil
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Que fatores são determinantes para abrir ou fechar portas no
mercado de trabalho? Um estudo inédito dos economistas Fernando de Holanda
Barbosa Filho e Samuel de Abreu Pessôa, do Ibre/FGV, reforça que, apesar dos
avanços incontestáveis no caminho do pleno emprego, o Brasil tem muito trabalho
pela frente para corrigir as desigualdades marcantes nessa área. E a receita
não é trivial.
Para entender a dinâmica do mercado de trabalho nas grandes
regiões metropolitanas do país, os economistas se debruçaram sobre os dados da
Pnad de 2009, comparando a situação de Porto Alegre, a capital com a menor taxa
de desemprego do país, com as regiões onde este é mais alto.
Gênero, raça, escolaridade, faixa etária e experiência
profissional foram analisados. E a cor da pele é o fator que mais pesou. Ou seja,
se os negros e pardos têm mais dificuldade para ingresso no mercado em qualquer
região do país, naquelas onde a maioria da população apta ao trabalho é negra
ou parda, a taxa média de desemprego é maior.
Isso acontece em Recife e Salvador, regiões metropolitanas
com as maiores taxas de desemprego do país em 2009 e ainda hoje. Em Recife,
onde o desemprego chegava a 15,9% em 2009, a soma de negros e pardos alcançava
63,9% da população apta ao trabalho. Em Salvador, o desemprego estava em 14,2%,
enquanto a população negra e parda chegava a 82,8%.
Barbosa Filho explica que as altas taxas de desocupação em
Salvador e Recife têm a influência de dois fatores. Os negros e pardos, grupos
que apresentam as taxas mais altas de desemprego quando o critério da análise é
a raça, são a maioria da população apta ao trabalho nessas regiões. Assim, o pe
so desses grupos na média geral é maior na comparação com outras regiões.
Ao comparar o mercado de trabalho de Porto Alegre com o Rio,
o estudo mostra um aspecto interessante. No Rio, 44,9% da população apta ao
trabalho era formada por negros e pardos em 2009, enquanto na capital gaúcha
esse percentual chegava a 18,4%. Por outro lado, o Rio apresentava um nível de
qualificação profissional mais elevado em relação a Porto Alegre, o que, a
princípio, favorece o acesso ao mercado de trabalho. Mas os números da pesquisa
mostram que o peso da cor prevalece sobre a escolaridade e a qualificação
profissional. Assim, enquanto em Porto Alegre, onde 81% da população apta ao
trabalho era de brancos, o desemprego chegava a 7,6%, no Rio, onde os brancos
somam 54,6%, o desemprego era de 9,4%.
O economista evita a palavra preconceito, mas destaca que a
escolaridade maior não é capaz de neutralizar a diferença das taxas de
desemprego relacionadas a raça e cor, o que justificaria a adoção de políticas
para atenuar essa disparidade.
Outro aspecto destacado é que o mercado de trabalho de Porto
Alegre é o que melhor funciona em relação às demais regiões do país, embora os
economistas não saibam exatamente que fatores determinam esse desempenho.
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