segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O moralismo de conveniências que engana o Brasil


Moral Seletiva



'Moral seletiva é teatro, dos piores'
'Moral seletiva é teatro, dos piores'
Tenho uma clara dificuldade para lidar com a hipocrisia.

Uma vez ouvi que político é tudo igual: bastaria chegar ao poder, que se tornaria um corrupto. É... Bastaria alcançar o poder para roubar igual aos outros. Foi o que ouvi. Claro, mas claro que não podia concordar com essa, digamos, tese.

Tentei argumentar: ninguém é igual; políticos bem intencionados e éticos há, e por aí fui. Irredutível: que nada! Quando chega ao poder fica tudo igual. Antes, é tudo honesto. Chegou lá, rouba igual àquele que criticava. Aí perguntei, já meio irritado: se você afirma que qualquer um que chega ao poder “vira” ladrão, então você “viraria” ladrão também? Seria um ladrão em potencial? Porque você não é melhor do que ninguém. Nem eu. Então, se todos roubariam, você também roubaria? É isto? Ele contra-atacou, surpreso: está dizendo que sou ladrão? Respondi: não, foi você quem disse. E como você não é melhor do que ninguém... Porque eu não seria ladrão. E como não seria, e não sou melhor do que ninguém, até por isto não posso crer que todos são iguais, que todos são ladrões, que todos roubariam. Silêncio... O pessoal do deixa-disso chegou...


É a tal da moral seletiva. Nesse caso, você se exclui. Mas há outras situações, em que não é você quem se exclui, mas o que você deseja que seja excluído. Pior quando isto envolve mais do que você. É difícil assistir a esse teatro (sim, moral seletiva é teatro, dos piores). Vide as campanhas de moralidade pública travestidas da mais fina e repugnante hipocrisia.

Desde pouco depois que o ex-presidente Lula  assumiu a Presidência da República que ouço a cantilena de corrupção, no sentido de que esse mal teria mostrado as suas garras a partir da assunção do torneiro mecânico ao poder. A corrupção seria obra  daquele, e (agora) desse governo. Incrível como não ouvi esse mesmo clamor e cobertura midiática irresignada, por exemplo(!), à época em que se votou favoravelmente à reeleição do ex-presidente FHC. Ou à época das privatizações, em que os beneficiários recebiam do BNDES as verbas que necessitavam para “pagar” o preço.


Deleite maior é quando a irresignação parte de algumas (nada raras) figuras que não têm o menor arcabouço moral pra estar atacando a ética ou a moral de ninguém. Os caras são uns pilantras de marca maior, seus partidos são mais sujos do que pau de galinheiro, e com a cara do mais duro mogno de que se vestem posam de paladinos da moral e da ética. Nem dá pra engolir, tampouco consigo fazer coro.

E esse é o ponto. Não dá pra fazer coro.

André Falcão é advogado, escritor e editor do Blog do André Falcão.

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