A imprensa tem um lado, já escolheu o lado que defenderá e é
intransigente neste aspecto. À internet cabe contrabalancear esse método
impositivo
Miguel do Rosário, do blog Cafezinho, reproduziu texto da
esposa do ministro Carlos Lupi, que começou a circular de maneira viral nesta
quinta-feira (17) na rede. Abaixo, o texto de Angela Lupi:
Você tem direito de ter a sua verdade. Para isso você
precisa conhecer todas as versões de uma história para escolher a sua. A deles
é fácil, é só continuar lendo a Veja, O Globo, assistindo ao Jornal Nacional. A
nossa vai precisar circular por essa nova e democrática ferramenta que é a
internet.
Meu nome é Angela, sou esposa do Ministro do Trabalho e
Emprego Carlos Lupi. Sou jornalista e especialista em políticas públicas. Somos
casados há 30 anos, temos 3 filhos e um neto. Resolvi voltar ao texto depois de
tantos anos porque a causa é justa e o motivo é nobre. Mostrar a milhares,
dezenas ou a uma pessoa que seja como se monta um escândalo no Brasil.
Vamos aos fatos: No dia 3 de novembro a revista Veja envia a
assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho algumas perguntas genéricas
sobre convênio, ONGS, repasses etc. Guarda essa informação.
Na administração pública existe uma coisa chamada pendência
administrativa. O que é isso? São processos que se avolumam em mesas a espera
de soluções que dependem de documentos, de comprovações de despesas, prestação
de contas etc. Todo órgão público, seja na esfera municipal, estadual ou
federal, tem dezenas ou centenas desses.
Como é montado o circo? A revista pega duas pendências
administrativas dessas, junta com as respostas da assessoria de imprensa do
ministério dando a impressão de que são muito democráticos e que ouviram a
outra parte, o que não é verdade, e paralelamente a isso pegam o depoimento de
alguém que não tem nome ou sobrenome, mas diz que pagou propina a alguém da
assessoria do ministro.
No dia seguinte toda a mídia nacional espalha e repercute a
matéria em todos os noticiários, revistas e jornais. Nada fica provado. O
acusador não tem que provar que pagou, mas você tem que provar que não recebeu.
Curioso isso, não? O próprio texto da matéria isentava Lupi de qualquer
responsabilidade. Ele sequer é citado pelo acusador. Mas a gente não lê os
textos, só os títulos e a interpretação, que vêm do estereótipo “político é
tudo safado mesmo”.
Dizem que quando as coisas estão ruins podem piorar. E é
verdade. Na terça-feira Lupi se reúne na sede do PDT, seu partido político em
Brasília para uma coletiva com a imprensa. E é literalmente metralhado não por
perguntas, o que seria natural, mas por acusações. Nossa imprensa julga,
condena e manda para o pelotão de fuzilamento.
E aí entra em cena a mais imprevisível das criaturas: o ser
humano. Enquanto alguns acuados recuam, paralisam, Lupi faz parte de uma
minoria que contra ataca. Explode, desafia. É indelicado com a Presidenta e com
a população em geral. E solta a frase bomba, manchete do dia seguinte: “Só saio
a bala”. O que as pessoas interpretaram como apego ao cargo era a defesa do seu
nome. Era um recado com endereço certo e cujos destinatários voltaram com força
total.
Era a declaração de uma guerra que ainda não deixou mortos,
mas já contabiliza muitos feridos. Em casa, passado o momento de tensão, Lupi
percebe o erro, os exageros e na quinta-feira na Comissão de Justiça do
Congresso Nacional presta todos os esclarecimentos, apresenta os documentos que
provam que o Ministério do Trabalho já havia tomado providências em relação às
ONGs que estavam sendo denunciadas e aproveita a oportunidade para admitir que passou
do tom e pede desculpas públicas a Presidenta e a população em geral.
A essa altura, a acusação de corrupto já não tinha mais
sustentação. Era preciso montar outro escândalo e aí entra a gravação de uma
resposta e uma fotografia. A resposta é aquela que é repetida em todos os
telejornais. Onde o Lupi diz “não tenho nenhum tipo de relacionamento com o Sr
Adair. Fui apresentado a ele em alguns eventos públicos. Nunca andei em
aeronave do Sr Adair”.
Pegam a frase e juntam a ela uma foto do Lupi descendo de
uma aeronave com o seu Adair por perto. Pronto. Um novo escândalo está montado.
Lupi agora não é mais corrupto, é mentiroso.
Em algum momento, em algum desses telejornais você ouviu a
pergunta que foi feita ao Lupi e que originou aquela resposta? Com certeza não.
Se alguém pergunta se você conhece o Seu José, porteiro do seu prédio? Você
provavelmente responde: claro, conheço. Agora, se alguém pergunta: que tipo de
relacionamento você tem com o Seu José? O que você responde? Nenhum,
simplesmente conheço de vista.
Foi essa a pergunta que não é mostrada: que tipo de
relacionamento o Sr tem com o Sr Adair? Uma pergunta bem capciosa. Enquanto
isso, o próprio Sr Adair garante que a aeronave não era dele, que ele não pagou
pela aeronave e que ele simplesmente indicou.
Quando comecei na profissão como estagiária na Tribuna da
Imprensa, ouvi de um chefe de reportagem uma frase que nunca esqueci: “Enquanto
você não ouvir todos os envolvidos e tiver todas as versões do fato, a matéria
não sai. O leitor tem o direito de ler todas as versões de uma história e
escolher a dele. Imprensa não julga, informa. Quem julga é o leitor”.
Quero deixar claro que isso não é um discurso para colocar o
Lupi como vítima. O Lupi não é vítima de nada. É um adulto plenamente
consciente do seu papel nessa história. Ele sabe que é simplesmente o alvo
menor que precisa ser abatido para que seja atingido um alvo maior. É briga de
cachorro grande.
Tentaram atingir o seu nome como corrupto, mas não
conseguiram. Agora é mentiroso, mas também não estão conseguindo, e tenho até
medo de imaginar o que vem na sequência.
Para terminar queria deixar alguns recados:
Para os amigos que nos acompanham ou simplesmente conhecidos
que observam de longe a maneira como vivemos e educamos os nossos filhos eu
queria dizer que podem continuar nos procurando para prestar solidariedade e
que serão bem recebidos. Aos que preferem esperar a poeira baixar ou não tocar
no assunto, também agradeço. E não fiquem constrangidos se em algum momento
acompanhando o noticiário tenham duvidado do Lupi. A coisa é tão bem montada
que até a gente começa a duvidar de nós mesmos. Quem passou por tortura
psicológica sabe o que é isso. É preciso ser muito forte e coerente com as suas
convicções para continuar nessa luta.
Para os companheiros de partido, Senadores, Deputados,
Vereadores, lideranças, militantes que nos últimos 30 anos testemunharam o
trabalho incansável de um “maluco” que viajava o Brasil inteiro em fins de semana
e feriados, filiando gente nova, fazendo reuniões intermináveis, celebrando e
cumprindo acordos, respeitado até pelos adversários como um homem de palavra,
que manteve o PDT vivo e dentro do cenário nacional como um dos mais
importantes partidos políticos da atualidade. Eu peço só uma coisa: justiça.
Aos colegas jornalistas que estão fazendo o seu trabalho,
aos que estão aborrecidos com esse cara que parece arrogante e fica desafiando
todo mundo, aos que só seguem orientação da editoria sem questionamento, aos
que observam e questionam, não importa. A todos vocês eu queria deixar um
pensamento: reflexão. Qual é o nosso papel na sociedade?
E a você Lupi, companheiro de uma vida, quero te dizer, como
representante desse pequeno nucleozinho que é a nossa família, que nós estamos
cansados, indignados e tristes, mas unidos como sempre estivemos. Pode
continuar lutando enquanto precisar, não para manter cargo, pois isso é
pequeno, mas para manter limpo o seu nome construído em 30 anos de vida
pública.
E quando estiver muito cansado dessa guerra vai repousar no
seu refúgio que não é uma mansão em Angra dos Reis, nem uma fazenda em Goiás,
sequer uma casa em Búzios, e sim um pequeno sítio em Magé. Que corrupto é esse?
Que País é esse?
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