O governador Ricardo Coutinho inaugurou, na tarde de ontem,
o Memorial das Ligas Camponesas, em Sapé, e, num momento histórico, devolveu
simbolicamente a chave da casa a Elisabeth Teixeira, exatamente 50 anos após o
assassinato do seu marido, o agricultor e líder rural João Pedro Teixeira. No
dia 2 de abril de 1962, após a morte de João Pedro, Elisabeth fugiu com os
filhos deixando a casa no sítio Barra das Antas.
Durante o evento, o governador Ricardo Coutinho também
entregou o decreto de desapropriação de área de sete hectares de terra para a
construção do Centro de Formação para o Campesinato e do lançamento do Concurso
de Redação João Pedro Teixeira, do qual poderão participar alunos da rede
pública estadual.
Num momento de muita emoção, o arcebispo emérito da Paraíba,
Dom José Maria Pires, abençoou o memorial, que celebra a luta e a história de
João Pedro, considerado um mártir na luta pela terra. Logo depois, o
governador, ao lado de Elisabeth Teixeira, das filhas Maria José das Neves e
Anatilde Teixeira, de Anacleto Julião, filho do líder camponês Francisco
Julião, e Marina, irmã de outro líder Nêgo Fuba inaugurou o memorial. Os
ex-deputados Agassis Almeida e Assis Lemos, o deputado estadual Hervázio
Bezerra, o dirigente nacional do MST, João Pedro Stedile, o presidente do
memorial das Ligas Camponesas, Luiz de Lima (Luizinho), prefeitos da região e
secretários de Estado participaram do evento.
Memorial – O Memorial das Ligas Camponesas foi criado em
2008, com o apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Universidade Federal
da Paraíba (UFPB) e de camponeses assentados da reforma agrária. Hoje o
memorial é uma realidade com documentos e fotos e visa a formação de um acervo
histórico, social, político e cultural das ligas camponesas e lutas da reforma
agrária e preservação do espírito de luta das ligas por justiça social,
dignidade e reforma agrária.
Ricardo Coutinho destacou que o Governo do Estado pretende
reconstruir o caminho das ligas camponesas na Paraíba e em Pernambuco e o
memorial é o primeiro passo para resgatar a história de homens e mulheres que
deram a vida pelo direito à terra. "Estou aqui para resgatar a história e,
ao mesmo tempo, dizer que o Estado estará próximo aos trabalhadores rurais para
trazer dias melhores e recuperar uma parte da história agrária deste país que
não pode ser esquecida”, destacou o governador.
Ele lembrou que a maior dificuldade para instalar o memorial
foi a dificuldade de se obter documentos da época, pois aqueles que deram o
golpe, não apenas mataram muita gente, mas quiserem apagar a memória dessas
pessoas. "Esse é um dia singular para a história desse Estado e de
estabelecimento da memória de lutas dos trabalhadores rurais. É importante
resgatar o passado para olhar e construir o seu futuro”.
Elisabeth Teixeira, 84 anos, disse que entrar na casa em que
viveu com João Pedro e seus filhos e ver hoje um memorial representa o
reconhecimento da luta encampada pelo marido por uma reforma agrária.
"Ainda lembro quando ele dizia que poderiam até tirar a sua vida, mas a
reforma agrária seria implantada no país. Hoje, 50 anos depois, esta reforma
agrária sonhada ainda não aconteceu”, ressaltou.
Ela agradeceu o empenho do governador Ricardo Coutinho para
inaugurar o memorial e desapropriar a casa e a área de Barra das Antas e disse
que este dia ficará marcado eternamente para todos os agricultores e familiares
que lutaram pela reforma agrária. "Hoje, mais do que nunca, lembro dos
dias difíceis e da coragem de João Pedro em defender os ideiais do homem do campo",
revelou Elisabeth.
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