Agência Senado
O Senado comemora nesta segunda-feira (22), a partir das
14h, os 122 anos de nascimento de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a
poeta e contista conhecida pelo pseudônimo de Cora Coralina. O requerimento
solicitando a homenagem é de autoria do senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).
No mesmo dia, às 18h, será inaugurada pelo presidente José
Sarney uma exposição sobre a obra da escritora na Biblioteca Acadêmico Luiz
Viana Filho do Senado.
Cora Coralina nasceu na cidade de Goiás (GO), no dia 20 de
agosto de 1889. Publicou seu primeiro livro - Poemas dos becos de Goiás e
estórias mais - só os 76 anos de idade, embora tenha começado a escrever os
primeiros textos aos 14 anos.
Os escritos da adolescência e juventude eram publicados nos
jornais da cidade de Goiás e também em outras cidades do estado. Naquele tempo,
apesar de viver numa sociedade conservadora, e que reservava um papel
secundário às mulheres, Cora era saudada por conterrâneos ilustres como uma
promessa literária.
A promessa se cumpriu.
Igualmente se concretizou o destino de mulher participativa,
que liderou movimentos políticos locais em prol da cidadania e da caridade -
estes no âmbito da Igreja Católica. Sempre foi muito religiosa.
A temática de seus escritos foi, desde os primeiros tempos,
a história, os personagens e o cotidiano de sua região.
Depois da publicação dos Poemas dos Becos de Goiás e
Estórias mais, em 1965, Cora publicou, em 1976, Meu livro de cordel. Outras
obras da autora são: Estórias da Casa Velha da Ponte (contos); Meninos Verdes (infantil);
O Tesouro da Casa Velha (contos); A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu
(infantil); Vintém de Cobre; e As Cocadas (infantil).
Entre os prêmios recebidos pelo conjunto de sua obra,
destacam-se o Troféu Jaburu, do Conselho de Cultura do Estado de Goiás, em
1981; e o Troféu Juca Pato da União Brasileira de Escritores (UBE), em 1984. O
Juca Pato é um dos mais importantes prêmios literários nacionais, já tendo sido
concedido a nomes do porte de Érico Veríssimo, Rachel de Queiroz, Jorge Amado,
Sérgio Buarque de Holanda e Carlos Drummond de Andrade. Este último alías, foi
quem projetou realmente o nome de Cora em termos nacionais, ao escrever um
artigo histórico para o Jornal do Brasil em 1980.
Vida atribulada
As tardias realizações literárias de Cora Coralina são o
resultado de uma trajetória pessoal marcada por desafios que teimaram em
desviá-la do caminho da criação. Menina adoentada, filha de um pai idoso que
muito cedo a deixou, Cora, naquele tempo apenas Aninha, enfrentou desde cedo a
estranheza frente ao seu modo distraído e inquiridor. Era chamada de
"inzoneira" pelas irmãs.
Em 1910, aos 21 anos, já considerada uma solteirona, começou
um relacionamento com o advogado Cantídio Tolentino Bretas, chefe de Polícia de
Goiás. Como ele era separado, e a família dela não admitia a união, mudaram-se
às escondidas para o interior de São Paulo em 1911. Quinze anos depois, com a
morte da primeira esposa, o casamento se realizaria em termos formais.
Cora passou 45 anos em terras paulistas, vivendo inicialmente
no interior, em Jaboticabal, e depois na capital. Em 1930, presenciou a chegada
de Getúlio Vargas à esquina da rua Direita com a praça do Patriarca. Um de seus
três filhos participou da Revolução Constitucionalista de 1932, contrária a
Getúlio.
Com a morte do marido, em 1934, Cora passou a vender livros
como meio de sustentar a família, dando sequência à atividade de
microempresária na qual se lançara em Jaboticabal, onde mantivera uma
floricultura. Também abriu uma pensão, confiante em seus dotes de cozinheira.
Em Penápolis, voltou à venda de plantas (mudas de árvores),
o que contribuiu para campanhas pró-arborização nas cidades vizinhas, e tocou
um comércio de tecidos e aviamentos, segundo informa o site Casa de Coralina.
Ainda em Penápolis, ligou-se ao Santuário São Francisco de Assis. Em Andradina
ficou conhecida por todos devido à sua ligação com a terra. Dona de um sítio,
vendeu hortaliças e lingüiças de porco feitas por ela mesma.
Em 1956, os 67 anos, retornou a Goiás, voltando a morar na
casa velha da ponte, que habitara em criança. Ali exerceu por muitos anos o
ofício de doceira, até que uma queda limitou seus movimentos, obrigando-a a
andar com o auxílio de uma muleta. Data ainda do retorno a Goiás, a matrícula
num curso de datilografia, já que sempre escrevera à mão.
O mestre
Na casa velha da ponte, hoje um museu, Cora gostava de
receber parentes, amigos e visitantes ansiosos por conhecê-la. Além da conversa
amigável com a artista, os turistas se serviam sempre de algum doce ou quitute
da casa, feitos sob a supervisão da própria doceira-escritora. Uma das frases
que gostava de repetir a seus interlocutores: "Todos estamos matriculados
na escola da vida, onde o mestre é o tempo".
Nenhum comentário:
Postar um comentário