terça-feira, 20 de setembro de 2011

Salários e professores


José Dirceu
* Ex-ministro da Casa Civil
Não é novidade que os governos do PSDB sempre enfrentam dificuldades no relacionamento com os movimentos sociais e com o funcionalismo.

Em São Paulo, o ex-governador José Serra chegou ao cúmulo de colocar a Polícia Militar para conter, com violência, as manifestações da Polícia Civil por melhores condições de trabalho. O mesmo foi feito com outras categorias.


Como se vê agora em Minas Gerais, a prática é uma constante dos tucanos. Recentemente, descobriu-se que, em meio à greve dos professores da rede pública mineira de ensino, viaturas policiais de placas reservadas e agentes à paisana chegaram a ficar em frente à sede do sindicato dos professores para espionar suas lideranças, num frontal desrespeito ao direito de greve.

A se confirmar essa informação, estaremos diante de uma aberração no tratamento do funcionalismo e de um ato arbitrário, inconcebível em um Estado Democrático de Direito. Afinal, o direito de greve é assegurado na Constituição e avalizado por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Assim, jamais uma greve poderia ser encarada como assunto para espionagem.

Na pauta de reivindicações dos professores, está a adoção do piso nacional instituído no governo Lula, de R$ 1.187 para 40 horas semanais. O problema é que o governo de Antonio Anastasia, como é praxe dos governos do PSDB, contabiliza as gratificações e nem assim atinge o piso nacional determinado por lei.

Ao não atender à legislação, acaba por empurrar os professores para a paralisação. O prejuízo maior é da sociedade, com cerca de 1 milhão de estudantes sem aulas e desgaste na relação professores-governo.

É lamentável que os tucanos encarem tais reivindicações como fruto de ação partidária porque esse comportamento interdita o diálogo.

Em se tratando de educação, a prática se agrava, pois sabemos que os professores são verdadeiros heróis há décadas e precisam de apoio, investimentos e abertura permanente ao diálogo.

Em última análise, é um absurdo um governante não se dispor a negociar com os grevistas; muitas vezes é apenas a ponta do iceberg de um problema mais profundo.

A bandeira por um salário condizente com o esforço dos professores é de toda a sociedade, que defende ainda investimentos no aperfeiçoamento da formação dos docentes.

Sem esse avanço, não teremos condições de preparar nossos jovens para o futuro. O que se quer é ampliar de forma consistente a qualidade do ensino, dificuldade mais grave nas redes públicas estaduais. Esse problema é de inteira responsabilidade do governador e resolvê-lo é algo que o cargo exige.

Virar as costas às reivindicações dos trabalhadores ou, pior, usar de artifícios de espionagem só vai agravar o problema.

A população percebe quando as reivindicações são exageradas, mas esse não é o caso dos professores mineiros. Afinal, o que eles pedem é o básico: um salário digno e o cumprimento da lei do piso nacional.

Nenhum comentário: