* Ex-ministro da Casa Civil
Não é novidade que os governos do PSDB sempre enfrentam
dificuldades no relacionamento com os movimentos sociais e com o funcionalismo.
Em São Paulo, o ex-governador José Serra chegou ao cúmulo de
colocar a Polícia Militar para conter, com violência, as manifestações da
Polícia Civil por melhores condições de trabalho. O mesmo foi feito com outras
categorias.
Como se vê agora em Minas Gerais, a prática é uma constante
dos tucanos. Recentemente, descobriu-se que, em meio à greve dos professores da
rede pública mineira de ensino, viaturas policiais de placas reservadas e
agentes à paisana chegaram a ficar em frente à sede do sindicato dos
professores para espionar suas lideranças, num frontal desrespeito ao direito
de greve.
A se confirmar essa informação, estaremos diante de uma
aberração no tratamento do funcionalismo e de um ato arbitrário, inconcebível
em um Estado Democrático de Direito. Afinal, o direito de greve é assegurado na
Constituição e avalizado por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Assim,
jamais uma greve poderia ser encarada como assunto para espionagem.
Na pauta de reivindicações dos professores, está a adoção do
piso nacional instituído no governo Lula, de R$ 1.187 para 40 horas semanais. O
problema é que o governo de Antonio Anastasia, como é praxe dos governos do
PSDB, contabiliza as gratificações e nem assim atinge o piso nacional
determinado por lei.
Ao não atender à legislação, acaba por empurrar os
professores para a paralisação. O prejuízo maior é da sociedade, com cerca de 1
milhão de estudantes sem aulas e desgaste na relação professores-governo.
É lamentável que os tucanos encarem tais reivindicações como
fruto de ação partidária porque esse comportamento interdita o diálogo.
Em se tratando de educação, a prática se agrava, pois
sabemos que os professores são verdadeiros heróis há décadas e precisam de
apoio, investimentos e abertura permanente ao diálogo.
Em última análise, é um absurdo um governante não se dispor
a negociar com os grevistas; muitas vezes é apenas a ponta do iceberg de um
problema mais profundo.
A bandeira por um salário condizente com o esforço dos
professores é de toda a sociedade, que defende ainda investimentos no
aperfeiçoamento da formação dos docentes.
Sem esse avanço, não teremos condições de preparar nossos
jovens para o futuro. O que se quer é ampliar de forma consistente a qualidade
do ensino, dificuldade mais grave nas redes públicas estaduais. Esse problema é
de inteira responsabilidade do governador e resolvê-lo é algo que o cargo
exige.
Virar as costas às reivindicações dos trabalhadores ou,
pior, usar de artifícios de espionagem só vai agravar o problema.
A população percebe quando as reivindicações são exageradas,
mas esse não é o caso dos professores mineiros. Afinal, o que eles pedem é o
básico: um salário digno e o cumprimento da lei do piso nacional.
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