Em encontro internacional sobre afrodescendentes neste
sábado (19), em Salvador, a presidente Dilma Rousseff disse que a pobreza no
Brasil tem a face "negra" e "feminina". Ela participou do
Encontro Iberoamericano de Alto Nível, com a participação de líderes da América
Latina, Caribe e África.
“O combate à pobreza e a geração de empregos [...] são
importantes fatores de inclusão social dos afrodescendentes até porque, no
Brasil, a pobreza tem duas faces: negra e feminina e muitas vezes até
infantil”.
Dilma disse que o objetivo de seu governo é “resgatar essas
populações” e destacou o programa "Brasil sem miséria". O plano visa
“superar a extrema pobreza” e retirar 16 milhões de brasileiros que vivem em
situação de miséria.
“Nós temos o compromisso de buscá-los e retirá-los da
pobreza. Não é mais as populações correndo atrás do Estado, é o Estado correndo
atrás dos negros e negras do país, dos brancos e brancas e dos índios que vivem
em estado de extrema pobreza”.
Em discurso no Palácio Rio Branco, na capital baiana, Dilma
ressaltou a importância da América Latina e da África para a formação do que
chamou de “biodiversidade cultural” brasileira.
“Nossa biodiversidade cultural talvez seja uma das maiores
riquezas do Brasil e eu acho que nós, de fato, estamos aqui num encontro entre
dois continentes, América Latina e Caribe de um lado e África de outro. Essa
diversidade cultural nos une, nos define e nos enriquece”.
Ela afirmou que as mulheres negras são “duplamente
reprimidas ao longo da história por seu gênero e sua raça” e, em tom de humor,
disse que as políticas afirmativas do governo visam as mães de família, porque
elas são “incapazes” de gastar benefícios como o Bolsa Família “no bar da
esquina”.
“Sabemos, sem ter uma posição de detrimento aos nossos
companheiros homens, que as mulheres são incapazes de receber os rendimentos e
gastar no bar da esquina", disse.
Crise
Dilma Rousseff lembrou que os países vizinhos da América
Latina, juntamente com o Brasil, “sempre sofreram as mesmas mazelas”, como
estagnação da economia e recessão. Esse cenário, contudo, mudou na opinião da
presidente.
“Somos hoje um dos continentes que mais cresce, mesmo
considerando que a crise [...] - que é sobretudo uma crise do descontrole dos
bancos e das relações financeiras internacionais - pode ter algum feitos sobre
nós”.
A presidente aproveitou para dizer que a crise financeira
mundial “não é de nossa responsabilidade”, mas poderá “prejudicar nossas
conquistas sociais e agravar as dificuldades sociais e raciais em todo o
mundo”.
Ela lembrou que os países da América Latina e da África têm
“longa prática” na tomada de empréstimos com o Fundo Monetário Internacional
(FMI), experiência que, segundo disse, “não é boa”.
“Todos nos temos uma longa pratica em relação ao FMI e não é
uma boa experiência. Tivemos a possibilidade de crescer com os nossos pés
quando conseguimos pagar o FMI e não termos mais de aceitar as proposições do
fundo. Mas acho que cada país é um país. Nós levamos 20 anos, espero que os
outros países levem menos tempo.”
Encontro Iberoamericano
A presidente chegou ao Encontro Iberoamericano de Alto Nível
em comemoração ao Ano Internacional dos Afrodescendentes acompanhada do
governador da Bahia, Jaques Wagner. Os presidentes do Uruguai, José Mujica, do
Cabo Verde, José Carlos Fonseca e da República da Guiné, Alpha Condé, o
primeiro-ministro de São Vicente e Grandinas, Ralph Gonsalves e o
vice-presidente da Colômbia, Angelino Garzón, estavam presentes na reunião.
Após o evento, Dilma recebe as autoridades que participam do
encontro em um almoço no Covento do Carmo, no bairro do Santo Antônio, no
centro da cidade. O cantor Gilberto Gil e a ministra da cultura do Peru, Susana
Baca, fazem uma apresentação musical para o grupo depois do almoço.
Ainda nesta tarde, a presidente do Brasil participa de
encontros bilaterais com com os chefes de estado que estão na capital baiana
para o Afro XXI. Dilma está em Salvador desde sexta-feira (18). Ela chegou à
capital baiana por volta das 15h para participar da cerimônia de lançamento do
PAC Mobilidade Grandes Cidades.
De acordo com o Itamaraty, o objetivo principal do encontro
é "dar maior visibilidade às contribuições sociais, culturais, políticas e
econômicas dos afrodescendentes aos países da América Latina e do Caribe".
Os líderes pretendem ainda debater políticas públicas estratégicas de inclusão
dos afrodescendentes "nos diversos contextos nacionais".
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