segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Incluir negros no Bolsa Família ajuda a combater miséria, diz economista


Brasil tem 16 milhões de pessoas vivendo na pobreza extrema, e 70% são negros

Criar estratégias para localizar e inscrever a população negra em programas de distribuição de renda como o Bolsa Família contribuirá para a diminuição do número dos miseráveis no país. A avaliação é do economista Marcelo Paixão, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).


- É necessário perseguir expressamente um recorte racial. É preciso prestar atenção para ver se a população negra está sendo efetivamente atendida pelo programa porque, muitas vezes, a baixa autoestima faz com que [os negros] não se sintam merecedores.

Vivendo com renda igual ou menor a R$ 70, os indigentes brasileiros somam 16,2 milhões de indivíduos - cerca de 8,5% da população -, dos quais 70,8% são negros, de acordo com o Censo 2010, elaborado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Paixão aponta a ausência de estratégias específicas para incluir a população negra programas de transferência de renda.


O economista defende a importância do Bolsa Família no combate à pobreza. O especialista avalia que, somado ao crescimento econômico e à geração de emprego, o programa ajudou a reduzir diferenças sociais.

O professor destaca o acesso a uma alimentação mais saudável pela famílias de negros, como atesta o Relatório Anual das Desigualdade Raciais no Brasil 2009-2010. Publicado pelo Instituto de Economia da UFRJ, o documento tem o professor como um de seus principais autores.

O relatório mostra que entre os beneficiários do Bolsa Família, os negros são maioria entre as famílias que passaram a ter mais alimentos (75,7%) e entre os que ampliaram a compra de gêneros infantis (64,2%). Os percentuais de famílias brancas são de 70,1% e de 60,9%, respectivamente.

É o caso da diarista Ana Lúcia Melchiades, de 41 anos de idade, autodeclarada parda. Moradora de Caxambi, zona norte do Rio, é separada e vive em uma casa de um cômodo (que divide entre quarto, cozinha e banheiro) com os sete filhos, entre 6 anos e 23 anos de idade.

Beneficiária do Bolsa Família há quase oito anos, ela diz que o dinheiro extra ajuda na compra de frutas e legumes.

- A gente tem que comprar um monte de coisas, roupas, sapatos e, às vezes, não dá para ter tudo.

Segundo Marcelo Paixão, embora seja mais fácil encontrar pessoas como Ana Lúcia em áreas urbanas, onde estão 53,3% dos miseráveis do país, é preciso avançar na identificação dos miseráveis negros no campo.

- Eles podem estar concentrados em comunidades de remanescentes de escravos, ou não. Tem que ir lá.

Segundo estimativa do IBGE, a área rural concentra 15,6% da população brasileira e 46,7% dos indigentes - ou seja, um em cada quatro moradores.

Elaborado com base em dados estatísticos do governo e de institutos de pesquisa, o relatório também traçou um perfil dos beneficiários do Bolsa Família.

O estudo revela que, no programa, os negros estão em maior número entre as famílias com mais de cinco pessoas (48,7% ante 41,2% de brancos); morando em um cômodo ou barraco (2,4% ante 1,5%) e com iluminação proveniente de "outras fontes" sem ser a elétrica ou de gerador (3,4% ante 2%).

Para Paixão, "a população negra herda um background pior do que as famílias brancas e têm mais dificuldade de sair da pobreza".

- A questão é: em uma vida herdando uma situação de miséria, qual a capacidade que esse grupo tem de sair dessa situação de privação?

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