Sem graça, Narloch foi fisgado pela própria inconsistência e
por uma necessidade fantasiosa de acreditar no que quer, como quando diz que o
'capitalismo é o que de melhor já aconteceu na história da humanidade'.
Nem as batatas cubanas ficaram de fora da mais animada e
polêmica entre as mesas da 7ª Festa Literária Internacional de Pernambuco
(Fliporto), que reuniu, em Olinda, os jornalistas Fernando Morais, Leandro
Narloch e Samarone Lima. O tema proposto era América Latina para o bem e para o
mal e Cuba dominou boa parte da conversa. A segunda parte do debate ficou
concentrada nos dois livros de Narloch, o Guia Politicamente Incorreto do
Brasil (hoje, o quinto mais vendido no Brasil) e o Guia Politicamente Incorreto
da América Latina (Leya).
Quem deu a largada foi o moderador Vandek Santiago. Ele
questionou o jornalista sobre as fontes usadas na produção do livro, entre as
quais estavam "as más línguas" em capítulo sobre o relacionamento de
Perón, na Argentina, com jovens meninas.
Morais se juntou ao debate quando Narloch disse que
"vários" cubanos desertaram durante os Jogos Pan-Americanos do Rio,
em 2007. "Foram dois", respondeu. Em outro momento, Narloch afirmou
que as conquistas nas áreas econômica e de saúde não valeram a pena para Cuba,
o que mereceu o deboche de Morais. "Essa fala me lembrou Nelson Rodrigues,
que era um grande dramaturgo e um péssimo político, e que disse que preferia a
liberdade ao pão. Pergunte a uma mãe que está enterrando o filho de cinco anos
por desnutrição o que ela pensa disso", disse Morais, que tinha acabado de
citar dados da Unesco que mostram que Cuba tem o menor índice de mortalidade
infantil entre os países concentrados do sul dos Estados Unidos à Patagônia.
Mais um pouco de conversa sobre liberdade e Cuba e a atenção
voltou para Narloch. Fernando Morais, que não leu o livro mas acompanhou
algumas entrevistas do autor, mencionou o caráter marqueteiro das obras. O
autor chegou a comentar em uma dessas entrevistas que tinha começado a coleção,
que terá um novo volume sobre a história do mundo, para ganhar algum dinheiro.
"Estou em pânico. Passei a faculdade lendo Fernando Morais e agora estamos
quebrando o pau".
"Leandro Narloch se reconhece como uma pessoa de
direita. Em um país onde Paulo Maluf se diz de centro-esquerda, alguém de 30 e
poucos anos se assumir de direita é de uma honestidade política",
comentou. "Mas seus livros deveriam ter uma errata dizendo que eles se
chamam Guias Politicamente Corretos porque estão remando a favor da maré e
absolutamente a favor do vento que sopra na imprensa, especialmente na Revista
Veja", completou.
Samarone Lima, que trazia um dos exemplares cheios
"post-it", disse que encontrou uma série de problemas no livro, mas
que o principal dizia respeito ao capítulo dedicado ao general Augusto Pinochet.
"É de uma inconsistência dolorosa. Nós, jornalistas, trabalhamos com
fontes. Você não pode escrever sobre Pinochet usando como fonte um livro
lançado pelo governo golpista", disse Lima, que encontrou 12 referências
ao tal livro oficial no capítulo.
Enquanto Lima procurava outra passagem, Narloch, já sem
graça com a repercussão que seu trabalho tinha ganhado naquele painel, brincou:
"Acabou, não dá mais tempo." Mas deu. Ainda desconfortável, perdeu o
fio da meada e foi vaiado quando, mais calmo, também citou Nelson Rodrigues:
"Quem não é socialista com 20 anos não tem coração. Quem é com 40 não tem
cérebro."
Foi então a vez dele contestar uma informação publicada por
Morais sobre o episódio das larvas jogadas pela governo americano nas
plantações de batatas em Cuba. "Use um pouco do dinheiro que você ganha
com direitos autorais e vá até os Estados Unidos checar isso. Nós não vamos
ficar aqui brigando pelas batatas cubanas", finalizou Morais. (Vídeo abaixo)
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