A crise econômica que atinge diversos países europeus já
derrubou nove governos desde 2009. O último a cair foi o do primeiro-ministro
espanhol José Luis Rodriguez Zapatero (socialista), derrotado nas eleições
parlamentares desse domingo pelo Partido Popular (conservador), liderado por
Mariano Rajoy.
Insatisfeitos com a maneira como os governos administram a
crise, os eleitores foram às urnas e mudaram os governos de Islândia,
Dinamarca, Grécia, Grã-Bretanha, Holanda, Irlanda, Portugal e Espanha.
Fora das urnas, a pressão recaiu sobre os governos centrais
de Grécia e Itália, que caíram neste ano em pleno mandato, sendo substituídos
por tecnocratas.
A situação atual da política europeia foi definida pelo
presidente da França, Nicolas Sarkozy, como "resultado da anarquia que
reinou nos mercados financeiros
".
O desabafo surgiu depois da derrota nas eleições regionais
de 2010. "O capitalismo financeiro nos levou ao desastre. A crise teve
efeitos devastadores no mercado de trabalho", disse Sarkozy.
Analistas apostam que a França, que terá eleições nacionais
em 2012, pode ser a próxima a mudar. As pesquisas de intenção de voto são
lideradas pelo socialista François Hollande, rival de Sarkozy na disputa.
'MAIOR SENSIBILIDADE'
Desde a chegada da crise na Europa, os governos tiveram de
enfrentar tanto a pressão dos mercados financeiros quanto a reação da
população.
Segundo relatório do Conselho Europeu (órgão oficial da
União Europeia) de 2010, "os sinais de protestos políticos obrigam os
governos a pesar com grande sensibilidade as soluções para administrar a
crise".
Estas soluções parecem ter sido pouco aceitas pelos
eleitores. Segundo analistas, os cidadãos rejeitam os pacotes econômicos
austeros recomendados pelos mercados e aplicados pelos governos, tendo como
resultado a insatisfação declarada nas urnas.
Com a vitória dos conservadores, analistas espanhóis
questionam: a crise elegeu os conservadores ou castigou os socialistas? Qual
governo sob tanta pressão econômica pode resistir a uma eleição? E o que o
futuro primeiro-ministro Mariano Rajoy pode fazer para contornar a crise?
A maioria afirma que a questão econômica foi determinante
para a derrota dos socialistas. Para especialistas, o governo de Zapatero seria
castigado pela administração da crise, fosse quem fosse o candidato rival.
No caso espanhol, a penalização se transformou em 30% de
abstenções e na partilha de votos aos partidos minoritários, que quadruplicaram
seus resultados. O Partido Popular obteve maioria absoluta em todas as regiões,
exceto Catalunha e País Basco, dominados por grupos locais separatistas.
Segundo a mídia espanhola, um dos coordenadores de campanha
do Partido Popular, o sociólogo Pedro Arriola, disse nesse domingo, na sede do
partido, que, "nas eleições, os perdedores são sempre os governos. Não é a
oposição a que ganha".
MAIORIA ABSOLUTA
Nesse quadro de crise, nem mesmo ter a maioria absoluta no
Parlamento é garantia de tranquilidade para os governos --é o que acreditam
analistas e líderes políticos, como o ex-primeiro ministro Felipe González, o
mais votado da história espanhola (obteve maioria com 202 dos 350 deputados).
"(O ex-premiê italiano Silvio) Berlusconi tinha maioria
absoluta e caiu. (O ex-premiê grego George) Papandreou tinha maioria absoluta e
caiu. Isso hoje é uma grande coisa, claro. Mas não representa uma garantia de
ser intocável com o temporal que está caindo", afirmou González.
A maioria obtida por Rajoy no Parlamento é tão significativa
(186 deputados) que ele poderá governar praticamente sem precisar negociar com
a oposição.
As medidas a serem tomadas contra a crise são precisamente a
principal incógnita, até para o eleitorado conservador. O candidato eleito
nunca deixou claro o programa com o qual pretende tirar o país do vermelho.
A pouca clareza nas propostas rendeu críticas a Rajoy,
dentro e fora da Espanha. No entanto, ele parece consciente de que os mercados
vão pedir atitudes. Em seu primeiro discurso após a vitória, ele pediu unidade
a todos os espanhóis e avisou que "não haverá milagres". Ele
acrescentou que milagres não eram promessa de campanha".
As respostas devem chegar às vésperas do Natal. Em 13 de
dezembro, o Congresso convocará os deputados eleitos para a constituir o novo
Parlamento e, então, nomear Rajoy como primeiro-ministro, que poderá assumir
uma semana depois, ou no início de janeiro.
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